Notícia

Nova variedade de batata-doce biofortificada é aliada no combate a insuficiência de vitamina A

Teor de carotenoides chega a ser 100% superior ao registrado nas variedades comuns e cultivar da nova variedade de batata-doce vai beneficiar populações que sofrem com deficiência alimentar

Pexels com adaptação

Fonte

Jornal da UNESP

Data

segunda-feira, 8 maio 2023 10:45

Áreas

Agricultura. Agronegócio. Agronomia. Biotecnologia. Ciências Agrárias. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Engenharia de Alimentos. Nutrição Coletividades. Saúde Pública. Sustentabilidade

Reconhecida como um dos alimentos icônicos da América Latina, a batata-doce está literalmente enraizada na história e na cultura dos povos da região. Sua origem exata é incerta. Estima-se que exista há mais de 10.000 anos, tendo sido cultivada inicialmente por comunidades indígenas na Cordilheira dos Andes e na América Central. De fácil adaptação e cultivo, ela pode ser colhida aproximadamente 120 dias após o plantio. Impressionados com o tubérculo, os portugueses trataram de exportá-la para os recantos do seu império, dando origem a um circuito que a tornaria uma iguaria popular nas mesas de várias nações asiáticas, como a Índia, a Indonésia, a China e o Japão, país onde se destacou por auxiliar no combate à fome durante os períodos de crise econômica e social.

E o apetite do brasileiro pela iguaria só tem se ampliado. Se os dados do IBGE indicam que, em 2013, foram cultivados menos de 40 mil hectares de batata-doce, rendendo uma produção de, aproximadamente, 500 mil toneladas, atualmente o Brasil é o 16º maior produtor global, com mais de 800 mil toneladas anuais colhidas em 53 mil hectares de plantação. Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar realizada pelo IBGE, entre 2009 e 2018 o consumo de batata-doce aumentou cerca de 13%.

Além da facilidade de cultivo, outra característica valiosa é seu alto valor nutricional. Em comparação à batata comum, a batata-doce apresenta uma maior quantidade de fibras e de compostos bioativos, especialmente o betacaroteno, responsável por fornecer vitamina A. Por conta de suas qualidades nutricionais, desde 2017 pesquisadores da Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’ (Unesp) trabalham em um projeto de melhoramento genético da batata-doce, com foco na biofortificação de betacaroteno.

No início, 1.000 variedades para trabalhar

Alimentos biofortificados são obtidos através do cruzamento entre diferentes variedades que apresentam maiores concentrações de nutrientes. O objetivo do processo é gerar cultivares com um maior grau nutricional, visando diminuir ou eliminar deficiências de vitaminas na população. O Dr. Pablo Forlan Vargas, docente da Faculdade de Ciências Agrárias do Vale do Ribeira da Unesp, Campus Registro, coordena o projeto que promove a biofortificação da batata-doce. A iniciativa surgiu da observação da realidade da região: desde 1994 o Ministério da Saúde considera o Vale do Ribeira como uma área endêmica de insuficiência de vitamina A. O nutriente é essencial para o crescimento e desenvolvimento humano. A deficiência se verifica principalmente em crianças e gestantes que podem sofrer com distúrbios oculares e mau funcionamento do sistema imunológico.

Além do Vale do Ribeira, o Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, e o Nordeste brasileiro são outras áreas onde se verifica um alto índice de hipovitaminose A. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS-2006), 17,4% das crianças apresentam níveis inadequados de vitamina A, sendo as maiores prevalências encontradas no Nordeste e no Sudeste do Brasil. O novo projeto mira o combate à deficiência. “A partir dessa necessidade, buscamos desenvolver um material que fosse importante tanto para o pequeno agricultor, de subsistência, como também para o grande agricultor, que gera emprego e renda no campo. O foco do nosso trabalho é desenvolver novas cultivares que sejam ricas em betacaroteno”, explicou o Dr. PabloVargas.

Desde 2018 a pesquisa conta com apoio da FAPESP, tendo o financiamento sido renovado em 2021. O projeto teve início a partir de uma cooperação com o Centro Internacional da Batata (CIP), responsável por fornecer as variedades que foram utilizadas na pesquisa. Em Moçambique, a Dra. Maria Isabel Andrade, pesquisadora do CIP, obteve os materiais necessários através do cruzamento entre diferentes variedades de batata-doce. Os ‘filhos’ de todos esse cruzamentos foram posteriormente enviados para o Brasil e recebidos pelo Dr. Pablo Vargas para a próxima fase da pesquisa.

Partindo de um total de quase 1.000 variedades do tubérculo, a equipe do Dr. Pablo Vargas realizou um primeiro plantio em dois períodos distintos em campos em Ilha Solteira, Vera Cruz e no Vale do Ribeira. A partir dos primeiros testes, foram selecionados para uma segunda etapa os 24 genótipos que apresentaram uma melhor adaptação para produção. Estas variedades passaram por um novo processo de plantio, desta vez desdobrado para três diferentes períodos do ano em Jaboticabal, Botucatu e Ilha Solteira. A diversificação de locais e de períodos de plantio permitiu confirmar quais variedades poderiam se adaptar mais facilmente a condições e ambientes variados. Os resultados da segunda etapa de testes permitiram identificar três variedades mais promissoras para cultivo.

E as três variedades se saíram bem também no aspecto nutricional: o teor de betacaroteno presente nos novos genótipos revelou-se superior ao da cultivar de batata-doce “Beauregard”, que foi usada como controle experimental. “A cultivar padrão apresenta 59 µg/g (microgramas por grama) de carotenoides. Um dos nossos materiais está com 70 µg/g, o outro está com 105 µg/g e o último terceiro chega a 112 µg/g, que é quase o dobro”, diz o pesquisador.

Outra qualidade da nova cultivar é seu alto teor de massa seca. Vargas comenta que a variedade “Beauregard” é de origem estadunidense e é tida como biofortificada. Porém, sua textura característica é mais pastosa, e não caiu no gosto do paladar brasileiro. Com os resultados positivos, a equipe iniciou o pedido de registro das cultivares junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), para viabilizar sua distribuição junto à sociedade. A ação tem sido acompanhada pela Agência Unesp de Inovação (AUIN). “Nosso papel foi orientar os pesquisadores, que chegaram com um produto inovador, sobre como fazer a proteção no MAPA, proteger a propriedade intelectual e viabilizar os direitos de uso dessa tecnologia em nome da universidade”, explicou o Dr. Saulo Guerra, Diretor da AUIN.

Acesse a notícia completa na página do Jornal da UNESP.

Fonte: Malena Stariolo, Jornal da Unesp.  Imagem: Pexels com adaptação.

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