Notícia
Sal em excesso pode contribuir diretamente para a disfunção cerebral
Em média os participantes consumiam 12 gramas de sal diariamente, o que é mais do dobro do valor máximo recomendado pela OMS que são 5 gramas por dia
Fer Martinez Gonzalez via Pexels
Fonte
Universidade do Porto
Data
quarta-feira, 10 julho 2024 11:30
Áreas
Ciência e Tecnologia de Alimentos. Engenharia de Alimentos. Gastronomia. Nutrição Clínica. Nutrição Coletividades. Saúde Pública
Já se sabe que o consumo de sal em excesso pode provocar hipertensão arterial, um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, como o acidente vascular cerebral (AVC).
Uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) demonstrou agora resultados sugerindo que o sal em excesso tem um efeito direto no cérebro, provocando danos significativos nos vasos sanguíneos.
Estudos realizados pela pesquisadora e neurologista Ana Monteiro, no âmbito do seu doutoramento na FMUP, provaram que as pessoas que comem mais sal têm disfunção dos pequenos vasos cerebrais, independentemente do seu controle da tensão arterial, o que poderá relacionar-se com problemas cognitivos e aumentar a probabilidade de demência.
A equipe de pesquisadores avaliou pessoas com hipertensão arterial bem controlada (com valores dentro do normal sob medicação), mas que ainda não tinham sintomas. Além de terem hipertensão arterial, muitos dos doentes estudados tinham também diabetes.
Consumo (bem) acima do recomendado
Os doentes, recrutados num hospital da região do Porto, submeteram-se a uma série de exames, designadamente à avaliação da quantidade de sódio ingerida diariamente, da pressão arterial (durante 24 horas) e a provas que avaliam a saúde e funcionamento dos pequenos vasos cerebrais, mais suscetíveis ao dano causado pela tensão elevada. Foram ainda realizadas ressonâncias magnéticas para avaliar a presença de lesões cerebrais silenciosas e foi estudado o funcionamento cognitivo, incluindo a atenção, a velocidade de raciocínio e a memória.
Em média, verificou-se que os participantes neste estudo consumiam 12 gramas de sal diariamente, o que é mais do dobro do valor máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que são 5 gramas por dia. Os resultados indicam que os doentes que ingeriam mais sal apresentavam menor capacidade de aumentar o fluxo sanguíneo cerebral às zonas do cérebro mais ativas durante uma dada tarefa (neste caso, ao córtex occipital durante uma tarefa visual), indicando maior rigidez das artérias.
“Encontramos uma associação entre a elevada ingestão de sal na dieta e a disfunção microvascular cerebral, nomeadamente no mecanismo fisiológico do acoplamento neurovascular, isto é, de articulação entre os neurônios e os vasos sanguíneos, que está prejudicado”, indicam os pesquisadores.
Assim, como explicam, “a maior ingestão de sal está associada a um pior acoplamento neurovascular durante a estimulação visual”. Por outras palavras, “o sal em excesso torna menos eficaz a comunicação entre neurônios e vasos sanguíneos no cérebro, durante fases de maior necessidade de suprimento vascular aos neurônios responsáveis pela resposta a um estímulo visual”.
Antecipar e prevenir complicações
Enquanto são realizados mais estudos sobre os efeitos do sal no cérebro, os pesquisadores preconizam o recurso a estes biomarcadores de risco precoces de disfunção microvascular em doentes de especial risco.
Deste modo, a investigação com monitorização de biomarcadores por Doppler transcraniano pode contribuir para detetar alterações no cérebro mesmo antes de existirem sintomas de doença, podendo indicar a necessidade de exames de imagem, como a ressonância magnética, ou de tratamento mais rigoroso dos fatores de risco vasculares. Esta poderá ainda ser útil na investigação de resposta a novas intervenções. O objetivo será atuar mais cedo e prevenir as complicações, como o AVC e a demência.
Este estudo teve como autores vários pesquisadores da FMUP, do Hospital de Pedro Hispano e da Northwestern University Feinberg School of Medicine e faz parte de um trabalho de pesquisa mais vasto apresentado em maio, no doutoramento em Neurociências realizado por Ana Monteiro, com orientação da Dra. Elsa Azevedo (FMUP/RISE-Health/ULS São João).
Acesse a notícia completa na página da Universidade do Porto.
Fonte: Cláudia Azevedo e Daniel Dias, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Imagem: Fer Martinez Gonzalez via Pexels.
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