Notícia

Pesquisa aponta potencial do guaraná na prevenção da obesidade

Em testes com ratos, o extrato de guaraná evitou o ganho de peso e a resistência à insulina

Wikimedia Commons

Fonte

UFRGS | Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Data

terça-feira, 30 abril 2019 09:45

Áreas

Nutrição Clínica. Nutrição Coletividades. Nutrição Funcional

O potencial antiobesidade do guaraná foi tema de estudo que incluiu pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade de la Costa, na Colômbia, e da Universidade Federal de Sergipe (UFS). A partir de testes com ratos, os cientistas demonstraram que, além de evitar o ganho de peso e o acúmulo de gordura, a planta nativa da Amazônia pode atenuar outras condições associadas à obesidade, como a resistência à insulina. Os resultados foram publicados na revista científica Phytotherapy Research.

Rico em cafeína e com conhecidas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, o extrato das sementes torradas de guaraná tem sido usado como estimulante, afrodisíaco, tônico e para a perda de peso. Conforme alertam os pesquisadores, entretanto, faltavam estudos que comprovem a eficácia e a segurança do suplemento. “Esse extrato é usado em formulações (junto com outros compostos) para emagrecimento, mas ninguém tinha mostrado o efeito desse extrato puro”, comenta o professor Dr. Rafael Bortolin da Universidade de la Costa e colaborador do Centro de Estudos em Estresse Oxidativo da UFRGS e coautor do estudo.

Por 18 semanas, 24 ratos foram alimentados com a dieta ocidental – desenvolvida pelo grupo para induzir a obesidade nos animais –, enquanto outros 24 consumiram uma dieta-controle, de baixo teor de gordura. Metade de cada grupo recebeu, ainda, suplementação de guaraná em pó em uma quantidade que, se transposta para humanos, seria equivalente a 300 miligramas por pessoa por dia.

Segundo o Dr. Bortolin, o fabricante do extrato de guaraná usado na pesquisa recomenda o uso diário de 1 a 3 gramas, “porém, nós não encontramos base científica para essa prescrição. Também não é fácil encontrar para que o guaraná é indicado no rótulo, mas as pessoas geralmente usam para não ter sono por causa da cafeína”. O uso do guaraná nessas doses elevadas, explica ele, é para atingir uma maior ingestão de cafeína, que mantenha o usuário acordado, como ocorre com o café. “A diferença é que, para emagrecer, o uso deve ser crônico, e por isso não pode ser uma dose alta. Ao contrário de um dia em que você precisa estudar para uma prova e passar acordado a noite toda, que é um uso momentâneo (agudo), no qual se pode utilizar uma dosagem mais alta.”

Os cientistas observaram que a suplementação de guaraná diminuiu o ganho de peso e impediu o acúmulo excessivo de gordura entre os animais que se alimentaram com a dieta ocidental. Também evitou outras condições vinculadas à obesidade, como a resistência à insulina e a desregulação de adipocinas – substâncias secretadas pelo tecido adiposo, diretamente relacionadas à distribuição da gordura corporal, e cujo desequilíbrio está associado à obesidade e a síndromes metabólicas, entre outras enfermidades.

Demonstrada a eficácia do guaraná para a prevenção e o tratamento da obesidade, os pesquisadores passaram a investigar sua segurança e eventuais efeitos colaterais. “Muitos estudos que avaliam potenciais terapêuticos esquecem de avaliar o potencial tóxico dos compostos (ou extratos). Nós avaliamos o potencial tóxico e não identificamos nenhuma toxicidade do guaraná (na concentração utilizada por nós) tanto no grupo controle quanto no grupo da dieta obesogênica”, explica o Dr. Bortolin. É importante ressaltar, contudo, que efeitos do excesso de guaraná não foram estudados. “É bem possível que em doses mais altas ele exerça alguma toxicidade, inclusive porque tem cafeína. Assim como o café pode ser tóxico em altas doses, o guaraná também”, alerta o pesquisador.

Por fim, foram investigados os mecanismos pelos quais a substância atua para evitar o ganho de peso. Após verificarem que não houve redução na quantidade de alimento ingerida e tampouco alterações significativas na microbiota intestinal dos animais que consumiram guaraná, os cientistas analisaram mudanças no tecido adiposo marrom – um dos dois tipos de tecido adiposo que temos em nosso corpo (o outro é o branco).

Enquanto o tecido adiposo branco tem como sua função primária o armazenamento de energia, o marrom é voltado à manutenção da temperatura corporal e se configura como o principal local de termogênese nos mamíferos. A termogênese é um processo metabólico que envolve o gasto de energia para a produção de calor. Uma maior quantidade de tecido adiposo marrom, portanto, pode levar a um maior gasto de energia e, consequentemente, à perda de peso.

“A termogênese é caracterizada pela queima de gordura para a produção de calor, e não de ATP [adenosina trifosfato, molécula responsável por armazenar energia para as atividades básicas das células]. Isso ocorre porque nesse tecido as mitocôndrias têm muita UCP (uncoupling protein – proteína desacopladora), que é uma proteína que desfaz um gradiente de elétrons necessário para a produção de ATP. Dessa forma, se temos um volume maior desse tecido, ou se temos mais mitocôndrias nesse tecido, ou ainda se temos mais UCPs nessas mitocôndrias podemos dizer que promovemos a termogênese, ou seja, ‘ativamos’ o tecido”, esclarece o Dr. Bortolin.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da UFRGS.

Fonte: Camila Raposo, UFRGS-Ciência. Imagem: Wikimedia Commons.

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