Notícia

Uma nova abordagem para tratar a obesidade

A nutrição é uma questão complexa que vai da saúde humana ao meio ambiente

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Fonte

Universidade de Pádua  

Data

quarta-feira, 14 fevereiro 2018 14:41

Áreas

Nutrição Clínica

O Dr. David Raubenheimer, professor de Ecologia Nutricional da Escola de Ciências Ambientais e da Vida da Universidade de Sydney, é um especialista mundial em ecologia nutricional, a disciplina que estuda como os aspectos ambientais relacionados à nutrição animal interagem com a biologia para determinar sua condição física e de saúde. Sua abordagem comparativa utiliza a diversidade ecológica e evolutiva para entender essas interações. Seus estudos sobre insetos, peixes, aves e mamíferos ajudaram a desenvolver uma nova abordagem para problemas relacionados à nutrição humana, como a compreensão das causas da obesidade.

O especialista estava entre os professores convidados na Escola de Inverno de Alimentação e Saúde realizada na Universidade de Pádua entre 29 de janeiro e 10 de fevereiro. Abaixo, a transcrição de trechos da entrevista concedida a Francesco Suman, da Universidade de Pádua:

[Francesco Suman] – O título da sua palestra na Escola de Inverno de Alimentação e Saúde foi “A alimentação humana: onde erramos e como podemos melhorar”. Fale um pouco sobre sua apresentação.

[Dr. David Raubenheimer]  – Os problemas relacionados à nutrição humana são muitos e ultimamente estão aumentando mais rápido do que nunca. O número de pessoas que morrem de má nutrição (incluindo desnutrição, hipernutrição e dietas não balanceadas) é de 17.500 por dia, o que equivale a 35 jatos gigantes cheios de pessoas que morrem todos os dias. Como nutricionistas, devemos nos perguntar o que deu errado e o que podemos fazer sobre isso. Nas minhas palestras, enfatizei sempre que a nutrição é um assunto muito complexo, envolvendo não apenas a biologia, mas a economia, a política, a psicologia e um conjunto de muitas outras disciplinas. Eu acredito que uma maneira de tornar a nutrição uma ciência mais eficaz é aumentar as colaborações interdisciplinares, nas quais cientistas com diferentes habilidades trabalham juntos para entender por que as pessoas comem o que comem e como ajudá-las a melhorar sua nutrição. Mas problemas complexos como a nutrição não serão resolvidos simplesmente aumentando o número de disciplinas envolvidas. Novas abordagens também são necessárias para desenvolver novas teorias sobre dieta e saúde. No momento, a nutrição não é uma ciência suficientemente teórica e isso é um problema. Outro problema é a forma como pensamos sobre a nutrição, em componentes químicos e nutrientes individuais e nos perguntamos o que causa a obesidade – gorduras ou carboidratos? As doenças cardíacas são causadas por açúcares ou gorduras saturadas? Discutimos isso há décadas. Essas substâncias não atuam isoladas, mas em misturas complexas. Em vez disso, devemos nos perguntar qual é o papel das gorduras e carboidratos na obesidade, como eles interagem uns com os outros e como eles interagem com outros nutrientes, como as proteínas. Minha abordagem é a da ecologia da nutrição, que se baseia na teoria ecológica e evolutiva desenvolvida nos últimos 150 anos. Nas minhas aulas, mostrei como isso pode ajudar a compreender as dietas humanas, trazendo exemplos em que a ecologia da nutrição forneceu novas ideias e propôs soluções para alguns dos problemas mais importantes que temos de enfrentar na indústria de alimentos.

[Francesco Suman] –  Qual é a sua hipótese sobre “proteínas como alavanca”?

[Dr. David Raubenheimer]  – A hipótese sobre as proteínas como alavanca surge exatamente desse tipo de abordagem ecológica e evolutiva. O apetite é a porta de entrada entre o meio ambiente e os nutrientes que entram no nosso corpo para nos tornar saudáveis ​​ou doentes. Animais e pessoas precisam de diferentes nutrientes por diferentes razões e a teoria evolutiva sugere que diferentes apetites estão associados a diferentes nutrientes. Nossa pesquisa mostrou que temos um apetite por proteínas, um por carboidratos e outro por gorduras. Podemos fazê-los trabalhar juntos para nos ajudar a combinar uma dieta balanceada (cerca de 15% de proteínas). Mas se por algum motivo temos uma dieta desequilibrada (digamos 10% de proteínas), há um conflito entre os vários apetites e não podemos assimilar a quantidade correta de proteínas, gorduras e carboidratos ao mesmo tempo. Para comer a quantidade correta de carboidratos e gorduras, comeríamos poucas proteínas. Se comêssemos a quantidade certa de proteínas, comeríamos muitos carboidratos e gorduras. Nossos hábitos dependem de qual apetite é mais forte.
Nossos estudos mostram que, nos homens, o apetite pelas proteínas é o mais forte. Isso significa que, quando comemos uma dieta de baixa proteína (por exemplo, quando comemos fast food), nosso apetite proteico nos leva a consumir mais gordura e carboidratos para atingir a quantidade correta de proteínas. Chamamos esse fenômeno de “alavanca proteica”, pois descreve uma situação em que as proteínas levam a uma ingestão excessiva de gorduras e carboidratos. A hipótese da “alavanca proteica” sugere que a obesidade se manifesta quando as pessoas seguem dietas de baixa proteína. Isso nos dá um foco muito diferente em como pensamos sobre as causas da obesidade. A partir daqui, devemos nos perguntar: o que leva à diminuição do conteúdo proteico de nossas dietas, levando-nos a consumir mais carboidratos e gorduras?

[Francesco Suman] – Uma dieta desequilibrada está ligada não só a problemas de saúde, mas também a questões ambientais importantes, como o consumo de água e o uso da terra. O que você acha da possibilidade de reduzir o consumo de carne em escala global?

[Dr. David Raubenheimer]  – Eu acho que a carne animal pode contribuir com a dieta humana, mas não acho uma contribuição indispensável e acho que não é necessário comer toda a carne que comemos hoje. Sabemos que os impactos sobre a saúde são grandes e o consumo de carne também é um problema para o meio ambiente, mesmo que isso varie de acordo com os animais e os métodos de reprodução. Em geral, seria muito mais eficiente nos alimentarmos diretamente de produtos agrícolas do que usá-los como alimentos para animais e depois nos alimentarmos dos animais.

[Francesco Suman] – O que acha sobre as dietas baseadas em insetos como uma possível solução para os problemas de saúde e ambientais que discutimos?

[Dr. David Raubenheimer]  – Os insetos poderiam dar uma excelente contribuição à dieta humana em geral e já o fazem em muitas culturas. Eles têm um bom valor nutricional,  fornecem proteínas de alta qualidade, gorduras, são ricos em micronutrientes e causam muito menos problemas ambientais do que a pecuária.

Acesse a entrevista completa no site da Universidade de Pádua.

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