Notícia
Pesquisa explora as riquezas da semente de açaí
A pesquisa descobriu que o descarte de toneladas de resíduos de açaí tinha em sua composição um alto conteúdo de manana, que tem larga possibilidade de usos na indústria de alimentos e de cosméticos
Amanda Oliveira, INT
Fonte
FAPERJ
Data
sexta-feira, 9 agosto 2019 11:30
Áreas
Agronegócio. Biotecnologia. Ciência e Tecnologia de Alimentos
Foi ao receber uma visita de rotina no laboratório em que trabalha que a Dra. Ayla Sant’Ana, já interessada em trabalhar com a flora amazônica, viu sua ideia começar a se concretizar. Na oportunidade, ainda em 2015, a pesquisadora do Laboratório de Biocatálise do Instituto Nacional de Tecnologia (Labic/INT) aproveitou para perguntar quais eram os maiores desafios em relação a resíduos da região e descobriu que 80% da semente de açaí era descartada no processo de produção e não tinha destino definido. Tendo trabalhado com biomassa da cana-de-açúcar no mestrado e no doutorado, a Dra. Ayla contava com expertise na área, mas gostaria de trocar de objeto de estudo e passou então a se dedicar à composição da semente de açaí. Vencedora do Prêmio Capes de Tese, em 2014, na categoria Biotecnologia, e, naquela ocasião, em fase de estágio probatório no INT, a pesquisadora trocou a oportunidade de fazer um ano de pós-doutorado no exterior por recursos para sua nova pesquisa. “Essa foi a oportunidade que eu tive de me lançar em um novo tema. E então comecei a pesquisar e a entrar nessa área de resíduos amazônicos”, contou.
Para surpresa da bióloga, descobriu que aquilo que era descartado a toneladas, tinha em sua composição um alto conteúdo de uma substância chamada manana, geralmente encontrada em baixa quantidade na natureza, e com larga possibilidade de usos na indústria de alimentos e de cosméticos. “Na semente de açaí, 50% da massa seca é formada por manana e não existe registro, pelo menos nós não encontramos, de nenhum outro resíduo agroindustrial abundante que tenha uma quantidade de manana tão grande disponível na natureza. Então, o que hoje é considerado lixo e está simplesmente sendo queimado, nós vemos como algo extremamente valioso, com uma composição diferenciada,”, entusiasma-se a Dra. Ayla.
De grande potencial, a pesquisa está em fase de conclusão da primeira etapa, relativa à identificação da composição química da semente. Uma das formas de descrever as suas propriedades, explica a pesquisadora, é decompor as moléculas de açúcar até sua unidade fundamental, que, no caso da manana, significa chegar até a manose. Esses açúcares, presentes em toda semente como reserva de energia, são necessários até que seja gerada a primeira folha e, a partir daí, a força para o crescimento e desenvolvimento passa a vir da fotossíntese. É nessa composição que está o potencial dessa semente. “Esses dois produtos têm um valor de mercado muito alto. Tanto a manose é utilizada diretamente como fármaco na indústria farmacêutica como pode ser uma molécula de partida para o desenvolvimento de várias outras moléculas de interesse”, conta a pesquisadora.
Em agosto de 2018 a equipe coordenada pela Dra. Ayla depositou um pedido de patente do processo que levou à descoberta. E nesta semana a revista Nature publicou um artigo da equipe sobre a pesquisa desenvolvida. O trabalho estará descrito detalhadamente na dissertação de Ingrid Santos Miguez, contemplada com uma Bolsa Nota 10 da FAPERJ, para a realização de seu mestrado. Nesse processo de caracterização está a bolsista de Iniciação Científica Ingrid Venturelli, também contemplada pela Fundação. Atualmente, o principal financiador da pesquisa é o Instituto Serrapilheira, do qual a Dra. Ayla receberá R$ 1 milhão ao longo dos próximos três anos.
Possibilidades
Atualmente a manose já é utilizada para tratamento de infecção urinária, ainda que seus efeitos não sejam um consenso entre os pesquisadores da área médica. Dra. Ayla destaca o potencial da manose como “molécula de partida” para a produção de outras substâncias, como o manitol, receitado a todos que fazem o exame de colonoscopia, para limpeza do intestino. De acordo com a bióloga, atualmente o processo para a produção do manitol tem como base moléculas de sacarose, com aproveitamento de 25%, mas poderia chegar a 90% com a manose.
Ela conta que um licor de coloração avermelhada extraído da semente apresentou características igualmente animadoras, rica em polifenóis, substâncias associadas a propriedades antioxidantes e propriedades anti-inflamatórias. No último ano, o grupo se concentrou em realizar a caracterização química aprofundada do extrato, utilizando técnicas de identificação de alta resolução, em colaboração do Laboratório de Tabaco e Derivados do INT e do Centro de Espectrometria de Massas de Biomoléculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Acesse a notícia completa na página da FAPERJ.
Fonte: Juliana Passos, FAPERJ. Imagem: Amanda Oliveira, INT.
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