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Pesquisadores alertam para riscos dos alimentos ultraprocessados
Desafio de manter uma alimentação saudável foi o tema do USP Talks de novembro. Professores da USP falaram sobre industrialização, carne, veganismo e a importância de comer comida “de verdade”
Pixabay
Há muitas receitas possíveis para se manter uma alimentação saudável hoje em dia; mas todas elas têm (ou deveriam ter) um ingrediente em comum: evitar o consumo de alimentos “ultraprocessados”.
O termo, cunhado por pesquisadores brasileiros em 2009 — e reconhecido recentemente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) —, refere-se àqueles produtos industrializados, cheios de aditivos e conservantes, que, apesar de comestíveis, “estão tão distantes dos alimentos naturais que talvez a gente nem devesse chamar de alimentos”.
A palavras — e os alertas — são do médico Dr. Carlos Monteiro e da nutricionista Dra. Maria Laura Louzada, ambos pesquisadores do Núcleo do Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), e palestrantes do último evento da série USP Talks, sobre Alimentação Saudável.
Estima-se que dois terços das doenças crônicas no mundo — incluindo diabete, hipertensão, colesterol alto e diversas outras complicações cardiovasculares, além de vários tipos de câncer — estão relacionados a maus hábitos alimentares. E um dos hábitos alimentares mais nocivos à saúde atualmente, segundo os pesquisadores, é justamente o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, bolachas, salgadinhos, salsichas e hambúrgueres, doces e sorvetes industrializados, margarina, preparações de bolo, macarrão e molhos instantâneos, entre outros.
A produção e comercialização desses produtos cresceram muito desde a Segunda Guerra Mundial, “na esteira da Coca-Cola”, segundo o Dr. Monteiro, ao ponto de que 60% das calorias consumidas pela população dos Estados Unidos atualmente são provenientes de alimentos ultraprocessados. No Brasil, esse índice chega próximo de 20%.
“Há muitas evidências que essa substituição de alimentos naturais ou minimamente processados e preparações culinárias por esses produtos ultraprocessados é um dos principais motores da epidemia mundial de obesidade e diabete, por exemplo”, alertou o Dr. Monteiro.
Reconhecido como um dos principais pesquisadores do mundo nessa área, ele reiterou a clássica recomendação do escritor Michael Pollan para uma alimentação saudável: “Coma alimentos. Não muito. Majoritariamente, plantas.”
Reducionismo
A Dra. Maria Laura Louzada fez uma explanação sobre o Guia Alimentar para a População Brasileira, elaborado pela equipe do Nupens e publicado pelo Ministério da Saúde em 2014, com o intuito de orientar as boas práticas alimentares na sociedade. Um dos conceitos básicos do guia é que os alimentos são muito mais do que os nutrientes que os compõem, e que uma boa alimentação não pode se resumir a uma simples tabela de valores nutricionais — como preconiza a famosa, porém equivocada, “pirâmide alimentar”.
“A maioria dos guias alimentares no mundo ainda tem uma visão extremamente reducionista sobre o que é alimentação”, que enxerga os alimentos apenas como “sistemas de transferências de nutrientes”, ignorando outras características dos próprios alimentos e do ato de comer “que também determinam a nossa saúde”, disse a Dra. Maria Laura.
Veganismo
No debate com a plateia, os pesquisadores falaram sobre a questão do veganismo e da chegada dos hambúrgueres vegetais, ou “fake burgers”, às grandes redes de fast food.
Segundo a Dra. Maria Laura, há um consenso bem estabelecido na comunidade científica de que o consumo de carne — particularmente, carne vermelha — não é ideal, nem para a saúde nem para o meio ambiente. “As carnes devem ser consumidas com moderação”, disse. Mas é preciso cuidado, também, para não substituir uma coisa por outra que pode ser igualmente ruim, ou até pior.
O fake burger que está sendo vendido nas redes de fast food, por exemplo, é um alimento ultraprocessado, feito com isolado proteico (não vegetais inteiros) e adição de corantes, aromatizantes, etc. “Do ponto de vista da saúde, ele não acrescenta nada”, disse o Dr. Monteiro.
Sobre a intolerância ao glúten e à lactose, ele disse que são problemas reais, mas que afetam uma parcela muito pequena da população, e acabam sendo “magnificados” pela indústria de alimentos, com o intuito de criar novos nichos e vender mais produtos. “Muitas pessoas são levadas a acreditar que têm mais problemas do que têm”, disse o pesquisador.
Acesse a notícia completa na página do Jornal da USP.
Fonte: Herton Escobar, Jornal da USP. Imagem: Pixabay.
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