Notícia

Medindo a sustentabilidade no Brasil

Pesquisadoras desenvolvem índice que avalia sistemas alimentares no Brasil

Cícero Oliveira, Agecom-UFRN

Fonte

UFRN | Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Data

segunda-feira, 14 agosto 2023 14:10

Áreas

Ciência e Tecnologia de Alimentos. Nutrição Coletividades. Saúde Pública. Segurança Alimentar

Mais de 30 milhões de pessoas no Brasil estavam em situação de insegurança alimentar em 2022. Isso é o que apontam os dados publicados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan). Esse levantamento possui relação direta com a obesidade, a desnutrição e os efeitos das mudanças climáticas, os quais são influenciados por sistemas alimentares. Diante desse quadro, um grupo de pesquisadoras desenvolveu um índice para medir a sustentabilidade dos sistemas alimentares no Brasil. A iniciativa contou com uma parceria entre o Laboratório de Nutrição (LabNutrir), vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e a Universidade de São Paulo (USP).

Com o título ‘Medindo a sustentabilidade dos sistemas alimentares em países heterogêneos: aplicabilidade da versão atualizada do índice multidimensional brasileiro‘, a pesquisa foi publicada em 2022 na revista científica Sustainable Development. O artigo tem como autores Laura Brito Porciúncula, aluna da graduação do Departamento de Nutrição (DNUT/UFRN); Dra. Marina Maintinguer Norde, da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP); Giovanna Garrido, do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU); Nadine Marques Nunes- Galbes, da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP); Dra. Flávia Mori Sarti, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP); Dra. Dirce Maria Lobo Marchioni, da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP) e Dra. Aline Martins de Carvalho, da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP).

De acordo com a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, em português, os sistemas alimentares estão relacionados às atividades ligadas à produção, à agregação, ao processamento, à distribuição, ao consumo e ao descarte de produtos alimentares originários da agricultura, silvicultura ou pesca e a partes dos ambientes econômicos, sociais e naturais. Esses sistemas envolvem a cadeia alimentar e o ambiente alimentar, a nutrição humana e as interações desses elementos entre si, bem como as interações com os contextos econômico, social e ambiental.

Um sistema alimentar sustentável produz, comercializa e consome alimentos em um equilíbrio entre a economia e a conservação do meio ambiente, explicou Laura Porciúncula, uma das autoras da pesquisa. “São utilizados meios de produção que respeitem e prosperem a diversidade, como a agroecologia e a agricultura familiar, em desvantagem aos latifúndios e monoculturas atuais, como forma de garantir alimento em quantidade e qualidade suficientes para a população, concretizando o direito humano à alimentação adequada e segurança alimentar e nutricional”, completou a pesquisadora.

Para contribuir com a segurança alimentar

A pesquisa segue, nesse sentido, dois principais objetivos. Em primeiro lugar, apresentar a atualização e a melhoria do Índice Multidimensional para Sistemas Alimentares Sustentáveis (MISFS), desenvolvendo o MISFS-Revised (MISFS-R), uma versão revisada do índice que mede a sustentabilidade de sistemas alimentares a nível internacional. Em segundo lugar, mostrar as funções do MISFS-R, a fim de descobrir os aspectos relacionados à sustentabilidade no Brasil, o qual utilizou uma análise de cluster, uma representação usada para verificar as semelhanças e as prioridades dos estados brasileiros relacionados aos sistemas alimentares.

Foi a partir desses elementos que, em parceria com a organização não governamental World Wide Fund for Nature (WWF – Brasil), as pesquisadoras desenvolveram o MISFS-R. O índice utiliza um conjunto de dados oficiais do Brasil e inclui indicadores selecionados em nível estadual para medir a sustentabilidade do sistema alimentar no país. Diante disso, a necessidade de avaliação local da sustentabilidade do sistema alimentar cresceu mediante as ameaças da pandemia de covid-19 à segurança alimentar no Brasil.

Este índice pode ser usado como um parâmetro para comparar localizações geográficas, analisadas por meio de indicadores, bem como para investigar a interação entre eles. A versão atualizada do MISFS-R resultou em diversas vantagens, entre as principais está o maior alcance entre as regiões do país, além de colaborar para o entendimento dos aspectos ambientais e socioeconômicos de cada estado. Esses fatores contribuíram para a discussão sobre estratégias de melhoria da sustentabilidade do sistema alimentar dos estados brasileiro.

Laura Porciúncula salienta a relevância da pesquisa para a sociedade brasileira, citando alguns pontos importantes. “Fornecer um panorama de como se comportam os principais aspectos necessários para garantia de um sistema alimentar sustentável no país, com seus recortes regionais e, assim, poder identificar quais os principais problemas, dificuldades, e as potencialidades de cada local de um país que tem dimensões continentais e uma diversidade de sistemas. Assim, políticas públicas podem ser mais bem endereçadas no sentido de melhorias sobre os aspectos de maior fragilidade”, pontuou a pesquisadora.

“Revisamos todos os indicadores presentes no MISFS, atualizamos os que tinham dados mais recentes disponíveis e incluímos novos que consideramos relevantes para avaliar a cadeia produtiva e de consumo de alimentos no país”, diz Laura sobre o desenvolvimento do trabalho. A doutoranda comenta, ainda, que a pesquisa contribuiu para categorizar cada classe de índices nas dimensões social, nutricional, ambiental e econômica, seguindo os documentos mais atualizados sobre o conceito de Sistemas Alimentares Sustentáveis da FAO.

A pesquisadora conta que sua atuação na produção acadêmica foi voltada para a coleta de dados, etapa essencial para a construção da pesquisa. Esta fase foi feita a partir de fontes secundárias de dados públicos e relatórios que foram disponibilizados por pesquisas realizadas anteriormente, como também censos e relatórios oficiais. “Para os novos indicadores, buscamos os dados públicos, mas, infelizmente, a pesquisa foi realizada em uma época em que os dados sobre agricultura familiar pararam de ser coletados”, relatou a pesquisadora.

De acordo com informações disponibilizadas no portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a última coleta de dados sobre agricultura familiar realizada pelo Censo Agro foi feita em 2017. O estudo estatístico que investiga informações sobre os estabelecimentos agropecuários, características do produtor e do estabelecimento, não foi realizado nos anos posteriores. Essa foi uma das dificuldades enfrentadas por Laura, que ressalta o impasse na procura de informações mais atualizadas sobre a agricultura familiar.

A sustentabilidade e o LabNutrir

Apoiar a agricultura familiar faz parte do caráter do Laboratório Horta Comunitária Nutrir (LabNutrir), no DNUT, da UFRN, além de buscar promover um consumo que contribua para a proteção do meio ambiente, visão que faz parte da ideia de sustentabilidade nos sistemas alimentares. A iniciativa nasceu em 2017 quando um grupo de professores da Universidade, juntamente com alunos, servidores e membros da comunidade iniciaram o processo de implantação da horta.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da UFRN.

Fonte: Ana Paula Nóbrega e Karen Sousa, Agecom-UFRN.  Imagem: Cícero Oliveira, Agecom-UFRN.

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