Notícia

Aumento no consumo de ultraprocessados reforça importância do Guia Alimentar para a População Brasileira

Pesquisa indicou que a ingestão de ultraprocessados quase dobrou neste ano justamente na faixa de idade para a qual isso apresenta maior risco: dos 45 aos 55 anos, a mesma etapa etária com maior número de pessoas com sobrepeso e obesas no país

Pixabay

Fonte

UFRGS | Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Data

segunda-feira, 7 dezembro 2020 09:55

Áreas

Nutrição Coletividades. Saúde Pública

Conforme pesquisa do Instituto Datafolha publicada no final de outubro, a ingestão de ultraprocessados quase dobrou neste ano justamente na faixa de idade para a qual isso apresenta maior risco: dos 45 aos 55 anos, a mesma etapa etária com maior número de pessoas com sobrepeso e obesas no país. Encomendado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o estudo mostrou que o consumo desse tipo de produto por pessoas com idades nesse intervalo passou de 9% em 2019 para 16% em 2020.

Além disso, o levantamento indicou que alguns ultraprocessados tiveram crescimento de ingestão em todas as faixas etárias da pesquisa (conforme ultraprocessados na pandemia)  que entrevistou brasileiros dos 18 aos 55 anos das diferentes classes econômicas e das cinco regiões do país. Pesquisas científicas vêm apontando há pelo menos 10 anos que esses produtos são os grandes responsáveis pelo aumento da obesidade e da diabetes no país, fatores que tornam a covid-19 mais fatal.

Ultraprocessados na pandemia

  • Salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados – Foram os campeões no aumento do consumo em comparação com o levantamento realizado em 2019. No ano passado, 30% dos entrevistados ingeriam esses produtos. Neste ano, 35%.
  • Margarina, maionese, ketchup ou outros molhos – Ficaram em segundo lugar no aumento do consumo em relação ao ano passado. Em 2019, eram ingeridos por 50% dos entrevistados. Em 2020, 54%.
  • Sucos de fruta em caixa, caixinha ou lata ou refrescos em pó – Ficaram em segundo lugar no aumento do consumo dos entrevistados do Sudeste. Em 2019, 30% dos ouvidos na região disseram ingerir esses produtos. Já em 2020, 36%.

Os resultados da pesquisa confirmam as mudanças que a nutricionista Marina Carvalho Berbigier da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que trabalha na Unidade Básica de Saúde (UBS) Santa Cecília, passou a ver nos hábitos alimentares de alguns pacientes. Segundo ela, a necessidade de isolamento social contribuiu para que parte das pessoas passassem a optar mais por alimentos com maior validade e estocáveis, entre eles os ultraprocessados.

“O fato de a covid-19 ter afetado a saúde mental, aumentando os sentimentos de ansiedade e de insegurança, acabou contribuindo para o crescimento da procura pelos ultraprocessados. Por terem bastante sódio, gordura e açúcar, que chamamos de “hipersabores“, eles dão a sensação de satisfação e são hiperpalatáveis. Por isso, passaram a ser usados como uma bengala para que as pessoas se sintam melhores na pandemia” disse a nutricionista Marina Carvalho Berbigier.

Apesar da contraindicação de pesquisadores e de profissionais de saúde, os ultraprocessados chegaram a ser defendidos neste ano por uma nota técnica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), encaminhada em setembro para o Ministério da Saúde. No documento, o Mapa solicitou uma revisão do Guia Alimentar para a População Brasileira, que recomenda evitar a ingestão desses produtos.

Conforme a nota, a orientação do guia para que as pessoas identifiquem os ultraprocessados por meio da contagem do número de ingredientes, frequentemente cinco ou mais, “parece ser algo cômico” e um “ataque sem justificativa à industrialização”. O documento afirma também que a verificação da presença de ingredientes com nomes pouco familiares para a identificação de ultraprocessados é “confusa” e que a “discriminação de alimentos” pelo nível de processamento é uma “incoerência”.

“Os determinantes mais importantes da qualidade da dieta são os tipos específicos de alimentos consumidos, e não o seu nível de processamento”, escreveu o Mapa, acrescentando que o guia “induz a população brasileira a uma limitação da autonomia das escolhas alimentares”.

Pressão social fez ministério recuar

A nota provocou uma onda de repúdio na internet e fez a hashtag #EuApoiooGuiaAlimentar ser massivamente compartilhada pela comunidade acadêmica, pelos movimentos sociais, pelas organizações de saúde e até por famosas, como Rita Lobo, Paola Carosella e Bela Gil. Outra reação contrária foi um manifesto de apoio ao guia, lançado pela Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, assinado por mais de 46 mil pessoas e 352 organizações. Entre as entidades e movimentos apoiadores estão a Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PenSSAN) e a Slow Food Brasil.

“A nota técnica apresenta um conjunto de argumentos superficiais ao guia em mais uma das recorrentes tentativas de ocultar os impactos negativos que os alimentos ultraprocessados podem gerar na nossa saúde — contrariando um conjunto consistente de evidências científicas produzidas por pesquisadores de instituições amplamente respeitadas não só no Brasil, mas em todo o mundo”, afirma-se no manifesto entregue ainda em setembro ao Ministério da Saúde.

Cuidado com os ultraprocessados “saudáveis”

Professora do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) e do curso de Nutrição da UFRGS, Dra. Eliziane Nicolodi Francescato Ruiz conta que o guia fez a população prestar mais atenção aos rótulos, e, para não perder mercado, a indústria passou a produzir ultraprocessados com apelo “saudável” por meio da adição de vitaminas ou minerais. “Eles colocam na embalagem que o alimento é ‘rico em ferro’, por exemplo, mas quando tu vais ler os ingredientes vê que segue tendo muita gordura, açúcar, sal e aditivos”, explica a docente.

Acesse a notícia completa na página da UFGRS.

Fonte: Fernanda da Costa, UFRGS.   Imagem: Pixabay.

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