Notícia

Consumo de bebida alcoólica afeta dieta de mulheres com compulsão alimentar

Foram acompanhadas 50 mulheres em tratamento por transtornos alimentares: dessas, 38% apresentaram consumo problemático de bebida alcoólica e menor qualidade da alimentação, com baixo consumo de vegetais e frutas

Freepik

Fonte

Jornal da USP

Data

terça-feira, 21 junho 2022 11:30

Áreas

Nutrição Clínica. Saúde Pública

Não existe consenso sobre a quantidade segura de consumo de álcool e nem sobre a dose padrão, mas é certo que a bebida alcoólica traz inúmeros malefícios a mulheres que sofrem de transtornos alimentares. Quanto maior a quantidade de álcool, menor será a qualidade dos alimentos consumidos. A conclusão é de uma dissertação de mestrado realizada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Foram avaliadas 50 mulheres, entre 18 e 59 anos, que estavam em tratamento de transtornos alimentares em serviços de assistência do Estado de São Paulo. Do grupo avaliado, 38% apresentaram consumo problemático de bebida alcoólica e baixa qualidade da alimentação, com pouca ingestão de vegetais e frutas. “O porcentual encontrado é quase três vezes mais do que entre mulheres da população brasileira [13,3%]”, relatou ao Jornal da USP a nutricionista Lívia Dayane Sousa Azevedo, autora da pesquisa.

Segundo o estudo, a bulimia nervosa e a compulsão alimentar apresentam ocorrência simultânea com transtornos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas devido à semelhança entre a sintomatologia de ambos os quadros, como a falta de autocontrole, impulsividade e aumento de comportamento autodestrutivo.

“A compulsão alimentar é caracterizada pela ingestão de grandes quantidades de alimentos (maior do que a maioria das pessoas consumiria sob tempo e circunstâncias semelhantes), em um curto período de tempo (com duração de minutos a duas horas). Durante esse episódio, ocorre a sensação de perda de controle sobre a alimentação, como o sentimento de não conseguir parar de comer ou de controlar a quantidade consumida. Já na bulimia ocorrem a indução ao vômito, o uso de laxantes e/ou diuréticos, jejum e atividades físicas em excesso, como forma de compensar as calorias ingeridas”, explicou Lívia.

“As bebidas alcoólicas contêm calorias, às vezes, até mais do que os próprios carboidratos e proteínas, mas sem nenhum outro componente nutricional e, por isso, é considerada uma caloria vazia que sacia a forme sem nutrir o organismo”, explicou a professora Dra. Rosane Pilot Pessa, do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP e orientadora do trabalho. Sendo assim, “as mulheres com compulsão alimentar que consomem bebidas alcoólicas de maneira problemática apresentam alimentação deficiente por substituírem a ingestão de grupos alimentares importantes por álcool”, relatou a pesquisadora.

Lívia disse que essa situação é preocupante, visto que, em geral, as pacientes fazem uso contínuo de psicofármacos que atuam no sistema nervoso central. “Pode haver interação entre medicamentos, álcool e nutrientes, diminuição da eficácia desses fármacos e aumento de efeitos colaterais inesperados. O uso de álcool também pode piorar o curso e a evolução da compulsão alimentar.”

A pesquisa

Trabalhando no atendimento a pacientes com transtornos alimentares no Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares (GRATA) do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da USP, Lívia já havia percebido correlação entre os dois transtornos mentais, mas ainda não havia estudo que quantificasse o problema; daí surgiu a pergunta que norteou seu trabalho: o consumo de bebida alcoólica, de forma problemática, por mulheres com compulsão alimentar, afetaria a qualidade da alimentação? A resposta a essa pergunta foi positiva, mas outras informações importantes surgiram ao longo do estudo.

A coleta de dados, feita entre 2019 e 2020 em serviços de saúde especializados do interior do Estado, em Ribeirão Preto, Marília e Campinas, e na capital São Paulo, traçou o perfil dessas pacientes: a maioria (58%) estava em tratamento médico para transtorno alimentar há cerca de um ano, sendo que 68% tinha diagnóstico de bulimia nervosa e 32%, transtorno da compulsão alimentar; eram mulheres jovens (em média, 35 anos), sem companheiro, possuíam empregos formais e relataram ter ensino médio completo. Quanto ao estado nutricional, a maioria, 68%, apresentou excesso de peso, sendo 32% sobrepeso e 36% obesidade, além de risco cardiovascular elevado (62%).

As voluntárias preencheram questionários sociodemográfico (faixa etária, classe econômica, sexo, escolaridade, renda, raça) e antropométrico (peso, altura, circunferência abdominal), fizeram teste para identificar problemas no uso de álcool, além de ser verificada a compulsão alimentar e a ingestão de alimentos por meio do recordatório de 24 horas.

Alimentação inadequada

A maioria das voluntárias, 68%, tinha alimentação que precisava ser modificada; para 16%, a ingestão de alimentos era inadequada e 66% tinham algum nível de compulsão alimentar. Entende-se por alimentação inadequada a baixa ingestão de cereais, frutas, vegetais, além de ser pouco variada, e maior consumo de fast-food, pães e alimentos processados ricos em sódio e gorduras, relatou Lívia.

A qualidade da alimentação foi aferida por meio de um instrumento chamado Índice da Qualidade da Dieta – Revisado (IQD-R), que permite avaliar se as recomendações nutricionais relacionadas aos grupos alimentares, nutrientes e componentes culinários eram atendidas. A pontuação varia de zero a 100 pontos, sendo: inadequada ≤ 40 pontos; necessita de modificação de 41 a 64 pontos; e dieta saudável ≥ 65 pontos.

De acordo com essas categorias, o escore total médio da qualidade da alimentação das mulheres foi de 53,6 pontos, sendo significativamente maior (56,4 pontos) para as voluntárias que tinham uso de baixo risco de álcool ou abstinência, e menor (49,1 pontos) naquelas com uso problemático de bebidas alcoólicas. Além da diferença na pontuação total, também foi possível identificar menor consumo de vegetais entre as mulheres que ingeriam álcool de forma problemática.

Acesse a notícia completa na página do Jornal da USP.

Fonte: Ivanir Ferreira, Jornal da USP. Imagem: Freepik.

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