Notícia
O açaí da Mata Atlântica: pesquisadores desenvolvem produtos com os frutos da palmeira juçara
A polpa da juçara em pó apresenta como diferencial não conter agentes encapsulantes na formulação, o que permite a disponibilização de um produto com intensidade de cor e elevada capacidade antioxidante
Kadijah Suleiman, Virgínia da Matta - Embrapa Agroindústria de Alimentos
Fonte
Embrapa | Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Data
quinta-feira, 15 dezembro 2022 19:20
Áreas
Agricultura. Agronegócio. Agronomia. Biotecnologia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Engenharia de Alimentos
Fruto nativo da Mata Atlântica, a juçara (Euterpe edulis) é saudável e ótimo ingrediente para diferentes produtos alimentícios. Foi o que demonstrou uma pesquisa realizada pela Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) que transformou a fruta em bebida tipo smoothie, corante e outros tipos de apresentação de polpa. A pesquisa procura agregar valor à matéria-prima e ajudar a proteger a espécie que chegou a ser incluída em lista de risco de extinção devido à extração ilegal de seu palmito.
Similar ao seu parente amazônico, o açaí (Euterpe oleracea), o fruto da Mata Atlântica apresentou propriedades antioxidantes valiosas. A pesquisadora Dra. Flávia Gomes da Embrapa Amazônia Ocidental informa que os frutos da juçara são fonte de compostos bioativos, em especial, ácidos fenólicos e antocianinas. Evidências científicas têm apontado que essas substâncias têm ação antioxidante que protege as células contra radicais livres. Por isso, seu consumo poderá promover a redução do risco de diversas doenças degenerativas como câncer, aterosclerose, entre outras. “Vale destacar que a possível eficácia dos compostos bioativos no organismo humano é determinada pela biodisponibilidade dessas moléculas, que é definida como a quantidade de composto absorvido e metabolizado após a digestão. A biodisponibilidade tem como fator limitante a bioacessibilidade, a qual está relacionada à quantidade desses compostos que é liberada do alimento durante a digestão, ou seja, é uma fração de um composto potencialmente disponível para absorção”, detalhou a cientista.
Em testes realizados, os produtos avaliados apresentaram bioacessibilidade dos compostos fenólicos entre 5% e 25%, ou seja, nessa faixa, a quantidade de compostos fenólicos ingerida estaria disponível para absorção após a digestão.
Os pesquisadores esperam que a agregação de valor aos frutos vá contribuir para a preservação da espécie. A exploração racional da fruta contribui para manter a floresta protegida e o fornecimento de um produto de alto valor agregado com importantes características nutricionais, funcionais e até de desenvolvimento econômico.
Secagem da polpa para aumentar vida útil
Segundo a pesquisadora Dra. Renata Tonon, devido à alta perecibilidade, a juçara apresenta vida útil muito curta. Assim, a secagem da polpa da fruta é uma forma de conservação do produto. “As polpas de frutas em pó apresentam baixa atividade de água o que dificulta, ou até impede, a multiplicação de microrganismos responsáveis por sua deterioração, aumentando consideravelmente a sua vida útil”, explicou a pesquisadora.
A produção da polpa da juçara em pó também propicia maior facilidade no transporte, armazenamento e manuseio, o que favorece a comercialização, especialmente a exportação. “Além da possibilidade de reconstituição para consumo direto, a polpa em pó também pode ser utilizada como ingrediente em diversos produtos alimentícios. Por ser altamente concentrada em antocianinas, pigmento responsável por sua coloração roxa, pode, ainda, ser aplicada como corante natural, em substituição aos sintéticos”, destacou a Dra. Tonon.
A polpa em pó de juçara demonstrou, ainda, possuir propriedades prebióticas. A equipe da Embrapa investigou o potencial da polpa em influenciar o crescimento de grupos bacterianos específicos, em um sistema de fermentação controlado, simulando as condições do intestino grosso humano. A polpa em pó aumentou a contagem de Bifidobacterium (microrganismo benéfico) e reduziu a população de Escherichia coli (bactéria patogênica).
Aplicação em sorvete, iogurte e bebidas de frutas
Nos produtos lácteos, foram testadas pequenas quantidades de corante de polpa da juçara, que variaram de 0,05% a 0,2%. Os resultados mostraram poder corante elevado da polpa desidratada, sendo que pequenas quantidades foram suficientes para reforçar a cor vermelha/rosada característica de sorvete e de iogurte de frutas vermelhas (mistura de morango e amora).
“A pequena quantidade de polpa desidratada utilizada como corante nos produtos desenvolvidos não modificou as características nutritivas. Porém, foi capaz de conferir uma coloração atrativa e estável ao longo da vida útil dos produtos, de um mês no caso do iogurte e três meses para o sorvete”, informou a pesquisadora Dra. Ana Carolina Chaves.
Adicionalmente, a polpa de juçara in natura foi estudada para o desenvolvimento de bebidas à base de frutas, buscando encontrar formulações otimizadas com base em valor nutritivo e aceitação sensorial.
Aceitação dos produtos
Testes sensoriais foram realizados visando avaliar o efeito da aplicação da polpa de juçara em pó, em diferentes concentrações, nas formulações de suco misto de maçã, iogurte e sorvete, além de avaliar o desempenho de diferentes proporções das frutas morango, banana e juçara na formulação de um smoothie.
Nessa avaliação com consumidores potenciais de cada produto, verificou-se a aceitação de aparência, sabor e consistência, permitindo a identificação da formulação com melhor potencial de mercado. A pesquisadora Dra. Daniela Freitas de Sá relatou que os resultados também demonstraram que a polpa em pó de juçara proporcionou a cor desejada e aumentou a expectativa de aceitação dos produtos, impactando positivamente a intenção de compra pelos consumidores.
Acesse a notícia completa na página da Embrapa.
Fonte: Kadijah Suleiman, Embrapa Agroindústria de Alimentos. Imagem: Kadijah Suleiman, Virgínia da Matta – Embrapa Agroindústria de Alimentos.
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