Notícia

Pesquisadores monitoram chegada de peixe amazônico pirarucu a rios de São Paulo

Estudiosos defendem que aquicultores se limitem a trabalhar com espécies nativas da região onde estão localizados os tanques para criação

Cliff, via Wikimedia Commons

Fonte

Jornal da Unesp

Data

segunda-feira, 3 outubro 2022 20:05

Áreas

Aquicultura. Engenharia de Pesca. Pesca. Zootecnia

Natural da Amazônia, o pirarucu é um dos maiores peixes de água doce do planeta, podendo ultrapassar os três metros de comprimento e pesar em torno de 200 quilos. Nos últimos anos, pescadores têm registrado a presença desse “gigante” com cada vez mais frequência no rio Grande, corpo d’água pertencente à bacia do alto rio Paraná que banha os estados de São Paulo e Minas Gerais. A introdução de uma espécie não nativa e que se alimenta principalmente de outros animais aquáticos despertou preocupação de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) sobre os impactos nas relações ecológicas e na população local de peixes, estimulando a criação de projetos de pesquisa que investiguem as consequências da presença deste predador amazônico em águas da região Sudeste.

Os pesquisadores relatam que até o momento o pirarucu foi encontrado apenas em um trecho do rio Grande. Mais precisamente, entre as barragens da usina hidrelétrica de Marimbondo e da usina hidrelétrica de Água Vermelha, um segmento de aproximadamente 120 quilômetros em que o rio Grande divide os territórios mineiro e paulista. A Dra. Lilian Casatti livre-docente em ecologia aquática e professora do departamento de Zoologia e Botânica do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Unesp,  explica que as duas barragens, construídas nos anos 1970 para a produção de eletricidade, causam a diminuição da correnteza original do rio. Forma-se assim um ecossistema muito parecido com o habitat natural do pirarucu na Amazônia, onde costuma ser encontrado em lagos de água mais parada.

A Dra. Lilian Casatti é uma das autoras da primeira comunicação científica que registrou a presença do pirarucu na região, em 2015. O artigo foi publicado na revista científica Checklist, reconhecida por divulgar registros inéditos e comunicações curtas sobre biodiversidade. No texto, a docente da Unesp observou a carcaça de um pirarucu de aproximadamente 1,20 m nas margens da represa de Água Vermelha, mas não conseguiu identificar a causa da morte ou o conteúdo do seu estômago devido ao avançado estágio de decomposição do peixe.

Peixes de grande porte como o pirarucu são bastante valorizados pelos produtores na aquicultura, e muitas vezes são produzidos fora da sua bacia hidrográfica original. A fuga desses animais dos tanques de produção é a principal causa de introdução de espécies não nativas nos rios. Escapes acidentais como o ocorrido no rio Grande já resultaram na introdução do pirarucu em sistemas aquáticos nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil. No caso abordado pela professora da Unesp, o artigo menciona relatos de pescadores da região de que o rompimento de um tanque em um município próximo ao rio Grande após uma forte chuva teria causado a introdução do pirarucu.

Espécie invasora? Ainda não

A Dra. Casatti explica que, uma vez que a presença do pirarucu nas águas do rio Grande já foi estabelecida, o fundamental neste momento é medir o real impacto da espécie no novo habitat. “Hoje, no rio Grande, o pirarucu é classificado como um peixe não nativo. Para que passe a ser considerado espécie invasora precisamos pesquisar e provar que a sua presença causa dano a alguma espécie ou processo ecológico. Estamos falando de um trecho já bastante alterado do rio Grande em que existem barragens, processos de assoreamento, perda de habitat, resíduos de agrotóxicos e presença de diversas espécies não nativas”, argumentou a pesquisadora.

Em 2018, um levantamento conduzido pelo aluno Yoshiaki Nogueira Miyazaki, do curso de Ciências Biológicas, durante estágio obrigatório, analisou o conteúdo do estômago de 12 pirarucus, em uma parceria com a Colônia de Pescadores Z-27 do município de Icém. Apesar da amostra pequena, o trabalho observou que camarões (das espécies Macrobrachium amazonicum e M. jelskii) e os peixes lambari e tilápia foram os itens mais importantes na dieta dos peixes amazônicos. Destes animais, apenas o lambari é uma espécie nativa. A Dra. Casatti faz questão de frisar que o fato de o pirarucu aparentemente estar se alimentando de espécies que também não são nativas não deve ser visto como uma licença para sua introdução. “Quando um peixe não nativo é introduzido, não vem sozinho. Chega com ele um pool de parasitas que estão presentes nesse organismo e também podem causar impactos que devem ser medidos. Por isso é importante o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema”, apontou a pesquisadora.

Acesse a notícia completa na página da Unesp.

Fonte: Marcos do Amaral Jorge, Jornal da Unesp. Imagem: Cliff, via Wikimedia Commons.

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