Destaque

Subnutrição em crianças yanomami preocupa pesquisadores da Unicamp

Fonte

Jornal da Unicamp

Data

domingo, 5 maio 2024 11:30

Atualmente, entre todos os povos indígenas das Américas, as crianças yanomami são as principais vítimas de subnutrição severa. Segundo dados do governo federal, o índice ficou em 52% em 2022 (a média global é de 29%). Os impactos dessa condição não se limitam ao seu bem-estar no presente, tornando-as, quando adultas, mais propensas a enfrentar doenças cardiovasculares e metabólicas, além de distúrbios cognitivos e de personalidade. Portanto, não basta combater a fome dessas crianças agora: é preciso investir em ações para acompanhar seu desenvolvimento a longo prazo. O alerta foi a conclusão de um artigo publicado no portal da revista científica Nature Medicine pelos pesquisadores Dr. Everardo Carneiro, Dra. Ana Paula Davel e o Dr. Thiago Araújo, do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC, na sigla em inglês) do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.

Professor do IB, Dr.Everardo Carneiro afirma que a privação de nutrientes na primeira infância – fase da vida em que os órgãos ainda estão em desenvolvimento – relaciona-se com a redução da capacidade de secreção de insulina, à intolerância à glicose e a alterações no funcionamento e na estrutura dos vasos sanguíneos. Modificações no sistema nervoso central e a redução do tamanho do cérebro são outras das possíveis consequências desse problema. “A subnutrição pode se reverter em patologias chamadas marasmo e kwashiorkor, que levam a um comprometimento geral do organismo. Se a pessoa sobrevive e chega à fase adulta, isso vai repercutir em doenças como a obesidade, porque essa pessoa passou a ingerir carboidrato em excesso, ou a hipertensão, pois seus vasos sanguíneos são afetados. Também há perda de capacidade neuronal”, explicou o pesquisador.

Os pesquisadores destacam, na publicação, a relação entre o estado de desnutrição das crianças yanomami e o desmatamento, reforçando a importância de atuação coletiva global para a preservação das áreas de floresta. A intensificação das queimadas e o avanço de garimpeiros e madeireiros ilegais sobre o território dessa população indígena – que compreende uma área dividida entre o norte do Brasil e a Venezuela – diminuíram sua oferta de alimentos. “Em quatro anos, uma área maior que a do Estado do Rio de Janeiro foi desmatada no seu território. Esse é um impacto muito grande. Por se tratar de um povo que vive dos recursos naturais, e que, portanto, alimenta-se basicamente da caça, a desnutrição proteica é um dos problemas mais graves, sem falar na contaminação dos rios cuja água eles bebem”, explica Araújo, pós-doutorando no OCRC.

O artigo resulta de uma análise realizada com base nas pesquisas sobre desnutrição desenvolvidas no OCRC nos últimos 30 anos e em dados sobre a crise humanitária instalada no território yanomami desde 2019. Para avaliar as possíveis consequências da privação nutricional enfrentada por essas crianças, os doutores Carneiro, Davel e Araújo recuperaram dados de estudos empreendidos na Holanda com pessoas que enfrentaram a fome durante a Segunda Guerra Mundial e que foram beneficiadas posteriormente por políticas de combate à subnutrição. Na sequência, traçaram um paralelo entre as conclusões dos estudos holandeses com a situação atual dos Yanomami – hoje foco de uma ação do governo federal que tem por objetivo, entre outros pontos, melhorar sua alimentação.

“As informações que levantamos sobre populações pregressas [holandesas, da década de 1940], aliadas aos nossos dados experimentais, mostram que, embora o governo brasileiro de hoje esteja tomando medidas para restabelecer o status nutricional dessas crianças yanomami, futuramente elas podem ter maior susceptibilidade a uma série de doenças. Mesmo que, após 30 anos, estejam com a saúde aparentemente perfeita e tenham uma dieta idêntica a de quem não sofreu de subnutrição”, observou a Dra. Davel. Portanto, ao contrário do que se possa imaginar, os danos da subnutrição aguda não desaparecem completamente quando o indivíduo passa a se alimentar adequadamente. “Essa população precisa de acompanhamento. É necessário estudar o que está acontecendo e o que vai acontecer no futuro, porque ainda há muito o que descobrir”, completou a docente.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unicamp.

Fonte: Mariana Garcia, Jornal da Unicamp.

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