Notícia

Relação entre distúrbios mentais e alimentação

Projetos do Laboratório de Plasticidade Neural (LPN) da UFF abordam questões centrais para a boa evolução desde o ventre materno com o propósito de evitar distúrbios, deficiências mentais e doenças neurodegenerativas

Divulgação

Fonte

Universidade Federal Fluminense

Data

sexta-feira, 28 julho 2017 14:29

Áreas

Nutrição Clínica

Uma boa alimentação é essencial para nossa saúde, mas o que poucas pessoas sabem é que os alimentos que consumimos também podem se relacionar ao desenvolvimento de distúrbios mentais, principalmente nos primeiros anos de vida. Desde 2002, o Laboratório de Plasticidade Neural (LPN) da UFF, vinculado ao Programa de Pós-graduação em Neurociência, realiza pesquisas sobre o desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) e trabalha também com nutrição experimental, através de testes para avaliar os efeitos causados por dietas.

Contando atualmente com professores da UFF, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e estudantes da pós-graduação e da iniciação científica, o LPN iniciou suas atividades em 1994. Desde então, o objetivo é construir conhecimento acerca da natureza das condições normais e patológicas do desenvolvimento neural dos indivíduos, inclusive durante a formação do feto na gravidez. Nesse sentido, os projetos em andamento abordam questões centrais para a boa evolução desde o ventre materno com o propósito de evitar distúrbios, deficiências mentais e doenças neurodegenerativas.

A má nutrição pode produzir quadros de atraso do desenvolvimento que limitarão de forma permanente o desempenho da criança e do adolescente, diz Dr. Serfaty.

O professor e chefe do laboratório, o neurocientista Dr. Claudio Alberto Serfaty, realiza pesquisas na área de desenvolvimento cerebral há mais de 30 anos. Segundo o docente, que pesquisa o cérebro humano desde a iniciação científica, o interesse em aliar suas pesquisas à área de nutrição surgiu depois do doutorado em biofísica, quando já era professor da UFF.

O projeto de pesquisa sobre nutrição e desenvolvimento do sistema nervoso central tem como principal objetivo estabelecer os danos provocados pela má nutrição ao cérebro e de que forma é possível restabelecer o desenvolvimento normal com mudanças nos hábitos alimentares e estratégias de suplementação de nutrientes.

Atraso na fala, apatia e baixa interação social são alguns dos exemplos do que a carência nutricional pode causar. Segundo Dr. Serfaty, a expectativa é que os resultados dos experimentos que estão sendo realizados atualmente no laboratório possam contribuir para a questão da saúde pública e para a conscientização da população acerca da importância de uma alimentação equilibrada para os mais diversos aspectos do desenvolvimento humano.

A seguir, o professor Dr. Claudio Alberto Serfaty esclarece alguns tópicos importantes acerca das pesquisas do LPN:

Como surgiu a ideia de aliar as pesquisas de neurociências à área da nutrição?

A ideia surgiu porque certos nutrientes que dependem exclusivamente da dieta, tais como o triptofano e o ômega-3, têm grande importância para o cérebro. O triptofano é precursor metabólico do neurotransmissor serotonina – substância responsável por regular o humor, o sono, o apetite, entre outros – e o ômega-3 é um ácido graxo fundamental para o funcionamento cerebral.

A deficiência nutricional na mulher gestante pode afetar o desenvolvimento cerebral do feto? Por quê?

Sim, a gestante tem que ter muita atenção à alimentação. É importante ter um bom aporte de proteína de origem animal, ricas em triptofano, e também um equilíbrio na ingestão de gorduras. Quanto menos gorduras saturadas e mais fontes de ômega-3, como peixes e sementes como as castanhas, melhor. Lembrando que o óleo de coco é uma gordura saturada e prejudica o metabolismo dos ácidos graxos ômega-3. É importante ressaltar também que uma gestante ou lactante mal nutrida vai alimentar mal o feto ou o recém-nascido.

Qual é, ou em que consiste, o período crítico em que o cérebro da criança é sensível ao status nutricional e ao padrão de estímulo ambiental?

O período crítico de desenvolvimento é um período que vai do nascimento até os cinco a sete anos de vida, mas que pode se estender até o final da adolescência. Durante este período as sinapses amadurecem e são formados circuitos neuronais que são necessários ao pleno desenvolvimento das funções neurais. A estimulação ambiental é de fundamental importância para o amadurecimento do cérebro assim como uma nutrição correta e equilibrada.

Quais são as gorduras saturadas e quais os efeitos graves elas podem causar no desenvolvimento do SNC?

Gorduras saturadas são gorduras de origem animal ou vegetal que não possuem duplas ligações. Ao contrário, as gorduras poli-insaturadas, notadamente os ácidos graxos ômega-6 e ômega-3 tem diversos papéis fisiológicos e exercem funções no nosso organismo. Por exemplo, os ácidos graxos ômega-e e seu principal derivado, o DHA, é fundamental para a diferenciação de neurônios, manutenção de sua sobrevida, formação de sinapses e circuitos neurais sensoriais. O excesso de gorduras saturadas (de origem animal ou vegetal) impede a conversão de ácidos graxos ômega-3 em DHA prejudicando de forma muito importante o desenvolvimento do cérebro.

Por que os  ácidos graxos ômega-6 são mais prejudiciais?

Os ácidos graxos ômega-6 também são importantes para o organismo. O problema é a alta concentração de ômega-6 em dietas modernas. O excesso de ômega-6, presente nos  óleos vegetais saturados, é prejudicial ao metabolismo dos ácidos graxos ômega-3 e à síntese de DHA.

Quais medidas poderiam ser tomadas para que a má nutrição não interfira no desenvolvimento do SNC?

Sem dúvida os programas sociais de renda mínima e o combate à pobreza garantem que as famílias tenham acesso à cesta básica e a um melhor padrão nutricional. Isso ajuda, com certeza. Além disso, devemos estar sempre alertas à educação nutricional. Os pais devem ficar atentos às crianças que consomem alimentos industrializados em excesso e se recusam a se alimentarem adequadamente com fontes proteicas. Comida saudável é aquela que fazemos em casa.

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