Notícia

Melhoramento genético aumenta até 7 vezes a produtividade do guaraná no Amazonas

As cultivares de guaranazeiros desenvolvidos pela Embrapa têm potencial para aumentar em mais de dez vezes a produtividade da cultura.

Felipe Rosa - Divulgação

Fonte

Embrapa

Data

terça-feira, 12 setembro 2017 09:56

Áreas

Agronegócio

Mesmo sendo o estado de origem da planta, a produção de guaraná no Amazonas hoje é pequena e nem chega perto de atender a demanda das indústrias instaladas no estado e que utilizam o fruto como matéria-prima. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na safra de 2015, a produção total do estado foi de 662 toneladas, um número bem inferior ao maior produtor do Brasil que é a Bahia, que no mesmo período colheu 2.694 toneladas. Para o pesquisador e economista da Embrapa Amazônia OcidentalJosé Olenilson Costa Pinheiro, a falta de uma organização da cadeia produtiva, a baixa adoção de tecnologias pelos produtores e dificuldades de logística explicam essa baixa produção no estado, entre outras causas.

Algumas iniciativas estão em desenvolvimento para ampliar a produção de guaraná no estado. Uma delas é o projeto de transferência de tecnologia da Embrapa Amazônia Ocidental que visa expandir a cultura na região metropolitana de Manaus. Nos meses de março e abril deste ano (2017), mais de seis mil mudas de guaraná foram distribuídas e plantadas por produtores familiares de cinco municípios. As mudas de cultivares da Embrapa foram implantadas em 32 Unidades de Referência Tecnológicas (URTs), instaladas em 15 comunidades nos municípios de Manaus, Iranduba, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva e Manacapuru. No total, estão sendo implantados 20 hectares, com o plantio de 400 mudas de guaranazeiros por hectare.

Segundo o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Amazônia Ocidental, Ricardo Lopes, a instituição está repassando para os produtores tecnologias já validadas e com potenciais produtivos e de mercado. “Outro aspecto importante do projeto é a capacitação dos produtores nas diferentes etapas da produção do guaraná, do plantio das mudas a pós-colheita, e o acompanhamento técnico da Embrapa nas URTs”, disse Lopes.  O desenvolvimento desse projeto conta com a participação de duas empresas de refrigerantes instaladas em Manaus

Potencial  dez vezes maior

As cultivares de guaranazeiros desenvolvidos pela Embrapa têm potencial para aumentar em mais de dez vezes a produtividade da cultura. Já foram lançadas 18 cultivares para uso comercial pelo Programa de Melhoramento Genético do Guaraná, sendo que algumas dessas variedades podem chegar a uma produção de 2,5 kg de semente seca por planta, enquanto a média estadual é de cerca de 0,2 kg. Além de maior produção, essas cultivares são resistentes à principal doença que ataca o guaranazeiro, a antracnose.

Para chegar a esses resultados foi um longo processo, iniciado há mais de quatro décadas, com a seleção de plantas matrizes, desenvolvimento de progênies, testes em campo até chegar às cultivares clonais lançadas e disponibilizadas para os produtores. Segundo o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Firmino José do Nascimento Filho, na década de 1970, a produção de semente de guaraná chegou a níveis muito baixos, principalmente em decorrência da antracnose, doença causada pelo fungo Colletotrichum guaranicola, que ataca as folhas, atrofia galhos e impede a frutificação, muitas vezes levando à morte da planta. Na época, praticamente todos os guaranazeiros do Município de Maués, maior produtor do estado, foram atacados pela antracnose.

“A Embrapa, ainda no início de suas atividades, teve a missão de solucionar esse problema, momento em que começa o Programa de Melhoramento Genético do Guaraná, com estudos mais sistematizados sobre a cultura”, relata Nascimento Filho.

O primeiro passo para o programa de melhoramento foi a busca de matrizes. Foram selecionadas plantas de guaraná que apresentavam resistência à doença e produtividade alta. Essas matrizes foram levadas para o campo experimental da Embrapa em Maués e iniciou-se a formação de progênies com potencial comercial.

Porém, segundo Nascimento Filho, os primeiros experimentos não deram os resultados esperados, e as novas progênies continuavam sendo suscetíveis à antracnose. “Numa área de um hectare, das 400 plantas cultivadas, metade morria antes de começar a produzir. E, da outra metade, 80% apresentava problemas da doença com o tempo. Ou seja, sobrava apenas 10% do cultivo inicial produzindo.”

Novas cultivares propagadas por sementes

Uma cultivar desenvolvida pela Embrapa está em processo de registro e proteção no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A novidade é que as mudas dessa variedade são obtidas a partir de sementes. De acordo com Atroch, com a estabilização do banco genético e uso de novas técnicas, foi possível desenvolver essas cultivares utilizando sementes, mantendo as mesmas características de alta produtividade e resistência à antracnose.

A BRS Noçoquém já está registrada no Mapa e aguarda apenas o processo de proteção e autorização do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen) para o seu lançamento oficial, sendo que deve estar disponível para o produtor em menos de um ano após o lançamento. Já a outra cultivar, ainda não batizada, se encontra em processo de validação e deve demorar um pouco mais para chegar ao mercado. André Atroch relata que uma das principais diferenças dessas cultivares propagadas por sementes é a maior facilidade de formação de mudas pelos agricultores.

Nas variedades clonais, é necessário credenciar viveiristas para a produção das mudas, uma vez que a técnica requer mais cuidados, o que eleva o custo para o produtor. “Já com as sementes, o próprio agricultor pode fazer suas mudas e depois plantá-las em suas áreas de cultivo. Mesmo que elas tenham um tempo maior até chegar ao ponto de plantio, o agricultor terá menos gasto e mais controle de todo o processo”, ressalta o pesquisador. Avaliações nos campos experimentais da Embrapa revelaram que a BRS Noçoquém alcançou produtividade média anual de 2,3 kg de semente seca por planta.

Em suas publicações, o Canal Nutrição da Rede T4H tem o único objetivo de divulgação científica, tecnológica ou de informações comerciais para disseminar conhecimento. Nenhuma publicação do Canal Nutrição tem o objetivo de aconselhamento, diagnóstico, tratamento médico ou de substituição de qualquer profissional da área da saúde. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para a devida orientação, medicação ou tratamento, que seja compatível com suas necessidades específicas.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que  cadastrados no Canal Nutrição e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Nutrição, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2024 nutrição t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional nas áreas de Alimentos, Alimentação, Saúde e Tecnologias

Entre em Contato

Enviando
ou

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

ou

Create Account