Notícia

Ferramenta amplia grau de gestão da produção cafeeira

O sistema estima o nível de gestão da unidade produtora e está disponível no site da Feagri, com acesso livre para os produtores

Pixabay

Fonte

Unicamp

Data

quinta-feira, 27 julho 2017 12:30

Áreas

Agronegócio. Agricultura

O Brasil exportou 33 milhões de sacas de 60 quilos de café entre junho de 2016 e maio de 2017, o que gerou uma receita cambial da ordem de US$ 5,6 bilhões no período. Embora revelem a importância desse produto para o agronegócio e a economia do país, esses números poderiam ser ainda mais robustos, caso as propriedades cafeeiras tivessem um nível de gestão mais elevado. A constatação faz parte de pesquisa realizada pela Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O estudo envolveu um método inovador para identificar o grau de gestão da produção nas regiões cafeeiras brasileiras.

O trabalho foi coordenado pelos pesquisadores Dra. Flávia Maria de Mello Bliska e o Dr. Antonio Bliska Júnior, ela do IAC e ele da Feagri. A ferramenta, desenvolvida inicialmente para o cultivo de flores, foi batizada de Método de Identificação do Grau de Gestão (MIGG) e, neste projeto conjunto, foi alimentado com uma série de informações relacionadas à atividade da propriedade cafeeira. O sistema estima o nível de gestão da unidade produtora, numa escala que vai de 1 a 9, sendo “1” o mais baixo e “9” o mais elevado. “A ferramenta está disponível no site da Feagri e tem acesso livre para os produtores interessados em avaliar o grau de gestão da sua propriedade. O objetivo é estimular o cafeicultor a encarar a sua atividade como um negócio, como uma empresa rural”, explica o Dr. Bliska.

Antes de o MIGG ser disponibilizado para consulta, porém, os pesquisadores foram a campo para validar a ferramenta, aplicando um questionário com 64 questões. Durante três anos, eles percorreram aproximadamente 25.000 quilômetros do território brasileiro, visitando as principais regiões cafeeiras do país. Eles estiveram pessoalmente em Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Rio de Janeiro e Paraná, além de São Paulo. Propriedades de Rondônia e do Distrito federal também foram avaliadas, com a participação de colaboradores locais. “Ao todo, avaliamos mais de 1.000 propriedades em todo o país. Foi um trabalho de fôlego, mas muito produtivo e enriquecedor”, considera  a Dra. Flávia.

No contato que mantiveram com os cafeicultores, os pesquisadores constataram que uma parcela significativa deles, algo como metade do universo avaliado, não adota princípios consagrados de gestão empresarial em suas atividades. “Muitas decisões são tomadas com base na intuição ou na tradição. Não há, por parte de muitos deles, preocupação em identificar, por exemplo, quem é o seu cliente e o que este realmente deseja em termos de qualidade do produto. Esse é um dado importante, visto que, ao atender à exigência do cliente, o cafeicultor pode agregar valor ao seu produto”, pondera a Dra. Flávia.

Um dado que chamou a atenção dos pesquisadores foi que o nível de gestão varia bastante entre as propriedades analisadas. “Nós encontramos grau 8 de gestão em uma propriedade de cinco alqueires e grau 4 de gestão em uma propriedade 20 vezes maior”, compara a Dra. Flávia. Segundo ela, o banco de dados gerado pelo levantamento de campo está disponível para pesquisadores interessados em investigar temas como gestão, cooperativismo, sustentabilidade, segurança e saúde do trabalhador rural.

Além disso, conforme os cafeicultores forem utilizando o MIGG para verificar como está a evolução do grau de gestão de suas propriedades, esse banco de dados será automaticamente atualizado, visto que as informações serão registradas a cada acesso. “Além de fornecer subsídios para que os agricultores melhorem a gestão de suas propriedades, transformando-as em empresas rurais, os dados gerados por essa ferramenta também são úteis para os tomadores de decisão. As informações podem servir de base à formulação de políticas públicas para o setor cafeeiro. Um aspecto que ficou muito claro é que os agricultores familiares, que produzem grande parte da safra de café do Brasil, carecem de assistência técnica para melhorar todas as etapas de produção”, assinala o Dr. Bliska.

A ferramenta desenvolvida pelos pesquisadores da Unicamp e IAC é bastante versátil, como eles relevam. Conforme Dr. Bliska, com algumas adaptações não muito complexas, o MIGG pode ser utilizado para avaliar o nível de gestão de propriedades rurais que produzem outros tipos de culturas, como flores, hortaliças, frutas etc. “O MIGG tanto pode ser usado no caso de um produto específico, como a uva, quanto para um segmento inteiro, como as frutas”, sustenta.

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