Notícia

Dietas cetogênicas podem alterar microbioma intestinal em humanos

Nas dietas cetogênicas, o consumo de carboidratos é drasticamente reduzido, a fim de forçar o organismo a alterar seu metabolismo

Divulgação

Fonte

Universidade da Califórnia em São Francisco

Data

quarta-feira, 24 junho 2020 10:05

Áreas

Nutrição Clínica

Dietas cetogênicas, com baixo teor de carboidratos e alto teor de gordura, que atraíram interesse público nos últimos anos pelos benefícios propostos na redução da inflamação e na promoção da perda de peso e da saúde do coração, têm um impacto significativo nos microrganismos que residem no intestino humano, coletivamente referidos como microbioma, de acordo com um novo estudo da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), nos Estados Unidos.

Pesquisas anteriores em camundongos mostraram que os chamados corpos cetônicos, um subproduto molecular que dá nome à dieta cetogênica, afetam diretamente o microbioma intestinal de maneiras que acabam por suprimir a inflamação, sugerindo evidências de potenciais benefícios dos corpos cetônicos como terapia para distúrbios autoimunes que afetam o intestino.

Nas dietas cetogênicas, o consumo de carboidratos é drasticamente reduzido a fim de forçar o corpo a alterar seu metabolismo, usando moléculas de gordura (em vez de carboidratos) como sua principal fonte de energia e produzindo corpos cetônicos como subproduto. Defensores da dieta alegam que esta mudança pode ter inúmeros benefícios à saúde.

“Eu me interessei por essa questão porque nossa pesquisa anterior mostrou que dietas ricas em gordura induzem mudanças no microbioma intestinal que promovem doenças metabólicas e outras em camundongos, mas dietas cetogênicas, que possuem ainda maiores teores de gordura, foram propostas como uma maneira para prevenir ou até tratar doenças. Então, decidimos explorar essa dicotomia intrigante”, disse o Dr. Peter Turnbaugh,  professor de microbiologia e imunologia da UCSF.

Em um novo estudo, publicado na revista científica Cell, o Dr. Turnbaugh e colegas fizeram parceria com a Nutrition Science Initiative, sem fins lucrativos, para recrutar 17 homens adultos com sobrepeso ou obesos e não diabéticos, para passar dois meses como pacientes internados em uma enfermaria metabólica onde suas dietas e níveis de exercício foram cuidadosamente monitorados e controlados.

Nas primeiras quatro semanas do estudo, os participantes receberam uma dieta “padrão” composta por 50% de carboidratos, 15% de proteína e 35% de gordura, ou uma dieta cetogênica composta de 5% de carboidratos, 15% de proteína e 80% de gordura. Após quatro semanas, os dois grupos trocaram de dieta, para permitir que os pesquisadores estudassem como a mudança entre as duas dietas alterava os microbiomas dos participantes.

A análise do DNA microbiano encontrado nas amostras de fezes dos participantes mostrou que a troca entre dietas padrão e cetogênicas alterou drasticamente as proporções dos filos microbianos intestinais comuns Actinobacteria, Bacteroidetes e Firmicutes nos intestinos dos participantes, incluindo alterações significativas em 19 gêneros bacterianos diferentes. Os pesquisadores se concentraram em um gênero bacteriano em particular – o probiótico comum Bifidobacteria – que mostrou a maior diminuição na dieta cetogênica.

Para entender melhor como as mudanças microbianas na dieta cetogênica podem afetar a saúde, os pesquisadores expuseram o intestino de camundongos a diferentes componentes de microbiomas dos seres humanos que aderem às dietas cetogênicas e mostraram que essas populações microbianas alteradas reduzem especificamente o número de células imunológicas Th17 – um tipo de células T crítico para combater doenças infecciosas, mas que também é conhecido por promover inflamação em doenças autoimunes.

Experimentos de acompanhamento de dieta em camundongos, nos quais os pesquisadores mudaram gradualmente as dietas dos animais entre dietas com baixo teor de gordura, alto teor de gordura e baixo carboidrato, confirmaram que dietas com alto teor de gordura e cetogênicas têm efeitos opostos no microbioma intestinal. Essas descobertas sugeriram que o microbioma responde de maneira diferente à medida que o nível de gordura na dieta dos animais aumenta para níveis que promovem a produção corporal de cetonas na ausência de carboidratos.

Os pesquisadores testaram se os corpos cetônicos sozinhos poderiam conduzir as mudanças que haviam visto no ecossistema microbiano do intestino, alimentando diretamente corpos cetônicos aos ratos. Eles descobriram que, mesmo em camundongos que ingeriam quantidades normais de carboidratos, a mera presença de cetonas adicionadas era suficiente para produzir muitas das mudanças microbianas específicas observadas na dieta cetogênica.
“Esta é uma descoberta realmente fascinante, porque sugere que os efeitos das dietas cetogênicas no microbioma não são apenas sobre a dieta em si, mas como a dieta altera o metabolismo do corpo, que em seguida tem efeitos a jusante no microbioma”, disse o Dr. Turnbaugh. “Para muitas pessoas, manter uma dieta estrita com pouco carboidrato ou cetogênica é extremamente desafiador, mas se estudos futuros descobrirem que há benefícios para a saúde com as mudanças microbianas causadas pelos próprios corpos cetônicos, isso pode resultar em uma abordagem terapêutica muito mais agradável”, concluiu o pesquisador.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia na página da Universidade da Califórnia em São Francisco (em inglês).

Fonte: Nicholas Weiler, UCSF.  Imagem: Divulgação.

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