Notícia

Dieta rica em ácido palmítico promove a metástase do câncer e deixa uma “memória” mais agressiva nas células tumorais

Fonte

IRB Barcelona | Instituto de Pesquisa em Biomedicina de Barcelona

Data

quinta-feira, 11 novembro 2021 11:25

Áreas

Nutrição Clínica. Saúde Pública

Pesquisadores do IRB Barcelona publicaram na revista científica Nature o mecanismo pelo qual o ácido palmítico da dieta (e não o ácido oleico ou linoléico) favorece a expansão do tumor.

As células tumorais temporariamente expostas a uma dieta rica em ácido palmítico desenvolvem um perfil mais agressivo que perdura como uma forma de “memória” celular.

Esse perfil mais agressivo impulsiona a ativação das células de Schwann associadas ao tumor e a secreção de um tecido extracelular que, quando bloqueado, impede a capacidade metastática do tumor.

90% das mortes por câncer são causadas por metástases, ou seja, a disseminação do tumor primário para outros órgãos. Cientistas liderados pelo pesquisador do ICREA, Dr. Salvador Aznar-Benitah, do Instituto de Pesquisa em Biomedicina de Barcelona (IRB Barcelona), na Espanha, ​​descreveram o mecanismo pelo qual uma dieta rica em ácido palmítico torna as células tumorais mais agressivas, conferindo-lhes maior capacidade de metástase.

Os autores identificaram vários marcadores de “memória” deixados nas células tumorais após a exposição ao ácido palmítico: uma alteração que faz com que as células conservem maior capacidade metastática, mesmo meses após a exposição ao ácido graxo e que pode estar relacionada a uma maior capacidade dessas células tumorais para promover a inervação.

“Em 2017, publicamos um estudo indicando que o ácido palmítico se correlaciona com o aumento do risco de metástase, mas não sabíamos o mecanismo responsável por isso. Neste estudo, detalhamos o processo e revelamos o envolvimento de um fator de “memória” da capacidade metastática e apontamos uma abordagem terapêutica para revertê-lo. Isso é promissor ”, disse o Dr. Aznar-Benitah.

A “memória” metastática do ácido palmítico

Neste trabalho, células tumorais orais e melanomas de pacientes foram expostos a uma dieta rica em ácido palmítico. Quando transplantados em camundongos, observou-se que eles apresentaram maior capacidade de metástase, mesmo quando essa dieta foi administrada por um curto período antes da transferência. As alterações do genoma (conhecidas como modificações epigenéticas) das células metastáticas causadas pelo ácido graxo são permanentes e, consequentemente, as células mantêm as propriedades mais “agressivas” de forma estável. Os autores descrevem esse comportamento como uma “memória estável”.

Nossos resultados indicam que uma dieta rica em óleo de palma favorece o desenvolvimento do câncer, mesmo que a exposição a esse ácido graxo ocorra em um estágio muito precoce da doença, em que o tumor primário ainda não tenha sido detectado. Os cientistas observaram que essa capacidade expansiva e colonizadora é adquirida pelo consumo do ácido palmítico (predominante no óleo de palma), mas não do ácido oleico (abundante no azeite de oliva) ou do ácido linoleico (característico da linhaça). Esses resultados sugerem que a agressividade está ligada não apenas ao metabolismo da gordura, mas também às modificações epigenéticas que ocorrem nas células tumorais em resposta à exposição ao ácido palmítico.

Inervação do tumor: a chave para sua disseminação

Para que uma célula tumoral tenha metástase, primeiro ela deve se desprender do tumor de origem, entrar na corrente sanguínea ou no sistema linfático, alcançar outro órgão e sobreviver e crescer lá. Neste estudo, os autores identificaram que uma dieta rica em ácido palmítico permite que as células tumorais formem uma rede neural ao redor do tumor.

As células tumorais com a capacidade mais metastática (ou seja, com memória) obtêm a capacidade de atrair o sistema nervoso, e a rede neural que se forma ao redor do tumor produz um ambiente regenerativo, que as células usam com vantagem para crescer e se espalhar.

Retardando a metástase através do bloqueio das células de Schwann

Um dos elementos-chave na formação da rede neural que favorece a metástase são as chamadas células de Schwann, que circundam e protegem os neurônios. O estudo publicado na revista Nature demonstra que várias abordagens para bloquear as células de Schwann inibem o desenvolvimento dessa rede neural, evitando assim a metástase.

“Esta descoberta abre caminho para a pesquisa e o desenvolvimento de terapias que bloqueiam especificamente a metástase do câncer, um processo que quase sempre é a causa da morte por câncer”, conclui a Dra. Gloria Pascual, pesquisadora associada do laboratório de células-tronco e câncer em IRB Barcelona e co-autora do artigo junto com a Dra. Diana Domínguez.

Este trabalho foi realizado utilizando as mais recentes tecnologias de sequenciamento de RNA unicelular e sequenciamento de RNA posicional, o que permitiu a caracterização detalhada da composição das células distintas que formam o tumor. Esta é uma das primeiras vezes que a tecnologia de sequenciamento de RNA posicional foi usada para estudar a composição celular das metástases.

O estudo contou com a colaboração do grupo liderado pelo Dr. Ali Shilatifard (Feinberg School of Medicine – Northwestern University), que co-liderou o trabalho. Os laboratórios do Dr. Holger Heyn (CNAG-CRG), Dr. Ramin Shiekhattar (Silvester Cancer Center, Universidade de Miami), Dra. Coro Bescós (Hospital Vall d’Hebrón) e Dra. Neus Prats (Unidade de Histopatologia, IRB Barcelona) também participou do estudo.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do IRB Barcelona (em inglês).

Fonte: Nahia Barberia, IRB Barcelona. Imagem: Wikimedia Commons.

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