Notícia

Estudo identifica relação entre situação socioeconômica de municípios e tendências nutricionais da população

Quanto maior o IDH maior é o acesso a alimentos ricos em proteínas e menor é o consumo dos chamados alimentos verdadeiros, que vêm diretamente da horta

Nadine Primeau, Unsplash

Fonte

UnB | Universidade de Brasília

Data

sexta-feira, 11 setembro 2020 07:30

Áreas

Nutrição Coletividades. Saúde Pública

Quanto maior o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de um município brasileiro, maior é o acesso de seus habitantes a fontes proteicas de origem animal e a alimentos processados e ultraprocessados. Em outras palavras, quanto maior o IDH de um município, maior é a chance de seus moradores terem uma alimentação comprometida por excessos e escolhas ruins. Exceção feita em casos de municípios com baixa circulação de renda, onde o IDH pode ser alto mas não há acesso a variedade de alimentos industrializados.

Esta é uma das principais conclusões presentes no artigo Increased in carbon isotope ratios of Brazilian fingernails are correlated with increased in socioeconomic status (O aumento da proporção de isótopos de carbono das unhas brasileiras está relacionado ao aumento da condição socioeconômica, em tradução livre). A produção científica assinada por um grupo de pesquisadores é liderada pela professora Dra. Gabriela Bielefeld Nardoto, do Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas (IB-UnB). O artigo foi publicado na revista científica NPJ Science of Food, renomada revista do grupo Nature, e selecionado para ser a capa da atual edição.

“A publicação do artigo nessa revista é uma conquista para o grupo inteiro. Os editores acharam a pesquisa tão interessante e diferente que fomos convidados a publicá-la, não precisamos nem pagar os dois mil euros usuais”, comemora a professora. A pesquisa se concentra principalmente na análise da presença dos isótopos estáveis de carbono, o chamado C4, nas unhas. É o carbono que está associado diretamente aos alimentos processados, ultraprocessados e àqueles que “vêm do pasto”, como explica a docente. Os pesquisadores constataram que, quanto maior o IDH de uma localidade, maior é a proporção dos isótopos de carbono, indicando um maior acesso aos alimentos ricos em proteínas, como leite, queijo, frango, porco, embutidos, ovos, etc.

“Tudo o que ingerimos vai para os nossos tecidos, e a queratina da unha é uma proteína que marca muito bem os isótopos estáveis de carbono, nitrogênio, oxigênio e hidrogênio que vêm dos alimentos”, explica a professora Gabriela sobre o método utilizado, que consiste em coletar e analisar unhas de milhares de brasileiros, de norte a sul do país.

A pesquisa faz, portanto, uma correlação entre os isótopos estáveis de carbono presentes nas unhas dos indivíduos e o IDH de cada um dos 5.507 municípios brasileiros, valor que variou entre -22 e -16 d13C (ou δ13C, medida da composição isotópica do carbono).

Início – A pesquisa da docente começou em 2006, quando ela publicou artigo em que constatava que existe um padrão na alimentação de acordo com o tipo de localidade. Cidade grande, cidade pequena e interior do Brasil têm, cada uma, hábitos alimentares diferentes. Por sua vez, elas têm padrões distintos daquelas do interior da Amazônia, que são diferentes daquelas dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia.

“A partir daí, foi um projeto atrás do outro, com parcerias no Brasil todo, da Amazônia ao Sudeste, passando pelo Nordeste, e com colaboração de várias instituições, como a Universidade de São Paulo (USP) e a UnB. Temos dezenas de publicações e fomos criando um banco de dados gigantesco, com mais de cinco mil unhas”, detalha a professora do IB. Ela destaca que, para a pesquisa específica publicada na NPJ Science of Food, foram usadas cerca de quatro mil unhas, coletadas desde 2004.

Na UnB, as unhas coletadas passam por um processo de limpeza e pesagem. Depois, são enviadas para um laboratório específico que possui um espectrômetro de massa. No caso da pesquisadora, suas amostras são mandadas para o Laboratório de Ecologia Isotópica do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da USP, sob a responsabilidade do professor Dr.  Luiz Martinelli.

Metodologia– O IDH é usado para comparar e classificar localidades pelo seu grau de desenvolvimento humano. Ele é formado por três índices: expectativa de vida ao nascer, educação e PIB per capita. É um indicador do padrão de vida de uma população, de acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). No Brasil, ele é calculado por município. Além disso, todos os anos, os países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) são classificados de acordo com essas medidas.

A pesquisa da professora Dra. Gabriela Nardoto mostra claramente a relação da alimentação com a qualidade de vida, ou o IDH. Ou seja, não indica se a população está comendo bem ou mal, mas qual é a relação da alimentação com os indicadores do IDH do município. “É um método semiquantitativo e, por isso, conseguimos estabelecer padrões e, a partir deles, fazer as modelagens estatísticas. E depois conseguimos ver onde o indivíduo se encaixa nesse padrão global”, explica.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da UnB.

Fonte: Marina Simon, Secom UnB. Imagem: Nadine Primeau, Unsplash.

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