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Povos indígenas enfrentam desafios para atingir a soberania alimentar

Fonte

UFRGS | Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Data

quarta-feira, 16 dezembro 2020 09:30

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“A alimentação já não é mais indígena. É bem diferente do que era no passado. Fazíamos fogo no chão, a panela era de barro, tínhamos mais plantações. Hoje a maioria dos alimentos nós compramos, e quando se compra no mercado temos que preparar do jeito ‘normal’.”

Quando Felipe Brizoela, cacique da aldeia indígena guarani Pindoty, em Riozinho, fala que existe um modo “normal” de preparar os alimentos, ele traça uma linha importante. Esse limite evidencia que o modo de ser indígena foge ao padrão que a sociedade geralmente entende como normalidade, que, no que tange à alimentação, significa comprar mantimentos no supermercado, prepará-los com utensílios de cozinha industrializados e eletrodomésticos.

Hoje, como conta Felipe, mesmo no preparo de comidas tradicionais guaranis, como o mbojape e o reviro, que são elaborados com farinha de trigo ou de milho, o uso de produtos industrializados, de temperos e de utensílios domésticos interfere no modo de ser guarani. “Hoje para ter um alimento com qualidade, tem que ter cebola, alho, pimenta… uma porção bem misturada. Na alimentação indígena não. É uma comida muito tradicional, muito simples, não tem muito tempero em conjunto”, explica, referindo-se aos alimentos comprados no supermercado e à influência da culinária não indígena. Até mesmo as refeições, que antes eram coletivas, agora são preparadas por família, cada uma em sua casa.

Esse quadro representa, para o povo guarani, uma interferência profunda na soberania alimentar. Esse é um termo cunhado no final do século XX que significa que os povos de diferentes culturas devem ter autonomia para decidir sobre suas práticas agrícolas e seus hábitos alimentares. Para diferentes etnias indígenas, isso significa relegar essa suposta normalidade e adotar um modo de vida mais próximo ao de seus antepassados, desde o cultivo até o preparo das refeições — o que vai além de uma questão meramente nutricional.

Para Carolina Silveira Costa, mestre em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e participante da Associação de Estudos e Projetos com Povos Indígenas e Minoritários (AEPIM), “O cultivo tradicional desses povos representa a contagem do tempo, a organização interna social, com base na reciprocidade, a demarcação de espaços familiares e a agricultura viva em seu semear sementes e sabedoria, assim trilhando o que chamamos de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional à sua maneira”. “Isso traz a mensagem de que, mesmo com problemas externos e internos, muitos causados pela colonização, os indígenas, seus corpos e suas relações, tanto entre si quanto com o ambiente, são a biodiversidade que caminha e se mantém”, argumenta Carolina, que vê na vivência dos povos tradicionais um processo contínuo de resistência.

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Fonte: Júlia Provenzi, UFRGS.  Imagem: Pixabay.

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