Notícia

Linha de pesquisa prioriza manejo conservacionista no cultivo da cana

Trabalhos desenvolvidos há três anos pela Feagri, em área experimental, contribuem para a preservação do solo

Antonio Scarpinetti, Jornal da Unicamp

Fonte

UNICAMP | Universidade Estadual de Campinas

Data

quinta-feira, 19 julho 2018 09:00

Áreas

Agricultura. Agronegócio. Agronomia. Ciências Agrárias

Linha de pesquisa mantida pelo Prof. Dr. Zigomar Menezes de Souza, do Departamento de Água e Solos da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, visa encontrar manejos mais conservacionistas para o plantio da cana-de-açúcar, ou seja, aqueles que possam contribuir para a preservação do solo e trazer benefícios para a produção desta cultura. Os estudos, que vêm sendo conduzidos há cerca de três anos, em área experimental da Usina Santa Fé, no município de Ibitinga, São Paulo, e que contaram com o apoio financeiro da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ), obedecem algumas vertentes conduzidas por doutorandos. Em uma delas, Camila V. Vieira Farhate analisa o acúmulo de carbono no solo. Em outra, Lenon Henrique Lovera concentra-se no crescimento radicular da cana-de-açúcar. Já Ingrid Nehmi de Oliveira se ateve à determinação do teor de água no solo quando submetido a diversas plantas de cobertura e diferentes sistemas de preparo.

No estudo destes últimos atributos, Ingrid partiu da hipótese de que o emprego de diferentes plantas de cobertura e sistemas de preparo do solo durante a implantação do canavial modificam a estrutura do solo, promovem alterações em suas características físicas e aumentam seu teor de água, se comparados aos resultados obtidos no sistema de cultivo convencional, tradicionalmente utilizado pelas usinas de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo. Para confirmar estes pressupostos, em linhas gerais, ela monitorou o teor de água no solo submetido a diferentes plantas de coberturas (crotalária, amendoim, milheto e sorgo) e sistemas de preparo do solo (plantio direto, cultivo mínimo, cultivo mínimo com subsolagem profunda e plantio convencional), determinando, em cada caso, em relação ao solo, o teor de água, a densidade, granulometria, porosidade e resistência à penetração das raízes na área cultivada com cana-de-açúcar.

A cana-de-açúcar é uma cultura considerada semiperene, que tem um ciclo de aproximadamente cinco cortes, ou seja, depois de realizado o plantio dos toletes, o primeiro corte se dá entre 12 a 18 meses, a depender do sistema de manejo adotado e, a partir daí, a cada ano, rebrota devido ao desenvolvimento dos rizomas deixados no solo após a colheita. Decorrido esse período, em que ocorre a queda progressiva da produtividade, o canavial é desfeito e o processo recomeça com novo plantio que se estende por mais outros cinco anos de cultivo. É apenas quando a cana-de-açúcar é replantada que as plantas de cobertura são inseridas e, quando atingem seu estágio de máximo desenvolvimento, são dessecadas, roçadas e deixadas sobre a superfície do solo que irá receber o novo canavial.

O experimento

O experimento de Ingrid teve início em dezembro de 2014. Na sequência foram selecionadas em parceria com a usina as plantas de cobertura a serem utilizadas na área experimental. Foram semeadas, como plantas de cobertura, crotalária, sorgo, milheto e amendoim, neste último caso para que pudesse ser esclarecida uma dúvida comum entre os produtores: seria o amendoim, muito utilizado como planta de cobertura no Estado de São Paulo, associado ao preparo convencional do solo, o manejo mais vantajoso para os produtores de cana-de-açúcar?

Para Ingrid, a pesquisa apresenta dois aspectos inovadores: nenhum estudo anterior relacionou tantas plantas de cobertura e tão diferentes sistemas de preparo do solo para o plantio de cana-de-açúcar e desmistificou a crença de que o processo convencional utilizado nas usinas é o mais vantajoso, permitindo comprovar, por meio dos teores de água, que preparos conservacionistas trazem mais benefícios. Com efeito, dentre as plantas de cobertura estudadas, o amendoim, a mais utilizada no Estado de São Paulo, foi a que trouxe menos benefícios. Além disso, o monitoramento do teor de água no solo por meio da Reflectometria no Domínio da Frequência (FDR), utilizando o equipamento Diviner 2000, ainda pouco difundido no Brasil, permitiu sua avaliação de forma fácil, rápida e eficiente, constituindo mais uma alternativa viável para o produtor.

Os diferentes manejos

Durante décadas a colheita da cana-de-açúcar foi realizada de forma manual pelos trabalhadores rurais na área previamente submetida às conhecidas queimadas, visando facilitar a operação de colheita por meio da eliminação da palha e ponteiros. Equipamentos eram utilizados apenas no preparo do solo, na aplicação de herbicidas para o controle de plantas e na aplicação de fertilizantes. Além de degradarem o solo, as queimadas produzem fuligem e poluem o ar provocando problemas de saúde, como os respiratórios. O advento de legislações que estabelecem prazos para sua definitiva extinção tem levado as usinas a adotar a colheita mecanizada. Essas pesadas máquinas colhem uma linha de cana-de-açúcar por vez e são acompanhadas ao lado por um conjunto de trator e transbordo, o que tem gerado compactação do solo.

Apensar da grande avanço ocorrido no setor sucroenergético brasileiro com a ampliação das áreas de colheita mecanizada, as usinas mantiveram o mesmo processo convencional de preparo do solo para o plantio da cana-de-açúcar. Como consequência da ampliação da utilização de máquinas na agricultura, houve um aumento na adoção de sistemas de preparo mais conservacionistas. No plantio direto, por exemplo, a implantação da cultura é feita sobre restos de culturas anteriores. Já no plantio convencional todo o solo é revolvido, enquanto que o cultivo mínimo é intermediário entre o plantio direto e o convencional, Neste caso, foram testadas duas variações do cultivo mínimo: a convencional, em que a subsolagem é feita a uma profundidade de 40 cm, e a subsolagem profunda, em que o revolvimento atinge 70 cm. Dessa forma, foram testadas três configurações de preparo do solo para cada uma das plantas de cobertura selecionadas, além do preparo convencional do solo sem plantas de cobertura.

Frise-se que a cada cinco anos o canavial é destruído e por um período de aproximadamente 90 dias utiliza-se uma planta de cobertura visando quebrar o ciclo de pragas e doenças, além de promover a cobertura superficial do solo. No Estado de São Paulo, o amendoim é a planta altamente utilizada nesse período, ou então o solo é simplesmente mantido em pousio, ficando sujeito ao crescimento aleatório da vegetação espontânea, manejo esse adotado na pesquisa em questão no caso do plantio convencional, que ao incorporar esses resíduos por meio do revolvimento do solo, acelera a sua degradação e o deixa sem a proteção superficial, oposto ao que acontece quando se utilizam plantas de cobertura e sistemas de preparo conservacionistas.

Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unicamp

Fonte: Carmo Gallo Netto, Jornal da Unicamp.  Imagem: Antonio Scarpinetti, Jornal da Unicamp

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