Notícia
Ciência e agricultura se unem para suprir déficit nutricional
Pesquisa com biofortificação do arroz quer inserir selênio na dieta
Amanda Paixão, UNESP
Fonte
UNESP | Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Data
segunda-feira, 15 julho 2019 09:55
Áreas
Agricultura. Agronomia. Biotecnologia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Nutrição Coletividades
Ao pensar no Brasil, o clássico “samba, carnaval e futebol” vêm à mente. Mas há uma dupla poderosa que caracteriza ainda mais o gosto brasileiro: arroz e feijão. Dá até para sentir o cheiro do almoço de domingo! Às vezes, o feijão nem está presente, mas o grãozinho branco não pode faltar nas principais refeições. Refogue o alho, a cebola, adicione o arroz, a água e o sal… Deixe secar e, voilà, está pronto para o consumo!
De pequeno não tem nada!
De acordo com o site Brazilian Rice (projeto da Associação Brasileira da Indústria do Arroz), o Brasil é o maior produtor e consumidor de arroz fora da Ásia, exportando, nos últimos cinco anos, uma média de 1,2 milhão de toneladas. Em 2012 e 2013, o Valor Bruto de Produção (VPB) do arroz, no país, chegou a 8 bilhões de reais. A atividade, segundo o site, gerou 350 mil empregos diretos e indiretos. “O arroz é um produto amplamente valorizado no mundo, por fazer parte da alimentação de mais de 50% das pessoas no planeta, sendo responsável por, aproximadamente, 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional”, enfatiza Geraldo Cabral Gouveia, estudante de doutorado da Unesp de Ilha Solteira, onde atualmente desenvolve um projeto de pesquisa envolvendo a biofortificação agronômica do arroz.
E essa grande demanda não se dá somente para a exportação. Segundo a pesquisa Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o brasileiro consome cerca de 160,3 gramas por dia de arroz, o que lhe garante a segunda posição do alimento mais presente na mesa da população. E é justamente partindo desse princípio que o graduando Eduardo Marcandalli desenvolveu sua pesquisa com arroz e selênio (Se).
Da ideia para a projeto
Aluno do curso de Engenharia Agronômica, na Unesp de Ilha Solteira, Eduardo conta que desde os primeiros dias da graduação foi voluntário, junto com alunos da pós-graduação, para aprender mais sobre culturas nas fazendas experimentais. Com dois anos em campo, ele organizava e conduzia experimentos de Iniciação Científica, indo da semeadura à colheita, sempre voltado para a área de nutrição de plantas.
Seus orientadores diversas vezes comentaram sobre as áreas agronômicas que estavam em destaque e tinham um alto impacto científico-social dentro da nutrição, desenvolvendo nele o interesse pela temática. “Surgiu, assim, a ideia da pesquisa com Biofortificação Agronômica, que consiste em aumentar a concentração de nutrientes (Zinco, Ferro, Magnésio e Selênio) nos grãos dos cereais mais consumidos, visando suprir sua deficiência nutricional na população humana”, relata Eduardo.
Com bolsa-auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e sob orientação do professor Dr. André Rodrigues dos Reis, foram conduzidas, entre 2016 e 2018, diversas pesquisas com selênio nas culturas de arroz, trigo e feijão-caupi, visando encontrar a melhor dose do mineral para suprir essa deficiência do elemento, principalmente em regiões como Brasil e África, além de países onde a fome oculta ainda é um grave problema de saúde pública. A pesquisa ainda está em andamento e tem previsão de término para final de 2020.
E o que é essa tal de fome oculta?
A nutricionista Claudia Berlim Gonçalves explica que, ao contrário da escassez de alimentos, ela é caracterizada pela falta de micronutrientes essenciais ao organismo. “Por exemplo, quem está habituado a ver o filho comer somente massa e carne, precisa ficar atento, pois apesar da sensação de saciedade, haverá carência de nutrientes obtidos através de verduras e legumes”, ilustra a profissional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma em cada quatro pessoas no mundo são acometidas pela fome oculta, sendo o selênio um dos minerais em deficiência. Segundo o artigo Selenium in Global Food Systems, publicado no British Journal of Nutrition, em 2001, calcula-se que haja um bilhão de pessoas deficientes neste nutriente ao redor do mundo.
Para entender como isso pode ocorrer, Eduardo explica: “A concentração de selênio disponível no solo de uma dada região influencia diretamente na biodisponibilidade deste elemento à população humana ali residente. O mineral, quando presente na terra, é absorvido pelas plantas, e fica disponível tanto aos animais daquela região, quanto aos vegetais e cereais cultivados, entrando assim na dieta humana”. Dessa forma, a falta de selênio no organismo pode ser atribuída à produção agrícola em solos com baixas concentrações da substância.
Benefícios ao organismo
O selênio é considerado um nutriente extremamente essencial para o corpo humano, pois desempenha funções biológicas importantes para a saúde. Ele ajuda no equilíbrio da imunidade, defende contra danos e inflamações, melhora o fluxo sanguíneo, protege a tireoide, combate os radicais livres causadores do Alzheimer e aumenta a longevidade. “Sua ação na prevenção do câncer se dá pois ele exerce uma função antioxidante, atuando como agente antimutagênico e evitando, então, que as células saudáveis sofram alterações, tornando-se malignas”, enfatiza a nutricionista Yasmin Meier.
Sendo assim, sua falta pode causar diversos sinais e sintomas, debilitando a saúde do indivíduo. “Baixas concentrações de selênio estão ligados ao risco de desenvolver doenças cardiovasculares”, exemplifica Claudia. Em relação a quantidade recomendada, ela varia de acordo com a faixa etária e o sexo, indo de 15 a 70 µg/dia (microgramas por dia), em que as menores quantidades são para bebês e as maiores para gestantes e lactantes.
Acesse a notícia completa na página da UNESP.
Fonte: Rebecca Crepaldi – aluna de graduação da UNESP-Bauru. Imagem: Amanda Paixão, UNESP.
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