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Pesquisa brasileira desenvolve grão-de-bico mirando mercado asiático

Com clima favorável, períodos secos e médias altitudes, várias regiões brasileiras são aptas a produzir grão-de-bico, leguminosa muito valorizada em mercados asiáticos e no Oriente Médio.

Pixabay

Fonte

Embrapa

Data

segunda-feira, 11 setembro 2017 15:00

Áreas

Agronegócio

Com clima favorável, períodos secos e médias altitudes, várias regiões brasileiras são aptas a produzir grão-de-bico, leguminosa muito valorizada em mercados asiáticos e no Oriente Médio. O desenvolvimento dessa lavoura poderá abrir um mercado bilionário às exportações brasileiras, além de suprir a demanda interna. Resultados já obtidos em plantações no Brasil Central mostram que a cultura vem apresentando ótimo desempenho no período do inverno em áreas irrigadas e mecanizadas.

Pesquisadores acreditam que essa é uma grande oportunidade para os produtores, já que o País ainda depende de importações para suprir o consumo anual do produto, de oito mil toneladas, e o mercado asiático é um grande importador. De acordo com o Banco de Dados de Estatísticas do Comércio Internacional das Nações Unidas (UN Comtrade), somente a Índia comprou de outros países 873 mil toneladas de grão-de-bico em 2016, o equivalente a US$ 688 milhões, mais de R$ 2 bilhões.

De olho nesse potencial, a pesquisa agrícola está avaliando cultivares de grão-de-bico com melhor adaptação às condições ambientais brasileiras, testando a viabilidade econômica da cultura e buscando soluções para o controle de pragas e doenças que afetam a produtividade e a qualidade. Novas cultivares da planta também estão sendo desenvolvidas.

No início de 2017, foi firmada parceria com a empresa indiana United Phosphorus Limited (UPL) para instalação de experimentos em seis estados − Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – com o objetivo de avaliar o potencial produtivo de quatro cultivares (duas indianas e duas nacionais, desenvolvidas pela Embrapa) em três diferentes épocas de plantio – abril, maio e junho. Como o ciclo do grão-de-bico gira em torno de quatro meses, as primeiras colheitas desses experimentos estão sendo iniciadas agora, entre o final de agosto e o início de setembro, e a expectativa é selecionar as cultivares com melhor adaptação às condições ambientais brasileiras.

Para o pesquisador Warley Nascimento, chefe-geral da Embrapa Hortaliças (DF), a parceria vai render ganhos para ambos os países. “Com base na definição das cultivares mais produtivas e adaptadas, será possível fomentar a produção nacional, minimizar a necessidade de importação e, principalmente, exportar os grãos para a Índia e outros países asiáticos que possuem um consumo elevado desse alimento.”

A Índia manifestou interesse em importar pulses do Brasil durante visita à Ásia, no fim de 2016, em comitiva liderada pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi. Pulses são um grupo de leguminosas com grãos secos que inclui feijão-caupi, feijão-mungo, lentilha e grão-de-bico, por exemplo. “Trata-se de uma oportunidade extraordinária para os produtores brasileiros não apenas exportarem, mas diversificarem os sistemas produtivos, agregarem valor à produção e ofertarem alimentos de alta qualidade à população”, destaca o presidente da Embrapa, Maurício Lopes.

O sul da Ásia, incluindo Índia, Sri Lanka, Bangladesh e Paquistão, representa aproximadamente 40% do mercado mundial de pulses. A Índia passa por um momento especial em que a população cresce cerca de 18 milhões de habitantes por ano e a economia está em expansão. Com maior renda, o consumo de alimentos tem sido maior.

A população vegetariana na Índia é enorme, cerca de um terço de seus 1,3 bilhões de habitantes, e cada vez mais haverá necessidade desse tipo de alimento, como o grão-de-bico, rico em proteínas. “Se tivéssemos produção, certamente haveria mercado comprador. E a Embrapa pode ajudar o Brasil a ocupar este espaço, uma vez que a Empresa possui uma grande diversidade de projetos em vários tipos de produtos e pode rapidamente responder a esta demanda”, explica Maurício Lopes.

Se boa parte da população indiana é vegetariana, do outro lado, está o Brasil. O País ocupa o quinto lugar no ranking de consumo per capita de carne bovina – cada habitante consome 35,8 quilos por ano. Estima-se que cerca de 10% da população siga uma dieta vegetariana e a principal leguminosa consumida pelos brasileiros é o feijão. Diante disso, o consumo de grão-de-bico no País ainda é baixo, sendo que em 2016 o Brasil importou cerca de oito mil toneladas, ao custo de US$ 9,7 milhões, principalmente do México e da Argentina − despesa que corresponde a menos de 1% das importações indianas.

“Hoje,  já possuímos material genético e tecnologia de produção para alcançar a autossuficiência e vislumbrar a exportação de grão-de-bico para os principais mercados consumidores da leguminosa”, assinala Nascimento, ao destacar que a cultura vem apresentando ótimo desempenho no período do inverno, em áreas irrigadas e mecanizadas, e pode ser uma alternativa de exportação além da soja.

No ano passado, quando a Índia sinalizou interesse em importar leguminosas do Brasil, a empresa indiana UPL anunciou grande interesse em investimento no País, por meio da parceria com a Embrapa, no desenvolvimento e produção de grãos no Brasil para exportar ao mercado indiano, que possui demanda crescente e expressiva por esses produtos – a projeção é que possa chegar a 30 milhões de toneladas por ano até 2030.

Produtor aposta no grão-de-bico como alternativa ao feijão

Apesar de o Brasil não ter tradição no cultivo de grão-de-bico, o agricultor Osmar Artiaga, de Cristalina (GO), resolveu investir na cultura como uma opção para o período do inverno em sistema de pivô central e colheita mecanizada. Durante o verão, época mais quente e úmida, o produtor mantém lavouras de soja e milho e, na entressafra, costumava plantar feijão. Contudo, após conhecer a tecnologia de produção e as cultivares disponibilizadas pela Embrapa, Artiaga apostou no avanço da pesquisa e firmou uma parceria para averiguar a viabilidade econômica da produção comercial de grão-de-bico nas condições do Brasil Central.

De 2011 para cá, ele abriu as porteiras de sua propriedade para a equipe de técnicos da Embrapa e os resultados obtidos foram promissores, tanto que a fazenda que antes recebia o nome de Futurama foi rebatizada de Agropecuária Garbanzo, que significa grão-de-bico no idioma espanhol. Artiaga, inclusive, elegeu a cultura como objeto de sua dissertação de mestrado e, com base científica, conduziu ensaios experimentais de validação. “O grão-de-bico mostrou ser menos exigente em água e adubo e, no final das contas, o custo de um hectare de grão-de-bico é cerca de 40% menor do que o custo de um hectare de feijão”, estima Artiaga.

E as contas do produtor foram além: ambas as culturas rendem uma produtividade média de 2.500 kg/ha, mas o preço do quilo do grão-de-bico pode alcançar o dobro do valor obtido pelo feijão. “É gratificante ver um parceiro que começou com algumas dezenas de hectares alcançar na safra atual a marca de 800 hectares plantados, que devem render por volta de 2.000 toneladas”, comenta o pesquisador Warley Nascimento.

E, se considerar que para suprir a demanda interna do Brasil são necessárias oito mil toneladas de grão-de-bico, um único produtor já teria condições de atender 20% dessa quantidade. Porém, do volume total produzido por Artiaga, parte é guardada para servir de semente para o próximo plantio, outra parte é comercializada para a indústria processadora e ainda há um percentual destinado à exportação. Por isso, Nascimento frisa a importância de desenvolver mais pesquisas e promover o cultivo para o setor produtivo. “O grão-de-bico realmente se revela uma alternativa viável como produto de exportação.”

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