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Dieta rica em frutas e legumes com elevado teor em polifenóis poderá ajudar a prevenir alergias alimentares

Apesar de ser necessária mais pesquisa, os resultados já indicam que é possível prevenir as alergias alimentares através do consumo de polifenóis na dieta

Pixabay

Fonte

Universidade do Porto

Data

segunda-feira, 26 julho 2021 09:40

Áreas

Nutrição Clínica. Nutrição Coletividades. Saúde Pública

O que têm em comum as couves, tomates e cebolas da Póvoa de Varzim, os mirtilos e o chá verde da Madeira? Todos são ricos em polifenóis, compostos orgânicos com uma característica que pode ajudar na prevenção das alergias alimentares, de acordo com uma pesquisa que está sendo conduzida por pesquisadores do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

“Estudamos os mecanismos pelos quais uma dieta rica em frutas e legumes com elevado conteúdo em polifenóis poderia ajudar a prevenir alergias a alimentos como o ovo, o leite ou o amendoim”, explica a Dra. Rosa Pérez Gregório, pesquisadora do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV-REQUIMTE), no DQB-FCUP.

Numa fase inicial do estudo, os pesquisadores já conseguiram comprovar, através de ensaios em células in vitro, que estes compostos têm uma influência positiva. Mas, para compreender como atuam, é importante perceber como ocorrem as alergias.

Sabe-se que uma reação alérgica só acontece após exposições sucessivas a um alimento. Tudo começa com uma disfunção que se dá no nosso organismo, normalmente durante os primeiros anos de vida, quando se introduzem alimentos como o ovo e o leite, por exemplo. Durante o processo de digestão, as proteínas que ingerimos transformam-se em peptídeos. No entanto, uma parte destes compostos pode gerar, em algumas pessoas, uma falha e ser reconhecida como “estranha”, ativando uma resposta do sistema imunológico. Ao criar anticorpos (IgE), quando voltamos a ingerir o mesmo alimento, os IgEs vão ligar-se a uma célula — o mastócito — e libertar a histamina, responsável pelo aparecimento de sintomas.

“Quando se faz a digestão humana in vitro do alergênico na presença do polifenol, a quantidade de peptídeos alergênicos é muito mais baixa, ou seja, a probabilidade de haver depois uma disfunção é menor”, explica a Dra. Rosa Pérez Gregório.

Como é que os polifenóis atuam na formação dos peptídeos?

A título de prevenção, logo no início do processo digestivo, no primeiro contato com o alimento, se o polifenol estiver ligado molecularmente à proteína, pode ter impacto nos peptídeos que se formam.

Para além de estudarem os efeitos na fase da digestão, os cientistas procuraram também perceber se a prevenção poderia ser feita também em fases mais avançadas, como a absorção.

“Temos um modelo de células epiteliais intestinais que simula a barreira intestinal e conseguimos ver também a quantidade de peptídeos que passa através da membrana e que são capazes de ativar o sistema imunológico”, detalha a pesquisadora.

Caracterizar os produtos locais e identificar os mais promissores

Os pesquisadores estão também a caracterizar as frutas e legumes em estudo, todos produtos locais, para perceber quais os mais eficazes e que mais facilmente se podem ligar aos peptídeos. Segundo a Dra. Rosa Pérez Gregório, a chave está na quantidade de polifenóis não digeríveis e na sua estrutura complexa “Quanto mais complexa é a estrutura dos polifenóis, mais estável será o complexo polifenol-proteína durante a digestão resultando num menor potencial alergênico”, refere a pesquisadora, que adianta que o chá verde da Madeira se revelou o mais alimento mais promissor.

Para esta investigação, a equipa da FCUP recorreu a voluntários, seguidos no Serviço de Imunologia do Hospital de S. João, no Porto, até aos três anos de idade. Os cientistas usaram amostras de sangue recolhido em contexto hospitalar para estimular as células in vitro.

Devido à pandemia de Covid-19, a investigação vai continuar durante mais um ano. “O nosso objetivo agora é avaliar o efeito dos polifenóis, já numa fase mais avançada, a fase efetora. No entanto, a ideia é trabalhar sobre a prevenção, bloqueando a disfunção biológica que promove a sensibilização alérgica ”, explica a Dra. Rosa Perez Gregório.

Em estudos futuros, a ideia da equipe de cientistas, que integra também pesquisadores do grupo de Imunobiologia do i3S, é passar aos ensaios in vivo. “O ideal seria avaliar durante a exposição ao alergênico, em ambiente de hospital, como é que o polifenol pode ajudar a bloquear o aparecimento de sintomas”, conta.

O estudo, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, poderá dar origem a um conjunto de recomendações sobre o consumo destes alimentos. Apesar de ser necessária mais pesquisa, a verdade é que os resultados já indicam que é possível prevenir as alergias alimentares através do consumo de polifenóis na dieta. E não é por acaso que se utilizam produtos locais: “Os processos agronômicos utilizados na indústria hortofrutícola influenciam o teor em polifenóis, importantes na defesa contra pragas e radiação solar entre outros”. Fica a recomendação.

O estudo foi publicado na revista científica Frontiers in Sustainable Food Systems.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade do Porto.

Fonte: Renata Silva – Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.  Imagem: Pixabay.

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