Notícia
Cartilha gratuita produzida na UFLA orienta consumidores sobre agrotóxicos em alimentos
Além dos riscos aos consumidores, estudos recentes demonstram o desequilíbrio ambiental ocasionado pelo uso de agrotóxicos, que podem contaminar o solo, a água e a vegetação
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Fonte
UFLA | Universidade Federal de Lavras
Data
quinta-feira, 4 maio 2023 14:55
Áreas
Agricultura. Agronomia. Ciências Agrárias. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Engenharia de Alimentos. Nutrição Coletividades. Saúde Pública
Uma alimentação balanceada é fundamental para uma boa qualidade de vida. Mas você sabe exatamente o que tem no que você come? A partir de um levantamento científico e sistematizado de literatura, realizado na Universidade Federal de Lavras (UFLA), foi criada uma cartilha informativa com evidências científicas que respondem às dúvidas sobre o uso de agrotóxicos em alimentos. O objetivo é que a cartilha sirva de apoio para as ações de educação alimentar e nutricional.
Além dos nutrientes necessários ao organismo humano, os alimentos podem conter também substâncias nocivas, como agrotóxicos. Utilizados principalmente na agricultura para o controle de pragas e doenças e, consequentemente, para garantir maior produtividade, os agrotóxicos são alvos de diversas polêmicas.
O Brasil, um dos principais produtores agrícolas do mundo, liberou, somente em 2020, 493 agrotóxicos, o maior número já registrado pelo Ministério da Agricultura (MAPA), que compila esses dados desde o ano 2000. Em 2021, até julho, foram outros 310. O registro de agrotóxicos no Brasil é regulamentado pela Lei nº 7.802/89 e pelo Decreto nº 4.074/02, e os órgãos responsáveis pela liberação são a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Ministério da Agricultura.
Apesar do aumento da liberação e do uso de agrotóxicos no País, especialistas alertam sobre a falta de melhores políticas públicas para controle e fiscalização das substâncias, bem como orientações aos consumidores.
Os resultados obtidos na pesquisa
A partir desse contexto, foi criada a cartilha informativa sobre o uso de agrotóxicos na produção de alimentos. Ela é fruto de levantamento científico e sistematizado de literatura, realizado pela Dra. Rafaela Corrêa Pereira, atualmente docente no Instituto Federal de Minas Gerais, em Bambuí, sob orientação do professor Dr. Michel Cardoso de Angelis Pereira da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS/UFLA) , em atividade de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde da UFLA.
De acordo com a cartilha, a contaminação por agrotóxicos pode ocorrer de diversas formas. Uma delas é a contaminação direta, que afeta principalmente os agricultores, devido à exposição direta e intensiva aos produtos. Há também a exposição crônica, em que todas as pessoas estão sujeitas à contaminação, seja ambiental, seja por alimentos. Em geral, a população está exposta aos resíduos de agrotóxicos que podem estar presentes em alimentos in natura e minimamente processados, de origem vegetal ou animal. Em um estudo recente, realizado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), constatou-se a presença de agrotóxicos até mesmo em alimentos e bebidas ultraprocessados, consumidos principalmente por crianças.
Em relação ao consumo seguro de alimentos, a Dra. Rafaela Pereira informou que existe a Ingestão Diária Aceitável (IDA). “Este é um parâmetro de segurança definido como a quantidade máxima do componente ativo presente na formulação do agrotóxico que podemos ingerir por dia, durante toda a vida, de modo a não causar danos à saúde. Porém, há o efeito cumulativo, já que diferentes alimentos fazem parte da nossa alimentação ao longo do dia, e esses alimentos podem conter doses diferentes de resíduos, ficando difícil estabelecer o quanto isso é realmente seguro”, comentou a Dra. Rafaela Pereira. A pesquisadora destacou, ainda, que as embalagens dos produtos não informam aos consumidores sobre a presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos, por exemplo.
Além dos riscos aos consumidores, estudos recentes demonstram o desequilíbrio ambiental ocasionado pelo uso de agrotóxicos, que podem contaminar o solo, a água e a vegetação. Os agrotóxicos liberam agentes patogênicos e também podem ser tóxicos para uma série de organismos, incluindo pássaros, peixes, insetos e plantas não alvo.
Uma alternativa para a produção de alimentos mais saudáveis, seguros (sem resíduos que podem ser prejudiciais à saúde humana a longo prazo) e de qualidade, sobretudo em relação à composição de substâncias bioativas, são os cultivos orgânicos. Pesquisas internacionais mostram que eles tendem a ter uma melhor composição nutricional, como vitaminas e minerais.
“Além de reforçar essas evidências, nossa pesquisa mostrou que esse aumento de substâncias bioativas proporcionadas pelos cultivos orgânicos traz benefícios adicionais para a saúde do consumidor, principalmente em relação a antioxidantes, já que nesses alimentos o teor de antioxidantes é maior.”, disse a Dra. Rafaela Pereira.
Há, ainda, alternativas caseiras utilizadas para reduzir os resíduos de agrotóxicos em alimentos, como descascá-los sempre que possível e deixá-los de molho em uma solução de água e bicarbonato e, posteriormente, em outra solução com água e vinagre. Apesar de serem boas práticas, essas medidas não podem ser consideradas seguras, pois não se sabe se a porcentagem de redução é significativa a ponto de deixar o alimento com o nível mínimo de resíduo que não traga prejuízos à saúde. Ou seja, elas não eliminam o risco de resíduos de agrotóxicos em alimentos, apenas atenuam a concentração dessas substâncias na superfície dos alimentos.
A estatística por trás dos agrotóxicos
A Lei Federal nº 7.802 entende por agrotóxicos “as substâncias, ou mistura de substâncias, de natureza química, quando destinadas a prevenir, destruir ou repelir, direta ou indiretamente, qualquer forma de agente patogênico ou de vida animal ou vegetal que seja nociva às plantas e animais úteis, seus produtos e subprodutos, e ao homem”. Atualmente o glifosato é o agrotóxico mais comercializado no Brasil e no mundo. Por ano, 173.150,73 toneladas do herbicida e seus sais são vendidas no País, segundo o Ibama.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, no mundo, 150 milhões de pessoas são intoxicadas anualmente e mais de vinte mil morrem por consequência da exposição a agrotóxicos. A maioria dos casos ocorrem em países em desenvolvimento.
Acesse a cartilha completa gratuitamente no Repositório Institucional da UFLA.
Acesse a notícia completa na página da UFLA.
Fonte: Karina Mascarenhas, adaptado por Mayara Mesquita – Portal da Ciência – UFLA. Imagem: Freepik.
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