Notícia

Pesquisa questiona eficácia e acessibilidade à população de Guia Alimentar

Estudiosa de comunicação em saúde aponta problemas no material que especialistas de nutrição e saúde pública ajudaram a elaborar

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Fonte

Jornal da USP | Jornal da Universidade de São Paulo

Data

terça-feira, 18 setembro 2018 11:00

Áreas

Nutrição Clínica. Nutrição Coletividades. Saúde Pública

A segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, lançada em 2014, foi elaborada em uma parceria do Ministério da Saúde com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP. O material buscou trazer uma abordagem inovadora, menos focada em grupos alimentares e quantidades de nutrientes a serem ingeridos e mais preocupada com a construção de uma compreensão ampliada sobre alimentação, que inclui não só o olhar sobre o alimento, mas também para as refeições, modos de comer e a relação disso com o meio ambiente.

Agora, acaba de ser finalizada a primeira pesquisa levantando problemas no material, como parte do pós-doutorado da pesquisadora sênior do grupo de pesquisa Comunicação Pública e Política, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, Dra. Devani Salomão de Moura Reis. O trabalho buscou avaliar a eficácia do Guia no combate às Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), em especial a obesidade.

O pós-doutorado foi iniciado em 2015 e analisou as respostas de nutricionistas de diversas Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade de São Paulo a um questionário de 60 questões abertas elaboradas pela pesquisadora. Com base nele, apontou-se, por exemplo, que 70% das nutricionistas afirmam que há dificuldades em convencer o paciente a consumir gorduras adequadamente. Sobre o consumo de sal, 66,7% dizem o mesmo.

Sobre a motivação para a pesquisa, a Dra. Devani Reis evoca sua longa trajetória investigando as questões da comunicação no âmbito da saúde pública. Desde o mestrado, no qual analisou como médicos e pacientes enxergavam um ao outro, passando pelo doutorado, no qual criticou a cartilha Viver mais e melhor, do Ministério da Saúde, até este quarto pós-doutorado, que tem como objeto de estudo o Guia, sempre se dedicou à área da comunicação na saúde pública. Para ela, “é hora de mostrar que a comunicação é importante na área da saúde. Muito importante porque, desde o estudo do mestrado, quando avaliei que os pacientes têm dificuldades de falar com o médico porque o enxergam como um deus, percebi que falta interlocução”.

Elaboração coletiva

Segundo a Dra. Maria Laura da Costa Louzada, que fez parte da equipe do Nupens durante o projeto de atualização do Guia em 2014, essa nova versão se fez necessária por conta da série de transformações pelas quais o Brasil havia passado desde 2006, quando a primeira edição foi publicada. “O Brasil passou por um intenso processo de mudanças econômicas, sociais e políticas e por uma transição epidemiológica. O cenário de desnutrição deu lugar a um cenário de diabete e de hipertensão. Junto a isso, tivemos uma grande evolução nos conhecimentos da nutrição, o paradigma da alimentação mudou”. Para ela, que fala em nome dos outros colaboradores do Nupens envolvidos, o principal ponto positivo do material é enxergar a alimentação como algo maior do que só os alimentos, considerando também as combinações, seu valor cultural, sensorial e ambiental ligado ao ato de se alimentar.

A Dra. Maria Louzada relembra também o processo de elaboração e revisão do Guia, bastante coletivo e preocupado em ser inclusivo. “Entre 2011 e 2013 aconteceram duas oficinas na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, com pessoas de todo o Brasil e de diversas áreas, como trabalhadores de ponta da área da saúde, da educação, da educação popular, da saúde dos negros e negras e da associação de vegetarianismo. Essas pessoas leram o Guia, debateram com a gente e tivemos um processo de construção coletiva, que não foi feito só pelo Nupens. Em 2013, foi realizada a consulta pública, que ficou três meses aberta. Recebemos mais de três mil contribuições, mudamos diversas coisas. Evoluímos muito com esse processo, muitas coisas que podiam ter sido melhoradas, de fato, foram.”

Para todos?

A Dra. Devani Reis, por sua vez, ressalta ter encontrado uma falta de conexão entre a realidade proposta no material com a dos usuários do sistema de saúde pública. “O Guia prescreve que você se alimente sempre no mesmo horário, em lugares limpos, com companhia. Quantas pessoas podem ter esse privilégio?”. Ao ser perguntada sobre o maior problema do material, é categórica: “Não se pensou no público-alvo”. Sobre isso, a Dra. Maria Louzada discorda. Segundo ela, a recomendação do Guia é de que as pessoas busquem se alimentar com regularidade, ou seja, não “belisquem” durante o dia, comam em lugares confortáveis, adequados e limpos e, sempre que possível, em companhia e que isso ainda é um ideal possível para muitos brasileiros. “Acho que boa parte dessa crítica é uma falácia porque muitas das recomendações do Guia foram baseadas na análise da Pesquisa de Orçamentos Familiares, conduzida pelo IBGE, com dados de 2008 e 2009, que avaliou a alimentação de mais de 30 mil brasileiros.”

Acesse a notícia completa na página do Jornal da USP

Fonte:  Rebecca Gompertz, Jornal da USP. Imagem: Pxhere.

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