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Pães de ora-pro-nóbis e Bolo de moringa foram algumas das receitas do projeto “Panc – Vamos comer?”

Estimativas apontam que no Brasil existam cerca de 10 mil vegetais com possibilidades de uso culinário, mas somente cerca de 50 são consumidos diariamente em casa, ou menos

Divulgação, UEG

Fonte

UEG | Universidade Estadual de Goiás

Data

sábado, 29 junho 2019 11:15

Áreas

Ciência e Tecnologia de Alimentos . Gastronomia. Nutrição Coletividades. Nutrição Funcional

Mato para comer

Aqui, o verbo não é matar. O verde indica que há alternativas comestíveis não convencionais além de animais. Mais ainda: o “mato” pode ser rico em nutrientes e dependendo da espécie, substituir a carne em proteína. Assim, o alimento pode ser democratizado e a cor do sangue pode ser verde ao invés de azul.

Um banquete estava posto. Bolo de moringa, geleia de jasmim-manga, pães de ora-pro-nóbis e patê de major-gomes eram as opções de um cardápio incomum. No paladar, os nomes estranhos ganharam referências familiares. Jasmim-manga lembrou doce de figo e ora-pro-nobis se aproximou ao gosto de batata. Diversificar o repertório gastronômico e utilizar ingredientes negligenciados ou subutilizados foi a proposta de uma manhã de degustação em Itumbiara cujas protagonistas das receitas foram plantas, ou melhor, Pancs – Plantas Alimentícias não Convencionais.

“Há a ideia que determinado tipo de planta seja veneno ou mato e a dúvida se pode ou não experimentar acaba limitando”

Elas estão por todo lado, mas são consideradas não convencionais devido à baixa inserção na alimentação e pelo desconhecimento das pessoas sobre as espécies comestíveis. Além das citadas no início, existem inúmeras plantas que podem ser encontradas facilmente e inseridas na alimentação, como picão-preto ou carrapicho, hibisco, baru, serralhinha, dente-de-leão e tantas outras. Estimativas apontam que no Brasil existam cerca de 10 mil vegetais com possibilidades de uso culinário, mas somente cerca de 50 são consumidos diariamente em casa, ou menos.

Foi o paladar da estudante de Farmácia Ayane Dantas, de Itumbiara da Universidade Estadual de Goiás (UEG), que assimilou os sabores das Pancs aos percebidos no dia a dia. Ayane faz parte do projeto de extensão Panc – Vamos comer?, desenvolvido na UEG Itumbiara desde 2016. A partir da própria experiência, as pessoas próximas a Ayane também passaram a conhecer e a enriquecer a alimentação cotidiana sempre que possível. “Minha família gostou da ideia, mas estranhou no começo. Falei tudo o que eu aprendi e mostrando reportagens e entrevistas sobre Pancs, o pensamento mudou e passamos a utilizar em alguns pratos”, conta.

“Antes de consumir uma planta desconhecida, deve-se procurar informações e ter certeza da identificação botânica para não ingerir um vegetal potencialmente tóxico”

Quando se fala em plantas não convencionais, ainda predominam certo receio e desconfiança. “Há a ideia que determinado tipo de planta seja veneno ou mato e a dúvida se pode ou não experimentar acaba limitando”, diz Ayane. Mas é necessário ter cautela mesmo, pois algumas espécies podem ser prejudiciais e conter antinutrientes, substâncias como os oxalatos, que dificultam a absorção de nutrientes como cálcio e o ferro. “Antes de consumir uma planta desconhecida, deve-se procurar informações e ter certeza da identificação botânica para não ingerir um vegetal potencialmente tóxico”, orienta a professora Dra. Cristiane Bolina, coordenadora do projeto de extensão integrado por Ayane desde 2017.

De acordo com a Dra. Cristiane, o que diferencia uma Panc de uma planta convencional é o local onde a espécie é encontrada. “Por exemplo, o pequi é convencional em Goiás, pois é uma planta nativa do nosso bioma, o cerrado. Porém, é Panc no sul do país, onde existem outras plantas nativas que não são convencionais para quem mora em Goiás”, explica. Além disso, a forma como são inseridas na alimentação também as distingue, como se empregar a casca de banana no preparo de geleia ou a flor da bananeira no preparo de refogados ou acompanhamento de carnes. “Outro uso não convencional é a substituição da carne pelo fruto da jaca verde, por exemplo, nos mais variados pratos, como coxinha, fricassê e estrogonofe”, afirma a Dra. Cristiane.

No semestre passado a equipe ministrou palestras no município sobre o tema e criou uma horta didática na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). “Os alunos da Associação podem desenvolver atividades de contato com a terra e manuseio das hortaliças produzidas, assim como no preparo de alimentos”, conta a professora Cristiane Bolina. Segundo ela, as atividades estimulam a coletividade e melhoram as relações pessoais. Além disso, facilita também o entendimento sobre questões ambientais e qualidade de vida, contribuindo para o aprendizado e desenvolvimento cognitivo.

Pancs são ricas em nutrientes essenciais para a saúde, como ferro, fósforo, cálcio, vitaminas, além de fibras, aminoácidos e proteínas. A bertalha, também chamada de espinafre-indiano, é rica em zinco, elemento importante para aumentar a imunidade e prevenir doenças crônicas. Considerada planta milagrosa devido à riqueza química e nutricional, a moringa possui altas concentrações de vitaminas A e C, cálcio, ferro, potássio e todos os aminoácidos indispensáveis ao organismo.

“Enquanto muitos morrem de fome, toneladas de comida são jogadas no lixo todos os dias. Desperdiçamos alimentos na nossa própria casa.”

Foi explicando esses benefícios que o técnico em enfermagem Randerson Policarpo levou o assunto para dentro de casa. Randerson, que é e colega de curso de Ayane, conta que os pais, residentes em Ituiutaba, Minas Gerais, ainda são resistentes mesmo sabendo das possibilidades de manejo das Pancs. “Elas também são mais resistentes quanto a climas distintos e à dependência de água. As mudas brotam com facilidade e se desenvolvem rápido”, afirma, ao defender que elas poderiam ser fornecidas a baixo custo para a população, o que permitiria o consumo independente da classe social.

“Enquanto muitos morrem de fome, toneladas de comida são jogadas no lixo todos os dias. Desperdiçamos alimentos na nossa própria casa. Cascas, raízes e folhas poderiam ser melhor aproveitadas, o que geralmente não acontece”, reflete Randerson.

Estimativas mostram que até 2050 existirão mais de 9 bilhões de pessoas no mundo. Como alimentar tanta gente é uma questão preocupante, sobretudo quando se admite que no Brasil mais de sete milhões de pessoas convivem com a fome. Até a população que não sofre com a pobreza apresenta dieta alimentar pobre, feita de poucos alimentos, mesmo o país possuindo a maior biodiversidade do planeta. Para Cristiane Bolina, seja por questões econômicas ou culturais, quando se pensa na variedade de vegetais inseridos na alimentação, nota-se que é basicamente composta pelo trivial: batata, cebola, tomate. “Dessa maneira, as pessoas comem mal mesmo quando comem muito”, afirma.

Acesse a notícia completa na página da UEG.

Fonte: Weber Witt, UEG.  Imagem: Divulgação, UEG.

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