Notícia

Pesquisadoras explicam sobre cozimento, consumo e armazenamento da maniçoba

A maniva, a folha moída da mandioca, é o principal ingrediente da maniçoba e costuma ser cozida por uma semana antes de ir pra mesa do paraense

Secretaria de Turismo do Estado do Pará

Fonte

UFRA | Universidade Federal Rural da Amazônia

Data

sexta-feira, 9 outubro 2020 15:10

Áreas

Gastronomia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Nutrição Coletividades

É só chegar o mês de outubro que o cheirinho característico dela começa a invadir as ruas da cidade. Considerada uma das comidas tradicionais paraenses, a maniçoba também é um dos pratos principais do almoço do Círio, tradicional festa católica celebrada no segundo domingo de outubro. Mesmo com a pandemia e sem as aglomerações das procissões, muitos paraenses, católicos ou não, já estão há dias cozinhando esse almoço especial.

Mas como assim, há dias? É que a maniva, a folha moída da mandioca (Manihot esculenta Crantz), é o principal ingrediente da maniçoba e costuma ser cozida por uma semana antes de ir pra mesa do paraense. Tantas horas de cozimento são fundamentais para eliminar o risco de envenenamento pela planta. “O princípio tóxico da planta é o ácido cianídrico (HCN), sua ingestão ou mesmo inalação, representa sério perigo à saúde, podendo ocorrer casos extremos de envenenamento. Considera-se que a dose letal é de aproximadamente 10 mg de HCN por kg de peso vivo”, alerta a professora Dra. Carissa Bichara, coordenadora do curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos da  Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).

Para quem não possui tanto tempo ou disposição para esperar pelos tradicionais sete dias de cozimento, uma opção é a maniva pré-cozida, produto obtido através do cozimento das folhas moídas da mandioca e que precisam apresentar características sensoriais, físico-químicas e microbiológicas específicas. Essas características estão listadas na Instrução Normativa nº 1 de 06 de maio de 2016 da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARA).

“Para obtenção da maniva pré-cozida, esse regulamento preconiza o cozimento da maniva por um tempo mínimo de 50 horas, a uma temperatura de 100 ºC. O uso da maniva pré-cozida veio devido a necessidade de redução da toxicidade das folhas cruas e com o objetivo de eliminar o cianeto, tornando seu consumo bem mais prático, além de ajudar a promover o consumo da maniçoba fora de datas comemorativas”, disse a professora.

Segundo ela, o tempo citado no regulamento é suficiente para atingir a segurança do produto. Mas, ainda que se alcance esse tempo mínimo, o indicado é que a maniçoba fique mais algumas horas no fogo, para apurar o sabor e permitir o acréscimo de condimentos. “O tempo de cozimento influencia diretamente nas características sensoriais da maniçoba. Assim, após a adição dos ingredientes, a continuação do cozimento é importante para a eliminação do sabor característico de folhas verdes e melhoria da palatabilidade, digestibilidade e o desenvolvimento do sabor característico da maniçoba”, explica a professora Dra.Carissa Bichara.

E, após o preparo, é preciso atentar para a manipulação e o armazenamento da maniçoba. Quem dá a dica é a professora Dra. Luiza Helena da Silva Martins, Tecnóloga de Alimentos e Doutora em Engenharia Química.

“A maniçoba é um alimento de alta manipulação, com adição de vários ingredientes, tanto de origem animal como vegetal, que devem ser cuidadosamente manipulados. Não temos dados específicos para a maniçoba, mas devemos seguir os princípios da conservação dos alimentos recomendados pelo Ministério da Saúde, onde na conservação a quente, devemos manter os alimentos à temperatura superior a 60°C por, no máximo, 6 horas, lembrando que esse período começa a contar assim que o alimento estiver pronto. A maniva apresenta em sua composição elevado teor de fibras e proteínas, esses componentes servem como substrato, ou seja, são fonte de carbono para os microrganismos indesejáveis. Além de o produto apresentar os meios favoráveis para o crescimento deles, como alta umidade e atividade de água”, disse a pesquisadora.

Depois de pronta o ideal é que a maniçoba seja mantida sob refrigeração por até cinco dias, dependendo da temperatura selecionada e das características do alimento “O processo de resfriamento de um alimento já preparado deve ser realizado de forma a minimizar tanto o risco de contaminação cruzada quanto a permanência do mesmo em temperaturas que possam favorecer a multiplicação microbiana. Por isso a temperatura do alimento preparado deve ser reduzida de 60ºC a 10ºC em até 2 horas. Na conservação a frio, os alimentos devem ser mantidos em temperaturas abaixo de 4°C”, disse a professora Dra. Luiza Helena da Silva Martins.

Congelamento

Para quem gosta de congelar a maniçoba e ir consumindo ao longo do ano, a dica é que sejam utilizados recipientes pequenos, adequados ao congelamento e total vedação, que garantam uma rápida diminuição da temperatura no interior do recipiente. “Recomenda-se um congelamento rápido. A durabilidade do produto congelado varia, podendo ficar três, seis meses, dependendo das condições desse congelamento. Se foi feito rápido, se o congelador em casa é eficiente, pois quando ele fica muito cheio diminui eficiência, se não ficar abrindo e fechando muitas vezes o congelador, tudo influencia”. Deve-se levar em consideração também as características desse alimento, já que não se trata de um produto padronizado, podendo apresentar diferenças significativas na composição dos nutrientes, explica a professora Dra. Carissa Bichara.

Acesse a notícia completa na página da UFRA.

Fonte: Vanessa Monteiro, jornalista, Ascom UFRA.  Imagem: Secretaria de Turismo do Estado do Pará.

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