Notícia

Combate aos radicais livres: estudo avalia capacidade antioxidante da quitosana fúngica

Pesquisa detectou que a quitosana fúngica consegue proteger o organismo vivo do estresse oxidativo, além de ter um processo bem mais simples para ser produzida, com redução de impacto no meio ambiente, pois não precisa ser purificada

Wikimedia Commons

Fonte

UFRN | Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Data

sexta-feira, 23 julho 2021 11:30

Áreas

Biotecnologia. Ciência e Tecnologia de Alimentos

O oxigênio é vital para o organismo humano. O ar, ao entrar por nossos pulmões, provoca diversas reações químicas naturais responsáveis pelo processo de renovação das células, o que fornece energia para o corpo. Uma pequena parte desse oxigênio, contudo, transforma-se em radicais livres. De forma natural, o organismo lida bem com eles, produzindo substâncias que conseguem neutralizar a ação dos radicais livres — os antioxidantes. Essas substâncias são nossas aliadas.

No decorrer da vida, vários fatores podem favorecer um desequilíbrio nessa relação, potencializando o surgimento dos radicais livres no organismo, entre eles a poluição, consumo de alimentos com aditivos químicos e agrotóxicos, álcool, tabaco e radiação solar excessiva. Com o aumento excessivo dos radicais livres no organismo, acontece o estresse oxidativo, quando os antioxidantes não conseguem neutralizar os radicais livres, causando danos às células. Alguns problemas de saúde surgem a partir desse desequilíbrio, como envelhecimento precoce, diabetes, mal de Parkinson, urolitíase (pedras nos rins) e ainda várias doenças metabólicas.

Pesquisadores no mundo inteiro trabalham na busca de moléculas antioxidantes capazes de combater o estresse oxidativo nos organismos vivos. Um desses estudos é o desenvolvido pelo doutorando Weslley de Souza Paiva, realizado no Laboratório de Biotecnologia de Polímeros Naturais (Biopol), do Departamento de Bioquímica da UFRN, e conta com a bolsa Capes Demanda Social. Na pesquisa, a quitosana extraída da parede celular dos fungos do solo da caatinga é utilizada como antioxidante. O estudo tem como título Avaliação da capacidade antioxidante de quitosana extraída do fungo rhizopus arrizus urm 8111 e de seu derivado conjugado com ácido gálico através de testes in vitro, em células e in vivo utilizando modelo zebrafish (danio rerio).

“A quitosana é um biopolímero disponível na natureza. Ela pode ser encontrada na carapaça de crustáceos, como camarão, na carapaça de insetos e também nos fungos”, esclarece Weslley. Na pesquisa desenvolvida por ele no doutorado, detectou-se que a quitosana fúngica consegue proteger o organismo vivo do estresse oxidativo, além de ter um processo bem mais simples para ser produzida, com redução de impacto no meio ambiente, pois não precisa ser purificada.

O orientador da pesquisa, Dr. Hugo Alexandre de Oliveira Rocha, do Departamento de Bioquímica da UFRN, explica que a quitosana é um polímero muito versátil. É utilizado em vários ramos industriais, como indústrias de tintas, indústria de alimentos e de medicamentos.

Geralmente, a quitosana comercial usada em várias partes do mundo é obtida da carapaça de crustáceos, contudo, como ressalta Weslley, para aplicação humana, ao usar essa quitosana, pode-se ter algumas dificuldades. “Ela tem um alto curso para ser purificada, o que precisa ser feito para se usar em humanos e não causar nenhum problema. Ela pode carrear algumas proteínas de superfície da carapaça do camarão, como a tropomiosina, presente na casca do camarão, que dá a cor meio alaranjada do crustáceo, e pode causar alergias em algumas pessoas”, revela.

Outra dificuldade, aponta Weslley, é que a produção do camarão é sazonal, quando em alguns períodos do ano a produção do produto é reduzida. Já com a quitosana fúngica, não é preciso realizar um processo caro de purificação, e ainda o processo de produção pode ser escalonado, em escala industrial, com uso de reator, sem interferências ambientais que venham a dificultar a produção de quitosana. “Como não precisamos purificar a quitosana fúngica, não é necessário utilizar ácidos e bases, muitos reagentes com descartes no final que possam vir a contaminar o meio ambiente”, frisa.

O professor Hugo Rocha reforça essa questão ambiental na utilização da quitosana extraída de crustáceos. “Se, por uma lado, há o aproveitamento de um subproduto da aquicultura marinha, diminuindo danos ambientais, por outro, há a utilização de reagentes químicos que terminam por poluir o ambiente”, pontua. Como alternativa a esse problema, destacou, em alguns países a quitosana fúngica passou a ser produzida com intuito de substituir a quitosana de crustáceos, pois sua obtenção tem um impacto ambiental bem menor.

“O Weslley já tinha a quitosana fúngica como objeto de pesquisa em seu mestrado, quando era orientado pela professora Dra. Anabelle Camarotti de Lima Batista, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Ele esteve aqui na UFRN, fazendo experimentos no laboratório que eu coordeno, o Biopol. Foi quando ele me apresentou a quitosana fúngica”, lembra o Dr. Hugo.

Quando Weslley concluiu o mestrado, entrou em contato com o professor Hugo para continuar suas pesquisas no doutorado, pesquisando ainda a quitosana fúngica. A proposta foi obter um quitosana fúngica de uma espécie encontrada na caatinga potiguar/paraibana, o que valorizaria um produto regional.

O processo de criação da quitosana fúngica passa pelo crescimento do fungo. Quando tem-se uma certa quantidade, extrai-se a quitosana da parede celular do fungo e os testes são realizados para saber se essa molécula se comporta como um bom antioxidante. Nos experimentos realizados, a molécula conseguiu proteger contra o estresse oxidativo e ainda possibilitou a síntese de uma nova molécula com maior potencial antioxidante, possuindo condições físico-químicas ainda melhores, facilitando, no futuro, sua utilização em humanos.

O grande diferencial da quitosana fúngica obtida nesse estudo, segundo o Dr. Hugo Rocha, é a massa molecular aparente. “Quitosanas, em geral, têm massa molecular elevada, o que dificulta sua utilização como fármaco, por exemplo”, coloca. Para contornar isso, há vários protocolos de quebra (hidrólise) da quitosana, alguns até encarecem o produto obtido no final do processo. No caso da quitosana obtida no projeto, em comparação com outras quitosanas já descritas, ela é dez ou até cem vezes menor. “Essa baixa massa molecular coloca esta quitosana como um agente potencial para ser aplicado na composição de medicamentos ou mesmo agindo como o próprio fármaco presente no medicamento”, destaca o pesquisador.

Acesse a notícia completa na página da UFRN.

Fonte: Hellen Almeida, Agecom-UFRN.  Imagem: Wikimedia Commons.

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