Notícia

Azeite de abacate atenua males causados pela obesidade

Estudo iniciado no Brasil e concluído na Suécia mostra a importância da ingestão de gorduras saudáveis e sugere os benefícios do consumo do fruto

 Antoninho Perri, jornal da Unicamp

Fonte

Jornal da Unicamp | Universidade Estadual de Campinas

Data

quarta-feira, 6 junho 2018 10:00

Áreas

Ciência e Tecnologia de Alimentos. Engenharia de Alimentos. Nutrição Clínica. Nutrição Coletividades. Nutrição Esportiva. Nutrição Funcional

Depois de um fim semana com uma dieta rica em gorduras, não raro as pessoas sentem-se profundamente culpadas e prometem compensar o exagero consumindo folhas e legumes no decorrer da semana. Certamente lastimam-se pela falta de um antídoto para controle imediato de marcadores metabólicos como os dos colesteróis, dos triglicérides, da glicemia. Mas ele existe, e é também uma gordura, por paradoxal que possa parecer. Trata-se do azeite de abacate extraído da polpa do fruto. Azeite, denominação adequada, porque o termo óleo refere-se aos extratos de sementes como soja, milho, algodão, canola.

Essa revelação encontra-se na tese de doutorado da nutricionista Dra. Cibele Priscila Busch Furlan, desenvolvida junto à Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp e concluída na Universidade de Lund, Lund, Suécia, que originou artigo publicado no final do ano passado, mesmo antes de sua defesa, no Journal of Functional Foods, de alto impacto.

Em sua primeira etapa realizada no Brasil com animais, o estudo permitiu concluir que vários parâmetros metabólicos podiam ser controlados e até conduzidos a níveis adequados quando à ração consumida por ratos Wistar adicionou-se, por cerca de três meses, azeite de abacate. Na segunda fase, realizada na Suécia, o trabalho concentrou-se na verificação do que acontecia em humanos, em fase aguda, ou seja, quando submetidos a uma refeição hipercalórica e hiperlipídica. Isso ainda não havia sido feito. Avaliou-se então o efeito da ingestão dos alimentos nos principais parâmetros metabólicos imediatamente após sua ingestão, o que se denomina efeito pós-prandial. Nesta etapa, foram determinados os índices metabólicos referentes à glicemia, aos colesteróis, aos triglicérides, às inflamações, entres outros, em 13 adultos saudáveis, não diabéticos, na faixa etária de 65 anos, que sofrem um processo inflamatório crônico e latente em decorrência do sobrepeso.

O estudo clínico cross-over, em que no desjejum manteiga foi substituída pelo azeite do abacate avocado Hass, mostrou redução significativa de glicemia, colesterol total, LDL-colesterol, triglicérides, inflamação pós-prandial, tendência à melhoria da insulina e da redução da endoxemia – que corresponde à passagem de determinadas substâncias, que provocam infecção, do intestino para a corrente sanguínea, além de diminuição de riscos de aterosclerose.

Para a pesquisadora, esses resultados reforçam a importância da escolha correta quanto à qualidade dos alimentos e principalmente das gorduras, independentemente das calorias dietéticas ingeridas, pois os alimentos com biocompostos – responsáveis por benefícios específicos ao organismo – são fundamentais para melhora dos marcadores biológicos, promoção e manutenção da saúde.

A pesquisa com humanos

Para que pudessem ser estabelecidas comparações, aos participantes, previamente selecionados e submetidos a exames padrões, foi oferecido em uma semana um desjejum constituído de pão, batatas fritas, bacon, ovos e manteiga. Na semana seguinte, o mesmo prato foi preparado substituindo a manteiga por azeite de abacate. Todos tinham 30 minutos para a refeição e imediatamente depois foi realizada a primeira coleta de sangue, repetida em intervalos de 30 minutos, durante quatro horas. Em cada amostra foram determinados: os índices de glicose; todas as frações de gorduras mais comuns, como o colesterol total, o LDL – conhecido como colesterol ruim, o HDL – chamado de colesterol bom, os triglicérides – que também constituem uma fração de gorduras; os marcadores inflamatórios CRP e IL-6 – indicativos da propensão ao desenvolvimento do diabetes por provocar a degradação de receptores da sinalização de insulina e glicose nas membranas.

Os resultados surpreenderam, diz a pesquisadora: “Verificamos que, mesmo com o consumo de uma alimentação altamente lipídica, a substituição da manteiga pelo azeite de abacate no preparo do prato levou à redução imediata de todos os marcadores metabólicos mencionados, a menos da HDL cujos índices se mantiveram”.

Constatada, ainda, a forte ação do azeite de abacate na redução da inflamação e como esta modula a parede intestinal, os pesquisadores decidiram-se por outra análise que permitiria determinar a migração de alguns compostos presentes nas bactérias do intestino, chamadas LPS, para a corrente sanguínea, porque elas também ativam a infamação que gera um bloqueio na captação da insulina, aumentando a tendência ao desenvolvimento do diabetes. Ainda aqui o azeite de abacate revelou-se de grande potencial, constituindo uma barreira imediata, pós-prandial, a essa migração.

A pesquisadora destaca o ineditismo dos achados: “Sabia-se que o fruto do abacate traz grandes benefícios, mas ainda eram desconhecidos os efeitos imediatos do azeite, mesmo porque seu consumo e comercialização em supermercados são muito recentes”.

Na fase brasileira do trabalho ela realizou análises para determinar a composição do azeite e seu efeito sobre os principais marcadores metabólicos dos animais, quando foi orientada pelo Prof. Dr. Mário Roberto Maróstica Junior, do Departamento de Alimentos e Nutrição da FEA, que mantém linha de pesquisa focada principalmente na obesidade e nos problemas que podem decorrer dela, como a ocorrência de um processo inflamatório subclínico, de manifestação silenciosa, decorrente da obesidade, que desencadeia o diabetes tipo 2. A propósito, diz a pesquisadora: “O foco inicial do meu trabalho com animais foi o tratamento dessa inflamação usando o azeite do abacate para retardar o desenvolvimento da diabetes”.  Na Suécia, onde os trabalhos tiveram continuidade em decorrência dos resultados obtidos no Brasil, os orientadores foram os professores Elin Ösman e, mais sistematicamente, Juscelino Tovar, da Universidade de Lund, que dispõe de infraestrutura adequada para pesquisas em humanos.

Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unicamp.

Fonte: Carmo Gallo Netto, Jornal da Unicamp. Imagem: Antoninho Perri, Jornal da Unicamp

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