Notícia

Aposta em commodities é um erro, alerta FAO-ONU

Prognóstico é de produção toda concentrada no Mercosul, quando o padrão de alimentação no mundo está em transformação

Antonio Scarpinetti, Jornal da UNICAMP

Fonte

Jornal da UNICAMP | Jornal da Universidade Estadual de Campinas

Data

quinta-feira, 2 agosto 2018 10:30

Áreas

Agricultura. Agronegócio. Agronomia

“Projetar o consumo da demanda de commodities agrícolas pari passu com o crescimento da população me parece um erro”, alerta o Prof. Dr. José Graziano da Silva, da Unicamp e reeleito diretor-geral da FAO até julho de 2019. Ele, que compareceu de surpresa ao 56º Congresso da Sober (Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural), sediado pela Unicamp, argumenta que está em curso no mundo uma transformação muito profunda no padrão de alimentação e nos sistemas agroalimentares, com a diferenciação de produtos, a criação de pequenos nichos de mercado e a opção por circuitos curtos de transporte, valorizando assim a capacidade de produção local.

Convidado a participar da mesa sobre “O papel dos setores público e privado no financiamento da agropecuária brasileira”, o Dr. José Graziano desculpou-se por fugir do tema para ilustrar as transformações no padrão alimentar da população. “A agricultura representou uma etapa em que a humanidade pôde assegurar a alimentação sem depender do dia a dia do caçador que saía em busca do alimento. A agricultura teve papel fundamental para diminuir o esforço pela sobrevivência.”

O diretor da FAO – a Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura – observa que hoje em dia, no entanto, pode-se afirmar que a agricultura contribui cada vez menos para a alimentação do ser humano. “Falo da agricultura stricto sensu, de cultivos. Temos outros setores de produção de alimentos, como a pesca, que têm crescido substancialmente. Isso produz uma grande diferença quando se pensa no que acontecerá no futuro: a imagem de que o objetivo é a alimentação e não propriamente a agricultura; não é o modo de produção, é o alimento em si.”

Ainda para justificar sua crítica à estratégia de commodities, o Prof. Graziano dá o exemplo do suco de laranja, produto sobre o qual o Brasil mantinha liderança absoluta no mercado externo. “De repente, em função do teor de açúcar e dos aditivos, o produto perdeu completamente o espaço para a laranja espremida, para o suco feito na hora. E é essa a tendência: de crescimento do consumo de laranja in natura e não mais de plantações para commodity.”

O dirigente da FAO informa que a organização da ONU acabou de divulgar um prognóstico para os próximos 10 anos, com a conclusão pessimista de que, nesse futuro próximo, o crescimento da demanda por alimentos vai acompanhar o crescimento populacional. “O grande impacto do crescimento da renda sobre o consumo médio já passou, inclusive na China. Isso significa que a transição para a dieta mais proteica já ocorreu em grande parte, e que agora voltamos ao ritmo de crescimento que depende do volume do estômago.”

É neste ponto, segundo o docente da Unicamp, que a humanidade enfrenta uma epidemia mais grave que a da fome, com impacto no mundo todo, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento: a obesidade. “O problema da fome está equacionado, pois sabemos onde está e sabemos por quê: atinge basicamente as regiões de conflito e de seca, sendo a sobreposição desses dois aspectos explosiva, como no caso dos países do Oriente Médio. Já a obesidade vai afetar o futuro da alimentação de uma maneira que ainda não conseguimos equacionar e resolver.”

Outro ponto destacado pelo Dr. José Graziano é a concentração da produção de commodities, que também consta no relatório da FAO. “O mapa do mundo hoje mostra que a produção está concentrada quase que totalmente no Mercosul, é onde está crescendo, enquanto em outras regiões cresce menos ou até diminui. O Mercosul tem retomado a liderança das commodities em todos os setores, de grãos a carnes. Soube que aqui [no Congresso da Sober] serão discutidos os dados do Censo Agropecuário sobre a expansão da produção de grãos e de outras culturas no Brasil aproveitando a área da pecuária.”

Acesse a notícia completa na página do jornal da UNICAMP

Fonte: Luiz Sugimoto, jornal da UNICAMP. Imagem: Antonio Scarpinetti, jornal da UNICAMP.

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