Notícia
Farinha integral de sorgo é antioxidante e pode atuar nos processos ligados à saciedade e promover saúde
Farinha feita com sorgo BRS 305 aumentou resposta antioxidante em cérebros de ratos, atuou em áreas cerebrais relacionadas à sensação de saciedade, apresentou função de neuroproteção e tem potencial para promover a sensação de saciedade
Laboratório de Nutrição Experimental da UFV via Embrapa
Fonte
Embrapa | Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Data
terça-feira, 24 outubro 2023 10:45
Áreas
Agricultura. Agronomia. Biotecnologia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Engenharia de Alimentos. Nutrição Coletividades. Saúde Pública. Sustentabilidade
Pesquisa registrou que o consumo de farinha integral de sorgo aumentou os marcadores de resposta antioxidante em cérebro de ratos e ainda atuou em mecanismos relacionados à sensação de saciedade. Os estudos foram feitos com o sorgo BRS 305, desenvolvido pela Embrapa, e envolveram pesquisadores da Empresa, da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Cereal com alto teor de taninos e antocianinas, o sorgo BRS 305 conserva melhor o amido resistente mesmo ao ser submetido a tratamento térmico a seco e usado em forma de farinha integral. Os resultados do trabalho fazem parte da tese da doutoranda Haira Guedes Lúcio, do programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição da UFV.
“Nosso objetivo foi investigar os efeitos da farinha integral de sorgo, processada com calor seco, na saciedade e na resposta antioxidante no cérebro e no tecido adiposo de ratos Wistar alimentados com uma dieta rica em gordura e frutose. Há uma importante interação entre antocianinas presentes no sorgo e receptores cerebrais de leptina”, relatou a professora Dra. Hércia Martino, do Departamento de Nutrição e Saúde da UFV, orientadora da estudante.
A pesquisa foi publicada na revista científica Food Research International.
Benefícios da farinha de sorgo a seco BRS 305
Em estudo realizado pela Embrapa Milho e Sorgo (MG) em parceria com a UFV, a pesquisadora Dra. Valéria Queiroz relatou que a farinha integral crua de sorgo BRS 305 apresentou cerca de 13% de proteínas, 3,6% e de lipídeos, 2,9% de cinzas, 60,3% de carboidratos, 15,5% de fibra alimentar total 20,9% de amido resistente.
“Essa farinha apresentou, também, altos teores de compostos com atividade antioxidante como taninos, com 73,83 miligramas de catequina por grama de amostra, compostos fenólicos totais de 24,03 miligramas de ácido gálico equivalente por grama e antocianinas, com 0,26 miligramas de luteolinidina por grama). Essas substâncias são as responsáveis pela saudabilidade desse alimento”, explicou a Dra. Valéria Queiroz.
A cientista conta que pesquisas com sorgo para consumo humano demonstraram que o calor seco retém mais compostos bioativos, como fenólicos e amido resistente, em comparação ao calor úmido. “Por isso, nesse novo trabalho optou-se por utilizar a farinha de sorgo proveniente de grãos previamente tratados com calor seco”, informou a pesquisadora.
Na nova pesquisa, o consumo de farinha de sorgo foi capaz de aumentar os marcadores de resposta antioxidante. Isso significa que o produto estimulou a atividade antioxidante do organismo em resposta ao estresse oxidativo, demonstrando os efeitos benéficos dos compostos da farinha.
Outro resultado evidente foi a melhora na resposta antioxidante cerebral. “Esse fato demonstra que o cereal exerce uma função de neuroproteção, podendo prevenir o surgimento de doenças neurodegenerativas, que tem seu risco aumentado em consequência da adesão prolongada ao padrão alimentar ocidental”, pontuou a doutoranda Haira Lúcio.
Embora a dieta acrescida com a farinha não tenha alterado o ganho de peso dos animais, o sorgo foi efetivo para diminuir a expressão gênica de marcadores relacionados à atividade dos centros de saciedade. “Mais estudos são necessários para investigar o potencial modulatório das antocianinas nos mecanismos de saciedade”, ponderou Haira Lúcio.
A pesquisa
A Dra Hércia Martino relatou que ratos Wistar machos foram divididos em dois grupos: alimentados com dieta padrão para manutenção de roedores (grupo controle) e outro com dieta rica em gordura e frutose (HFHF) e assim permaneceram por oito semanas. Após esse tempo, os animais do grupo HFHF foram divididos em HFHF e HFHF adicionado de farinha integral de sorgo BRS 305, por mais dez semanas.
A quantidade de farinha de sorgo adicionada à dieta foi determinada a partir da substituição de 50% da recomendação de fibra alimentar. Após esse período, foram realizadas análises sobre os efeitos na resposta antioxidante e nos marcadores relacionados à saciedade.
“O consumo de sorgo reduziu a expressão gênica de leptina, de resistina e do receptor endocanabinoide tipo 1 (CB1) em tecidos adiposos e cerebrais em comparação ao grupo HFHF. No cérebro, o consumo de sorgo também promoveu redução na expressão do gene do neuropeptídeo Y”, declarou a Dra. Hércia Martino.
A leptina e o neuropeptídeo Y (NPY) têm como atividade estimular a ingestão total de alimentos, e sua diminuição está associada à restrição da ingestão alimentar. “A redução da expressão gênica de leptina e de seus receptores também se associa à diminuição da sensação de fome e, com isso, estimula a redução da ingestão alimentar”, detalhou a professora.
Sobre os mecanismos de resposta antioxidante, a Dra Hércia Martino explicou que “o consumo de sorgo BRS 305 promoveu aumento da expressão gênica de determinados marcadores e da atividade de enzimas que, em conjunto, promoveram aumento da resposta antioxidante”.
Menor risco de diabetes e doenças cardiovasculares
A Dra. Valéria Queiroz ressaltou que existe uma demanda crescente por alimentos que possam promover a saúde e a prevenção de doenças. “O híbrido de sorgo BRS 305 possui altos teores de compostos com propriedades antioxidantes que podem contribuir para redução do estresse oxidativo, ou seja, do acúmulo de radicais livres, os quais são prejudiciais quando em excesso no organismo.”
Os grãos e a farinha do BRS 305 também possuem elevada concentração de amido resistente, composto semelhante à fibra, que proporciona inúmeros benefícios para a saúde. “O amido inibe o crescimento de células cancerígenas do cólon, contribui para a queda do índice glicêmico do alimento e, consequentemente, para uma menor resposta insulínica, auxiliando no tratamento de diabetes, principalmente do tipo 2”, destacou a Dra. Valéria Queiroz. “Também promove a diminuição do risco de doenças cardiovasculares e contribui para a perda de peso, pois, como se trata de uma fibra insolúvel, junto com ela ‘arrasta’ moléculas de gordura e de açúcar que serão absorvidas pelo organismo mais lentamente”, pontuou a Dra. Valéria Queiroz.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Embrapa.
Fonte: Sandra Brito, Embrapa Milho e Sorgo. Imagem: Laboratório de Nutrição Experimental da UFV via Embrapa.
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