Produção Consciente

Tecnologias Eficazes na Pós-Colheita: Qualidade Máxima, Desperdício Mínimo

A bioeconomia permite à sociedade dispor de opções tecnológicas com menor impacto ambiental, bem como aumentar a produtividade agrícola

Divulgação

Fonte

O Agronômico – IAC

Data

20 abril 2018

Áreas

Agricultura, Agronegócio, Ciências Agrárias

A bioeconomia, economia sustentável que surge como resultado de inovações na área das ciências biológicas, está relacionada ao desenvolvimento e uso de produtos e processos biológicos nas áreas da biotecnologia industrial, da saúde humana e da produtividade agrícola e pecuária. A bioeconomia permite à sociedade dispor de opções tecnológicas com menor impacto ambiental, transformar processos industriais, bem como aumentar a produtividade agrícola. Está estreitamente ligada à busca por novas tecnologias que priorizem a qualidade de vida da sociedade e do meio ambiente. Seguindo essa vertente, entende-se que uso de tecnologia de ponta com cultivares de alta qualidade genética e sistemas de produção de alta eficiência são essenciais para a bioeconomia, porém podem ser falhos se não houver alinhamento na cadeia de hortícolas visando a redução de perdas e a preservação da qualidade dos alimentos.

O segmento pós-colheita de hortícolas merece atenção especial e ações estratégicas por apresentar elevados índices de perdas devido à perecibilidade intrínseca dos produtos. A cadeia de produção de produtos hortícolas frescos, que inclui frutas, hortaliças e plantas ornamentais, é caracterizada por uma série de entraves que culminam em perda da qualidade e alto desperdício, principalmente relacionados à falta de cadeia do frio, à ocorrência de danos mecânicos, distúrbios fisiológicos e deterioração microbiana agravada, ainda, em alguns casos, por veicular patógenos que podem causar doenças ao consumidor ou pragas quarentenárias. As perdas de produtos derivados da produção de hortifruti no Brasil variam entre 35 e 40%, o que seria suficiente para alimentar muitos milhões de pessoas. Uma política para redução de perdas compreende pelo menos três dimensões integradas: produção, abastecimento e comercialização e consumidor final.

Podemos começar pela produção de hortícolas, que se mostra bastante fragmentada com milhares de produtores em diferentes regiões produtoras e não suficientemente organizados em um associativismo eficaz. Ainda sobre a produção, vale mencionar que não existe na cadeia um elo organizador. No caso de produtos industrializados, a indústria estabelece os padrões da matéria-prima, o que de nenhum modo ocorre no caso de hortícolas frescas. A falta de orientação aos produtores para tomada de decisões que atendam às suas necessidades de produção e que satisfaçam as demandas de mercado é um dos entraves que contribuem para as perdas ao longo da cadeia produtiva. Deve-se considerar também que essas perdas não se limitam somente aos frutos ou hortaliças que foram descartados. Ao se jogar fora o alimento/produto final, também são desperdiçados os recursos empreendidos para sua produção: solo, água, energia solar, energia humana, sementes, fertilizantes e tecnologias – com toda a pesquisa, conhecimento e trabalho empregados para gerar a produção.

A segunda dimensão está no campo do abastecimento e comercialização, englobando os mercados atacadista e varejista. Analisando a comercialização dos hortícolas, notamos a complexidade desse sistema, com a falta de adoção de uma linguagem comum de mercado, a falta de padronização, gerando desconfiança e ineficiência ao processo. A concentração do varejo em grandes redes e a força do atacado criam uma enorme dificuldade e vulnerabilidade ao produtor para a comercialização dos hortícolas. A cadeia de transportes promove perdas devido a fatores como estradas rurais e/ou secundárias mal conservadas; processo de manuseio excessivo e inadequado do produto no momento de carga e descarga de caminhões e uso de embalagens e empilhamento inadequados, além das dificuldades logísticas e burocráticas em portos e aeroportos. Outro fator crítico é a inexistência ou precariedade de cadeia de frio e do emprego de boas práticas pós-colheita, o que contribui para acelerar a perecibilidade intrínseca do hortícola, material vivo.

A terceira esfera está no consumo, que compreende a educação para um consumo sustentável. Todos esses acréscimos percentuais de perdas ao longo da cadeia contribuem de forma direta para o desperdício de alimentos e para o aumento do preço final do produto que chega ao consumidor. Para que o ecossistema da produção de alimentos funcione com sustentabilidade social e ambiental, é imprescindível a integração dos diferentes elos da cadeia, vertical e horizontalmente.

O desafio é grande, e a equipe de pesquisadores de pós-colheita do Instituto Agronômico – IAC, sediada no Centro de Ecofisiologia e Biofísica, tem concentrado seus esforços no emprego da ciência e no desenvolvimento de tecnologias para a conservação de qualidade de produtos hortícolas e redução de perdas, por meio da integração de diversas áreas do conhecimento.

A fisiologia, com estudos dos processos fisiológicos e bioquímicos que ocorrem nos frutos, flores e hortaliças após a colheita, é uma área fundamental para a pós-colheita, uma vez que suporta a base do conhecimento necessário para a área tecnológica. Entender como os eventos do amadurecimento são regulados significa a possibilidade de manipulá-los, visando à obtenção de produtos com qualidade e com o mínimo de perdas na pós-colheita (Figuras 1 a 7). Exemplo de estudos na área é a pesquisa voltada ao conhecimento da fisiologia pós-colheita das novas tangerinas desenvolvidas ou introduzidas pelo IAC, para auxiliar no desenvolvimento de técnicas adequadas para a conservação, armazenamento e comercialização desses cultivares. A produção de tangerinas no estado de São Paulo é dominada pela tangerina ‘Ponkan’ e o tangor ‘Murcott’, que juntos representam mais de 80% da área plantada. É importante a ampliação e fortalecimento do mercado interno de citros de mesa por meio da diversificação, da oferta de novas cultivares e de melhoria na qualidade da fruta, envolvendo, inclusive, avanços em aspectos relacionados à comercialização. As tangerineiras ‘Fremont’ e ‘Maria’, estudadas pelo programa de melhoramento do Centro de Citricultura Sylvio Moreira/IAC, demonstram características organolépticas promissoras, no entanto estudos de fisiologia e conservação pós-colheita são necessários para que sejam traçadas estratégias eficientes de conservação para esses cultivares. A equipe de pós-colheita do IAC vem pesquisando as condições ideais de colheita e armazenamento da ‘Maria’ e, até o momento, as pesquisas indicam que a colheita um pouco mais tardia e o armazenamento a 5ºC, são as melhores condições para a obtenção da qualidade máxima e conservação pós-colheita dessa tangerina (Figura 8). Já a tangerina cv. ‘Fremont’ pode ser armazenada a 10ºC; para os frutos não refrigerados, a aplicação de cera de recobrimento parece promissor para conservação de suas características.

Acesse o artigo completo na página do O Agronomico – IAC.

Fonte: Ilana Urbano Bron, Eliane Aparecida Benato, Gláucia Moraes Dias, Juliana Sanches de Laurentiz, Maria Fernanda Demonte Penteado Moretzsohn de Castro, Patrícia Cia1 e Silvia Regina de Toledo Valentini – O Agronômico – IAC. Imagem: Divulgação.

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