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Impressão digital isotópica das unhas indica tipo de dieta e pode ser útil para inferir perfil socioeconômico do indivíduo

De acordo com a pesquisadora do estudo os dados indicam com precisão a importância da renda na composição do tipo de comida que chega à mesa dos brasileiros

Divulgação, FAPESP

Fonte

FAPESP | Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

Data

sábado, 10 outubro 2020 10:40

Áreas

Nutrição Coletividades. Saúde Pública

A proporção de diferentes isótopos de carbono presente nas unhas pode indicar o tipo de dieta preferencial consumida nos últimos seis meses pelos brasileiros e servir de parâmetro para inferir o grau de desenvolvimento humano da cidade em que eles vivem. Isótopos são variantes de um elemento químico que têm o mesmo número de prótons, mas diferem na quantidade de nêutrons. Essa é a conclusão de um artigo publicado em julho na revista científica Science of Food. Os autores do trabalho analisaram a composição isotópica de amostras das unhas de 4,5 mil indivíduos de 37 cidades do país, onde vive 10% da população, e calcularam a média de um parâmetro denominado delta carbono 13 (δ13C) para cada município. Valores elevados desse índice sinalizam alto consumo de alimentos ultraprocessados, como carnes industrializadas, refrigerantes e sobremesas prontas, e baixos sugerem ingestão majoritária de alimentos in natura, sobretudo arroz, feijão e mandioca.

Em seguida, os pesquisadores compararam o δ13C de cada cidade com seu respectivo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador criado em 1990 pela Organização das Nações Unidas (ONU) que leva em conta a expectativa de vida ao nascer, o nível de educação e a renda per capita de uma população. Essa análise evidenciou uma correlação significativa: quanto maior o δ13C do município, maior seu IDH. Por meio de técnicas estatísticas, o grupo de cientistas extrapolou a correlação para quase 99% dos 5.570 municípios do país e gerou um mapa com a distribuição geográfica das dietas (ver na página ao lado). Quase 70% das amostras de unhas foram coletadas entre 2008 e 2015. Outros 23% foram obtidos entre 2002 e 2006 e o restante depois de 2015.

Para a bióloga Dra.Gabriela Nardoto, da Universidade de Brasília (UnB) e primeira autora do estudo, os dados indicam com precisão a importância da renda na composição do tipo de comida que chega à mesa dos brasileiros. “O status socioeconômico está muito vinculado ao acesso a alimentos ultraprocessados. No Sul e no Sudeste do Brasil, as áreas mais desenvolvidas, com IDHs mais elevados, essa tendência é evidente”, comenta a Dra. Nardoto. “Nas outras regiões, que tendem a apresentar IDHs menores, não há tanto poder aquisitivo para a compra em grande quantidade desses produtos.” O Centro-Oeste exibe uma situação intermediária. Embora essa seja a grande tendência explicitada pelo mapa, a bióloga destaca que, em razão dos possíveis malefícios à saúde atribuídos à ingestão excessiva de alimentos ultraprocessados, uma parte da população de maior poder aquisitivo passou em anos mais recentes a consumir menos alimentos desse tipo.

Todas as relações identificadas no estudo estão baseadas em medições feitas com dois isótopos estáveis de carbono presentes em tecidos humanos, como as unhas: o raro e pesado carbono 13 (13C) e o leve e abundante carbono 12 (12C). De acordo com a proporção desses isótopos, é possível calcular o δ13C — expresso em valores negativos e por mil (‰) — de um indivíduo ou de uma população e inferir seu tipo de dieta. Resultados mais elevados do índice, entre -16 e -18‰, indicam a chamada dieta de supermercado, com grande quantidade de comida industrializada. Valores menores, entre -20 e -24‰, refletem o consumo predominante de alimentos in natura e peixes. “Nem sempre é possível estabelecer essa correlação de índices no âmbito municipal, porque poucos países calculam o IDH de cada cidade”, afirma o engenheiro-agrônomo Dr. Luiz Antonio Martinelli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP), coordenador do estudo. “Com o banco de dados usado para gerar o mapa, temos agora uma aplicação importante, que pode ter utilidade para fazer análises regionais na área de nutrição e acompanhar mudanças na alimentação da população.”

Ferramenta forense

As tendências apresentadas no estudo batem com resultados de levantamentos recentes sobre a questão alimentar no Brasil, como os da mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada entre 2017 e 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a POF, produtos in natura ou minimamente processados representam, respectivamente, 58,2% das calorias totais consumidas pelos habitantes do Norte e do Nordeste. No Sul, esse valor cai para 47,3%. No Sudeste, é menor, 44,9%. O Centro-Oeste está numa posição intermediária e metade das calorias (50,7%) vem desse grupo de alimentos.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da FAPESP.

Fonte: Eduardo Geraque, Revista FAPESP, outubro-2020.  Imagem: Divulgação, FAPESP

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