Notícia
Pesquisadores investigam intoxicação de trabalhadores por agroquímicos
Um dos maiores mercados consumidores de agrotóxicos no mundo, o Brasil, tem um passivo com os trabalhadores expostos a agroquímicos
Pixabay
Fonte
UFMS | Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Data
sábado, 8 dezembro 2018 09:00
Áreas
Agricultura. Agronomia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Ciências Agrárias
Levantamento do Ministério da Saúde, recém-publicado como “Atlas do Câncer relacionado ao Trabalho no Brasil”, registrou 18 tipos da doença ligados às atividades profissionais, com envolvimento de 900 agentes cancerígenos.
Um dos maiores mercados consumidores de agrotóxicos no mundo, o Brasil, assim como Mato Grosso do Sul, celeiro agrícola, tem um passivo com os trabalhadores expostos a agroquímicos.
Essa realidade está sendo pesquisada no Instituto Integrado de Saúde com o projeto guarda-chuva “Exposição ocupacional a agroquímicos: consequências à saúde dos trabalhadores de Mato Grosso do Sul”, coordenado pela professora de Enfermagem Dra. Luciana Contrera, que engloba três pesquisas de Mestrado e projetos de Iniciação científica.
As pesquisas apontam que o trabalhador da agricultura é, na grande maioria, autônomo, sem carteira assinada. “Ele acaba tendo o diagnóstico da doença e não pode parar de trabalhar, porque só tem esse ofício para sobreviver e sustentar a família. Por isso, continua se expondo aos riscos, é um prognostico muito ruim, com reincidência alta. Temos uma história muito triste”, explica a professora Luciana.
Trabalhadores rurais
Já publicada, a dissertação “Câncer relacionado ao trabalho notificado em Campo Grande”, da pesquisadora Jackeline Lazorek Saldanha da Silva, apresentou estudos no Hospital do Câncer, referência oncológica no estado, onde verificou-se o impacto da patologia para os trabalhadores acometidos com a doença.
O estudo foi realizado em duas etapas: a quantitativa com base nas notificações de câncer relacionado ao trabalho e a segunda, qualitativa, com entrevista a alguns dos trabalhadores.
Foram acompanhadas 41 notificações de câncer ocupacional, entre 2015 e 2017. O levantamento mostrou que 85,4% eram do gênero masculino; 87,7% com idade superior a 50 anos (39,0% de 51 a 70 anos e 48,8% acima de 70 anos); 51,2% da raça branca; 83% autônomo e 63,4% com ocupação rural. Os trabalhadores foram expostos a um ou mais agentes cancerígenos, como radiação ionizante (68,3%); óleos minerais (24,4%); benzeno (17,1%); alcatrão, hidrocarbonetos alifáticos e sílica (14,6%).
“Na etapa qualitativa os relatos foram organizados em duas categorias: “fatores intrínsecos e extrínsecos do câncer como causa da doença” e “o câncer e repercussões na vida do trabalhador”. Verificou-se que os trabalhadores acreditam que o trabalho possa ter contribuído para o aparecimento do câncer, correlacionando com a exposição solar e agrotóxicos. O diagnóstico do câncer trouxe um impacto psicológico, financeiro e levou ao afastamento das atividades laborais”, aponta Jackeline.
Como conclusão, a pesquisadora observou que os trabalhadores rurais foram os mais acometidos, com predominância de câncer de pele, seguido por câncer de boca, faringe, esôfago e estômago e câncer de pulmão ou mediastino.
“Todos trabalhadores foram expostos a mais de um agente de risco, com maior porcentagem de radiação ionizante, seguido por óleos minerais e benzeno. Os trabalhadores acreditam que o trabalho foi um fator de risco para o câncer. Ações devem ser voltadas a capacitação para uma melhor notificação dos dados, a fim de que a captação precoce facilite estratégias de prevenção”, segundo Jackeline.
A professora Luciana chama atenção para a maioria dos cânceres ocupacionais terem relação causal direta com os trabalhadores rurais que estavam expostos aos agroquímicos e também à exposição solar.
Como apenas seis trabalhadores puderam ser entrevistados – a maioria não foi encontrado ou já havia ido a óbito – uma nova pesquisa pretende trabalhar a prevenção.
“Percebemos como é difícil trabalhar quando a notificação acontece da doença, muitas vezes em estágio avançado. Por isso, queremos trabalhar um pouco antes, tentar pegar os casos no início, quando está havendo sinais de intoxicação, antes de chegar no diagnóstico de câncer e quando não há mais prevenção”, completa a professora Luciana.
A mestranda Nathalia Freitas dos Santos fará o acompanhamento no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest/Sesau). “Não temos prevenção, legislação que promova conscientização com relação ao uso de agrotóxicos. Por isso, quero entrevistar pessoas que foram intoxicadas em 2017 para saber qual a sua situação de saúde atual e quais são as repercussões dessa intoxicação na sua vida, sequelas, se precisou passar por cirurgia ou algum procedimento mais invasivo”, explica a mestranda.
Acesse a notícia completa na página da UFMS.
Fonte: Paula Pimenta, UFMS. Imagem: Pixabay.
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