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Jabuticaba valorizada: método desenvolvido por pesquisadora da UFSC aproveita resíduos da fruta

Ambientalmente amigável, a abordagem valoriza uma fruta característica do Brasil e proporciona uma utilização para um resíduo que seria descartado e mostra uma alternativa tecnológica para a indústria

Paulo4718 via Wikimedia Commons

Fonte

UFSC | Universidade Federal de Santa Catarina

Data

quinta-feira, 9 novembro 2023 09:50

Áreas

Agricultura. Agronegócio. Agronomia. Biotecnologia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Engenharia de Alimentos. Sustentabilidade

Aproveitar o subproduto da jabuticaba para a extração do espessante pectina e do corante antocianina com um método combinando solventes eutéticos profundos (Deep Eutectic Solvents, DES, na sigla em inglês) e tecnologias de fluidos de alta pressão: apoiada nesta concepção, a pesquisa da Dra. Laís Benvenutti no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2023. A tese foi orientada pela Dra. Sandra Regina Salvador Ferreira e coorientada pelo Dr. Acácio Antonio Ferreira Zielinski. Ambientalmente amigável, a abordagem valoriza uma fruta característica do Brasil e proporciona uma utilização para um resíduo que seria descartado e mostra uma alternativa tecnológica para a indústria.

A Dra. Laís Benvenutti já tinha trabalhado com outros frutos e resíduos agroindustriais sua ideia principal era valorizar um subproduto da indústria alimentícia. “Escolhemos o resíduo da jabuticaba porque é um fruto brasileiro, tem bastante impacto pelo potencial de compostos bioativos, principalmente a antocianina, que tem um elevado potencial antioxidante. A principal causa da escolha da jabuticaba foram essas duas: ser brasileira e ter muitas particularidades”, explicou a pesquisadora. Ela conta que a jabuticaba é chamada de “fruta berry brasileira”, a exemplo de blueberry e outras com potencial para a saúde humana. “Ela é produzida no caule da árvore, aqui todo mundo está acostumado, mas ela é muito curiosa, principalmente para quem é de fora do Brasil”, citou a pesquisadora.

Se a indústria descarta cerca de 40% da jabuticaba durante a produção de geleias, o uso de solventes eutéticos profundos (DES) aliado a um método de alta pressão foi a maneira alternativa encontrada pela pesquisadora para realizar a extração das substâncias. “Os DES são solventes emergentes, surgiram há pouco tempo, a data de início dos estudos deles é 2013. A proposta é que não agridam o meio ambiente, sejam ambientalmente amigáveis, sustentáveis, e que tenham alto poder de solvatação, de retirar esses compostos de interesse. Curiosamente, são formados a partir de dois componentes sólidos na temperatura ambiente, e a mistura exata desses dois ou mais componentes torna-se um líquido”, frisou a Dra. Laís Benvenutti. Os compostos utilizados são os ácidos málico e cítrico, presentes em diversas frutas, e cloreto de colina, muito utilizado em produtos alimentícios e cosméticos – ambos permitidos em alimentos e que não trazem malefícios ao consumidor final ou ao operador encarregado de fazer a extração.

Os DES substituem solventes mais voláteis, muitos com origem petroquímica, com alto potencial para agredir o meio ambiente por serem corrosivos e altamente inflamáveis. As tecnologias de alta pressão usadas para extração da pectina e antocianina permitem uma diminuição considerável do tempo dos processos: sem os DES, elas duram em torno de seis horas; com os DES, a pectina é obtida em cinco minutos, e a antocianina, em vinte minutos. São processos muito rápidos, assegura a pesquisadora, acrescentando que uma menor quantidade de solvente é necessária porque a extração é facilitada pela alta pressão. O procedimento também é sequencial: “Da mesma porção é fracionada primeiro a antocianina e depois a pectina. O material que sobra é basicamente fibra. São obtidos três subprodutos sem a geração nem um resíduo. Os extratos podem ser aplicados diretamente sem a remoção do solvente, porque o DES pode ser incorporado no alimento”, comentou a Dra. Laís Benvenutti. De cada 100 gramas de resíduo, são produzidas 110mg de antocianina, 13g de pectina e 80 gramas de fibras.

Para chegar ao processo final, várias etapas precisaram ser arranjados conjuntamente. Primeiro, é elaborado o solvente – para o propósito do estudo da Dra. Laís Benvenutti, das várias técnicas, a mais simples foi utilizada: a mistura de dois componentes, seguida pela agitação mecânica. Depois de formado o solvente, ele vai para um equipamento chamado de PLE (Extração com Líquido Pressurizada, do inglês Pressurized Liquid Extraction) junto com o resíduo da jabuticaba. A abordagem da Dra. Laís Benvenutti é ambientalmente amigável porque atende alguns requisitos em relação ao gasto energético, consumo e periculosidade do solvente e resíduo gerado, os quais foram quantificados por uma ferramenta denominada Certificado Verde. “Esta técnica de extração é facilmente escalonável e tem baixo custo de operação. Já existem unidades em escala industrial, portanto, essa abordagem pode ser projetada para empresas brasileiras”, observou a pesquisadora.

Pectina e antocianina

A pectina é um polímero composto principalmente por resíduos de ácido galacturônico e outros açúcares. “Ela é utilizada na indústria como espessante, gelificante ou estabilizante em diversas formulações, como geleias, por exemplo”, diz a pesquisadora. Extraída principalmente da maçã, a pectina utilizada atualmente é extraída em meio ácido, num processo que não é tão “verde” quanto o proposto pela Dra. Laís Benvenutti. “A pectina é fortemente ligada na matriz, precisa de uma hidrólise química para poder retirar esse material. A combinação da alta pressão com os DES facilita a extração dela. É mais pelo processo de obtenção da pectina e não pelo por ser a pectina da jabuticaba”, avaliou a pesquisadora.

Antocianina é o composto que dá coloração entre vermelha e roxa nos frutos. “É encontrada também na casca da maçã, na uva, no blueberry. Pode ser utilizada como um corante natural e tem a curiosidade também de modificar essa tonalidade da cor dependendo do PH. A gente consegue desde uma corzinha mais rosa até uma roxa ou, quando pH é mais básico, até um tom meio esverdeado”, contou a Dra. Laís Benvenutti. A obtenção da antocianina, das formas mais “tradicionais”, é mais trabalhosa, uma vez que apresenta baixa estabilidade. “A antocianina é bem instável, com o processo térmico e a mudança do PH. Ela é fácil de extrair, mas é necessário que seja protegida e na tese mostramos que os DES mantêm a estabilidade da antocianina, a principal dificuldade na indústria hoje”, pontuou a a Dra. Laís Benvenutti.

A pesquisadora afirma que o corante natural tem um potencial enorme, mas não é utilizado porque o corante sintético é muito mais fácil de ser aplicado. “Hoje em dia há um movimento bem grande no Brasil em busca de ingredientes nacionais para baratear o produto final. O país tem um potencial gigantesco, uma vasta variedade de frutos ainda subutilizados. Teria mesmo uma aplicação industrial, mas isso ainda é desconhecido”, reforçou a Dra. Laís Benvenutti.

Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal de Santa Catarina.

Fonte: Caetano Machado, Agecom – UFSC. Imagem: Paulo4718 via Wikimedia Commons.

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