Notícia

Potenciais alimentos funcionais e plantas medicinais pesquisados no controle da obesidade e suas comorbidades

Plantas consideradas medicinais e possíveis alimentos funcionais despertam interesse dos nutricionistas

Pixabay

Fonte

UFMS | Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Data

terça-feira, 3 abril 2018 10:30

Áreas

Nutrição Clínica. Nutrição Funcional

O conhecimento empírico do uso de plantas consideradas medicinais e o efeito de possíveis alimentos funcionais para tratamento ou prevenção da obesidade e suas comorbidades desperta interesse dos nutricionistas que enfrentam a preocupante realidade do alto consumo de uma dieta rica em açúcares e gorduras, recheada de produtos industrializados.

Pelo projeto guarda-chuva “Efeitos de plantas típicas da região do Cerrado e Pantanal em modelo experimental de obesidade na síndrome metabólica”, coordenado pela professora do curso de Nutrição Dra. Karine de Cássia Freitas, participam cerca de 20 pessoas em pesquisas com potenciais alimentos funcionais e plantas medicinais.

“No ocidente, com esse consumo excessivo de gordura saturada e carboidratos simples, aliado ao sedentarismo – mais horas em frente ao computador, televisão, as pessoas pouco caminham, as famílias já não deixam seus filhos brincarem nas ruas pela questão da violência em alguns bairros, estamos lidando com muitos casos de obesidade que já se iniciam na infância e com esse excesso de peso há aumento da pressão arterial, desenvolvimento do Diabetes Mellitus Tipo II, esteatose hepática, alterações no colesterol e triglicerídeos, entre outras comorbidades”, expõe a professora.

Tudo isso, despertou o interesse para que professores e acadêmicos de graduação e pós-graduação da UFMS verificassem o potencial de possíveis alimentos funcionais, que têm características para gerar benefícios na prevenção ou tratamento da obesidade e doenças que se associam a esse quadro.

Os alimentos e plantas medicinais estudados são escolhidos por dois motivos básicos: a população já usa para tratar determinada doença – conhecimento empírico ou são alimentos com alguns potenciais já conhecidos e que passam a ser investigados em outros aspectos.

“Como a nossa população, em sua maioria, tem baixo nível sócio-econômico, não tem acesso a médicos e consultas regulares, acabam por recorrer muito a esse tipo de tratamento alternativo, com chás e garrafadas. É importante verificar se há de fato algo verdadeiro, científico, comprovado no uso e se não há risco nesse uso, sendo ainda uma maneira de valorizar a região Centro-Oeste, favorecendo a economia regional e a saúde da população”, diz a Dra. Karine.

Para investigar o potencial tóxico, os testes estão sendo feitos em ratos e camundongos de laboratório, de acordo com recomendações de órgãos internacionais. Já para avaliação do efeito do alimento ou planta em estudo, são utilizadas rações com características próximas à dieta atual do ocidente, rica em gordura (banha de porco) ou dieta de cafeteria, com chocolate, açúcar, bolachas doces, ou seja, uma mistura hipercalórica. E para comparação há sempre um grupo controle, com alimentação normal que manteria a saúde dos animais.

Após um período de 60 a 90 dias, os animais com excesso de peso e com alterações metabólicas são tratados por igual período. Há ainda modelos em que os animais adoecem ao mesmo tempo em que são tratados, protegendo-os do efeito que aquela dieta causaria.

Pensando em um possível fitoterápico, uma das dissertações de mestrado investigou o potencial da folha de graviola. O extrato produzido foi diariamente administrado aos animais, durante três meses após dieta hipercalórica, por meio de gavagem. “Trabalhamos com três doses diferentes para sabermos qual seria a mais efetiva – a partir de apontamentos de estudos anteriores. Segundo literatura, a folha da graviola é a segunda planta mais utilizada pela população – após a carqueja – para tratamento de obesidade e está bem adaptada ao Cerrado”, explica Karine.

A pesquisa de mestrado apontou que os animais que receberam o extrato da graviola apresentaram perda de peso; a análise histológica do tecido adiposo do animal demonstrou células com menor tamanho; houve aumento da produção da interleucina 10, uma citocina anti-inflamatória; também foi registrado redução do colesterol LDL, considerado ruim, assim como do VLDL e dos triglicerídeos e na maior dose do extrato ainda houve aumento do colesterol bom – HDL.

Outra possibilidade, segundo a pesquisadora, é tentar entender dentro desse tipo de extrato, qual o composto que está sendo responsável por esses efeitos. “Temos que fazer uma parceria com a Química, para o isolamento de frações e substâncias, e depois testar novamente. Aí poderíamos partir para estudos em seres humanos com um produto mais efetivo, ou mesmo, um fitoterápico”.

A professora enfatiza que, aliado a prática da atividade física e modificação de hábito alimentar, o extrato de graviola parece colaborar na perda de peso, mas não se pode afirmar que alguém pode tomá-lo por longo tempo sem qualquer toxidade.

A folha da cagaiteira – árvore do cerrado – também foi investigada em pesquisa quanto à possibilidade de tratamento para controle de glicemia e da síndrome metabólica. Após o extrato ser administrado por 21 dias aos animais, os resultados apontaram que não houve redução da glicose, mas melhoraram muito outros parâmetros bioquímicos, com aumento do HDL, e diminuição do índice aterogênico.

Outro alimento pesquisado em dissertação de mestrado foi à amêndoa da bocaiuva liofilizada, ou seja, processo de retirada da umidade para conservação, a qual foi triturada e adicionada à ração dos animais.

O alimento tem alto teor de fibra, 25%, principalmente da fibra insolúvel e tem ácido graxo monoinsaturado – cerca de 30%. Por possuir triglicerídeo de cadeia média – ácido graxo imediatamente oxidável, é uma fonte de energia muito rápida.

“Não percebemos benefícios sobre o peso dos animais, mas houve elevação do HDL e a glicose sanguínea reduziu em um dos grupos que consumiu a amêndoa de bocaiuva”, finaliza a professora.

Outras pesquisas estão em andamento – como análise de compostos extraídos da guavira, e a folha da amoreira, mas para aplicação segura em seres humanos, muitos estudos ainda devem ser realizados.

 

Fonte: UFMS   Imagem: Pixabay

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