Notícia

Pesquisadora alerta sobre compostos químicos e possíveis efeitos na saúde

Grazielle Castagna Cezimbra Weis será uma das palestrantes do Seminário em Saúde e Alimentação, que acontece na UFFS – Campus Chapecó

Pixabay

Fonte

UFFS | Universidade Federal da Fronteira Sul

Data

sexta-feira, 15 junho 2018 10:30

Áreas

Agricultura. Agronomia. Ciências Agrárias. Nutrição Coletividades

Você já se perguntou se frutas e verduras orgânicas têm uma composição diferente – e mais saudável – que as produzidas com agrotóxicos? A pesquisadora Grazielle Castagna Cezimbra Weis, doutoranda na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), abordará essas e outras questões durante a palestra “Compostos Químicos: exposição e efeitos à saúde humana”, uma das programações do II Simpósio em Saúde e Alimentação, que acontecerá na UFFS – Campus Chapecó nos dias 23 e 24 de agosto.

Na entrevista com a pesquisadora Grazielle, confira uma pequena parte do que será discutido durante os dois dias:

Com a vida moderna, as grandes produções – em função da necessidade de produção para grandes populações – interferem na nossa qualidade de vida e saúde?

Grazielle – Esta problemática: “é possível produzir alimentos sem agrotóxicos?” é comum atualmente. Muitas pessoas respondem que não é. Possível é claro que é, mas a produtividade é muito diferente. O sistema convencional, que usa agrotóxicos, dá um retorno, uma produção muito maior. Porém, aí entra a questão da qualidade: em um sistema convencional, a produção de alimentos será menos saudável? Os benefícios que encontramos nos alimentos, na maior parte é devido a compostos bioativos – são compostos que não têm somente propriedade de nutrir, mas também terão outras funcionalidades no nosso organismo, como a ação anti-inflamatória.

De maneira geral funciona assim: nós nos defendemos quando temos algum estresse. Quando estamos gripados, o organismo produz anticorpos para sinalizar a doença e nos defender. A planta faz a mesma coisa. Quando está numa situação de estresse, como um ataque de fungos, ela produz compostos secundários, que são os compostos bioativos. Um exemplo é o resveratrol, que é produzido, entre outras finalidades, como um mecanismo de proteção da planta. Num ano de seca (“fator de estresse”) a composição da uva sofre algumas modificações, tais como o aumento na produção de resveratrol, em decorrência desse fator externo. Para a planta, esse composto bioativo é produzido para se proteger, mas, para nós, é um benefício que a planta nos dá.

Então, quando há o ataque de um fungo, a planta produz esses compostos para proteção. Mas quando um fungicida é usado, o problema é logo resolvido. Isso quer dizer que não se vai deixar a planta agir por si só, naturalmente. Ela não vai produzir esses compostos em maior quantidade porque “alguém” já resolveu o problema por ela – o fungicida.

Assim, nos estudos que comparam os vegetais produzidos no sistema convencional e no não convencional, são encontradas especialmente diferenças na quantidade de compostos bioativos – as substâncias que a planta utiliza para se proteger e que para nossa saúde são funcionais. Entretanto, quem produz quer garantir sua produção, com maior produtividade possível, e quer que ela seja “bonita”, já que o consumidor compra com os olhos. Assim, na balança entre a saúde e a produção, normalmente a segunda opção pesa mais.

Então temos outro problema: para prevenir doenças, os médicos e nutricionistas nos falam para “comer saudável”. Você acha que está ingerindo alimentos saudáveis, mas eles não têm, de fato, as propriedades esperadas para aquele produto.

Grazielle – Sim. Até é uma temática do meu Doutorado que estamos desenvolvendo, porque são escassos trabalhos nesse sentido. Se eu estivesse comendo um alimento que, pela lógica, é um alimento antioxidante, não se sabe se haverá um efeito benéfico, que teria esse efeito naturalmente, em decorrência da presença do agrotóxico. A gente está desenvolvendo um modelo que é justamente para verificar qual o benefício do alimento com e sem agrotóxico e saber se o efeito que está sendo neutralizado é pelo agrotóxico ou se é o agrotóxico que está fazendo o efeito negativo na nossa saúde. Como nutricionista sempre senti necessidade de tentar responder essa pergunta que todos fazem.

Quais os impactos do consumo de alimentos com resíduos desses compostos?

Grazielle – Os impactos variam de acordo com o tempo de exposição e com a quantidade. É válido lembrar que, devido à variedade da nossa alimentação e à quantidade de resíduos nos alimentos, pode ocorrer a acumulação desses compostos em nosso organismo. Os impactos vão desde más-formações em fetos, em decorrência do contato da mãe durante a gestação com alimentos com agrotóxicos, até efeitos pró-inflamatórios dos agrotóxicos. O fato de os agrotóxicos estimularem a inflamação está ligado a diversas doenças, especialmente ao câncer, que hoje é tão falado e observado. Diversos estudos reforçam a alta incidência de câncer na região Sul de modo geral, mas especialmente no Rio Grande do Sul. Coincidência ou não, o Sul é conhecido no Brasil como uma das regiões que mais utiliza agrotóxicos.

Tem também a questão da neurotoxicidade – tanto para os agrotóxicos como para o mercúrio e o alumínio –, que está relacionada ao desenvolvimento de distúrbios neurológicos, comportamentais (como a depressão), psiquiátricos e ao Alzheimer.

Quais doenças que podem estar relacionadas a esses compostos?

Grazielle – Doenças autoimunes (situação de distúrbio no sistema imune, logo uma inflamação crônica está acondicionada a isso), distúrbios comportamentais, especialmente a depressão, o Mal de Alzheimer, diabetes, especialmente tipo 2, e câncer. Às vezes há mecanismos que podem estar levando a doenças, mas não tem como confirmar que seja devido unicamente à exposição aos agrotóxicos ou aos metais; por isso pesquisas nessa área são muito importantes de modo a aumentar a compreensão sobre seus efeitos na saúde.

Mas há outros fatores que também influenciam na saúde.

Grazielle – Estamos expostos a fatores de risco para nossa saúde a todo momento, por exemplo a radiação solar, especialmente aos raios UVA e UVB, fumo, álcool e diversos outros que geram danos a nossa saúde. Na verdade, danos no nosso DNA acontecem a todo momento e usualmente nosso corpo consegue trabalhar com isso. Porém, com o aumento desses estímulos negativos, nosso corpo não “está dando conta” de reparar esses danos. Além disso, cada vez menos temos uma alimentação equilibrada e fazemos atividade física ou temos um sono reparador, o que não permite ajudar o nosso corpo a atingir um equilíbrio e reparar esses danos.

Como os compostos influenciam no meio ambiente, por exemplo?

Grazielle – Dependendo das características desses compostos, eles tendem a acumular no solo, na água e no ar. Esses ecossistemas vão acumulando e é uma cadeia, o que chamamos de magnificação trófica: vai para a planta embaixo da água e um peixe pequeno a come. Depois, ele é comido por um peixe maior e vai tendo acumulação no sistema e o principal prejudicado, no fim, seremos nós, que consumiremos o peixe ou mesmo ingerindo a água contaminada e as plantas que serão plantadas no solo contaminado. O corpo humano também tende a acumular esses compostos, especialmente em regiões como rins, fígado, cérebro, porque são as regiões com mais gordura, com as quais eles têm maior afinidade.

Acesse a notícia completa na página da UFFS.

Fonte: Assessoria de Comunicação do Campus Chapecó, UFFS. Imagem: Pixabay

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