Notícia

Uma farinha proteica à base de grilos

Cientista ouviu a opinião de 780 consumidores de todo o país sobre o consumo de insetos

Felipe Bezerra, Divulgação Jornal da Unicamp

Fonte

Jornal da Unicamp

Data

terça-feira, 19 setembro 2023 06:05

Áreas

Biotecnologia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Engenharia de Alimentos. Nutrição Coletividades. Sustentabilidade

Por que comer insetos?

Para responder a essa questão, baseando-se na ciência, o cientista de alimentos o Dr. Antonio Bisconsin Junior defendeu a tese de doutorado ‘Insetos Comestíveis: Estudo do Consumidor e Desenvolvimento de Ingrediente Alimentício’, na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Orientado pela professora Dra. Lilian Regina Barros Mariutti, o pesquisador, que é professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (Ifro), investigou o que os brasileiros pensam sobre a possibilidade de comer insetos e descobriu haver uma preferência por grilos, bem como uma maior aceitação dessa alternativa por parte de consumidores do Norte e do Centro-Oeste do país. Em sua tese, o Dr. Antonio Bisconsin também pesquisou as vantagens do alimento e produziu uma farinha proteica de grilos – uma espécie de whey protein –, desenvolvida com tecnologias emergentes não térmicas, em parceria com o Instituto Leibniz para Tecnologia Agrícola e Bioeconomia (Alemanha). Ele acredita que a ingestão de insetos pelos seres humanos, uma prática iniciada na era paleolítica, pode vir a fazer parte da alimentação da maior parte das pessoas no futuro.

De acordo com a orientadora da tese, além dos resultados inéditos, o trabalho também pode contribuir para a elaboração de uma legislação, até hoje inexistente no Brasil, sobre a utilização de insetos como alimento humano. “Há subsídios na pesquisa para que seja criada uma política pública pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] a fim de regulamentar a criação de insetos. Esses são dados importantes para a indústria e para a academia”, disse a Dra. Lilian Mariutti. Já existe, no país, em pequena escala, a criação de insetos para consumo animal.

A antropoentomofagia – uso de insetos na alimentação humana – começou na época dos hominídeos. Apesar de a prática parecer exótica aos olhos da população urbana ocidental do século XXI, os insetos já chegaram às mesas de restaurantes premiados do Brasil e fazem parte da cultura de diversas etnias dos povos originários brasileiros, assim como são comuns, por exemplo, na Tailândia – com seus espetinhos de grilo – e no México, onde são vendidos a granel.

Os insetos já fazem parte do cardápio de quase 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). “Os maiores obstáculos para inseri-los maciçamente na alimentação humana são culturais e psicológicos”, afirmou o Dr. Antonio Bisconsin. Natural de Rondônia, ele lembra que, na infância, já sabia da existência desse hábito entre os povos originários, embora os insetos não integrassem a sua dieta.

Saudável e sustentável

Hoje, no entanto, o pesquisador enumera os vários motivos para considerarmos os insetos uma alternativa alimentar para a população mundial. Dois deles destacam-se como os mais fortes: o primeiro está relacionado à qualidade nutricional; e o segundo, à sustentabilidade. Na comparação com as carnes bovina, suína, de frango e de peixe, predominantes no cardápio da população ocidental, os insetos possuem altos teores de proteína. Além disso, descreve o cientista, trata-se de “um alimento com proteína de boa qualidade, com lipídios saudáveis e fibra insolúvel que pode ajudar no trato intestinal. Eles têm todos os aminoácidos de que necessitamos na dieta, ao contrário dos produtos de origem vegetal”.

As vantagens enumeradas pela pesquisa não param por aí. Para fornecer a mesma quantidade de proteína produzida pelas criações de animais convencionais, os insetos demandam menos alimento, menos água e menos espaço, além de produzirem uma quantidade muito menor de gases causadores do efeito estufa. O impacto ambiental, portanto, é muito menor.

Graduado em Ciência dos Alimentos pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), o Dr. Antonio Bisconsin fala que se interessou pelo tema depois da publicação de um relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) em 2013, que causou forte impacto sobre o assunto mundialmente. O relatório apresentava o uso de insetos na alimentação humana como alternativa para auxiliar no combate à fome no planeta. O interesse despertado pelo documento deu origem a um congresso internacional e a uma revista científica especializada no tema.

Pesquisa de consumo

O estudo do Dr. Antonio Bisconsin foi dividido em duas partes. A primeira apresenta os resultados de uma pesquisa que ouviu 780 pessoas de todas as regiões do país, com entrevistas presenciais realizadas por uma rede de colaboradores formada por professores da Unicamp e de outras universidades e institutos de pesquisa. Esses colegas pesquisadores saíram às ruas com prancheta nas mãos. “Foram seis meses de coleta, no período pré-pandemia, em oito Estados diferentes.”

O método utilizado na pesquisa foi o de associação livre de palavras, com perguntas como: “Quando eu digo alimento feito com insetos, o que vem à sua mente?”. Na resposta, o entrevistado deveria citar até cinco palavras ou termos relacionados ao assunto. A pessoa falava o que vinha à sua mente. “Na análise, confirmamos que a grande maioria associa a ideia de comer insetos a algo nojento”, disse o Dr. Antonio Bisconsin.

A pesquisa revelou, ainda, que as pessoas das regiões Norte e Centro-Oeste tendem a ter uma visão mais positiva sobre os insetos comestíveis que as pessoas do Sul, Sudeste e Nordeste. “Verificamos essa familiaridade principalmente por causa da cultura regional, mais próxima dos povos originários”, disse o pesquisador. O perfil da maioria que aprovou a alternativa alimentar era jovem, com grau de escolaridade maior e do gênero masculino. O estudo de consumidor também contou com a participação do professor Dr. Jorge Herman Behrens, do Departamento de Ciência de Alimentos e Nutrição (Decan) da FEA.

Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unicamp.

Fonte: Adriana Vilar de Menezes, Jornal da Unicamp. Imagem: Felipe Bezerra, Divulgação Jornal da Unicamp.

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