Notícia
Associação entre excesso de peso e tamanho das porções de bebidas consumidas no Brasil
Esta pequisa teve como objetivo descrever o tamanho das porções de bebidas consumidas e avaliar sua associação com excesso de peso no Brasil
Pixabay
Fonte
REVSP | Revista de Saúde Pública
Data
Áreas
Educação Nuytricional. Nutrição Clínica. Nutrição de Coletividades. Saúde Pública
O tamanho da porção de um alimento pode ser definido como a quantidade real de alimento que é colocado no prato, refletindo a escolha própria do consumidor, do restaurante ou do produtor do alimento, ou a quantidade de um alimento ou bebida que normalmente é ingerida por ocasião de consumo.
Alguns estudos, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, têm mostrado aumento no tamanho das porções dos alimentos consumidos, principalmente com relação às bebidas adicionadas de açúcar. Esse aumento na quantidade de alimentos consumidos coincide com o aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade na população de diversos países.
Apesar do ganho excessivo de peso ser causado por uma rede complexa de múltiplos fatores, o desequilíbrio energético decorrente da ingestão de energia em excesso e do menor gasto energético é o fator proximal que melhor explica o desenvolvimento de sobrepeso ou obesidade. O aumento no tamanho das porções tem sido considerado fator importante para esse ganho excessivo de peso, devido a sua contribuição para uma maior ingestão de energia. Os mecanismos ainda não estão bem elucidados e as recomendações não refletem o conhecimento e a complexidade da temática, mas sugere-se que os adultos substituem ou ignoram os sinais de fome e saciedade quando consomem grandes porções, sem haver compensação energética nas refeições subsequentes.
Apesar das evidências de que o tamanho da porção de bebidas possa estar relacionado ao ganho excessivo de peso, a maioria dos estudos sobre o tema foi realizado em países desenvolvidos, com destaque para os Estados Unidos. No Brasil, somente um estudo avaliou o tamanho das porções dos alimentos consumidos, em uma amostra de adultos da cidade de São Paulo. Os autores encontraram que grandes porções de alimentos de alguns grupos com diferentes densidades energéticas, como pizza, carne vermelha, arroz, salgadinhos e refrigerantes, estão positivamente associadas com sobrepeso. Entretanto, não há estudos nacionais que tenham estimado o tamanho das porções de bebidas consumidas em amostra representativa do país e sua relação com o excesso de peso.
A limitação de dados nacionais sobre o tema sugere um novo foco de investigação e de intervenção visando a subsidiar ações de saúde pública para mudanças no ambiente a favor da prevenção do ganho excessivo de peso e do desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis relacionadas à má alimentação. Uma análise do tamanho da porção de bebidas consumidas no país pode ainda auxiliar na avaliação das tendências de consumo de bebidas ao longo dos anos no Brasil. O objetivo deste artigo é descrever o tamanho das porções de bebidas consumidas no Brasil e avaliar sua associação com excesso de peso.
Resultados
A população de estudo apresentou uma média de idade de 43,2 anos, oito anos de estudo e uma média de renda familiar per capita de R$1.013,5. Metade da população era do sexo feminino (50,9%) e apresentou excesso de peso (sobrepeso e obesidade).
As bebidas com maior frequência de consumo no Brasil foram café e chá, seguidas dos sucos de frutas, refrigerantes e leite, enquanto os grupos que apresentaram menor frequência de consumo foram refresco e bebida alcoólica. Quanto à porção consumida, o grupo de bebidas que apresentou a maior mediana foi o de bebidas alcóolicas (525 mL), seguido do grupo do refrigerante (280 mL). Não houve diferença entre o valor da mediana dos grupos do suco, do refresco e do leite (240 mL). A menor mediana foi encontrada para o grupo de café ou chá (172,5 mL).
Discussão
Os achados deste estudo corroboram a hipótese de que o tamanho da porção de refrigerantes e bebidas alcoólicas está positivamente associado ao excesso de peso. A identificação do tamanho da porção de bebidas consumidas em amostras representativas da população é um passo necessário para definir recomendações dietéticas adequadas e voltadas à realidade do país.
No Brasil, o grupo de bebidas com maior frequência de consumo pela população foi o café ou chá, que apresentou menor tamanho da porção por ocasião de consumo. Por outro lado, apesar da frequência de consumo de bebidas alcoólicas ter sido a menor; quando consumidas, são as que representam o maior tamanho da porção por ocasião de consumo, independentemente da faixa etária e sexo. O tamanho médio da porção ultrapassa 700 mL, excedendo a recomendação máxima de consumo proposta pela Sociedade Brasileira de Cardiologia para homens (625 mL de cerveja ou 312,5 mL de vinho ou 93,7 mL de bebida destilada) e mulheres (312,5 mL de cerveja ou 156,25 ml de vinho ou 46,85 mL de bebida destilada).
O consumo de grandes porções de bebida alcoólica não apenas favorece uma maior ingestão de energia (7 kcal/mL), mas está associado ao aumento da pressão arterial e da mortalidade
cardiovascular em geral.
Cinquenta e seis por cento dos adultos reportaram o consumo de sucos e refrescos em um dos dois dias de inquérito. Apesar de sucos e refrescos sugerirem uma opção mais saudável em comparação ao refrigerante, muitas vezes são consumidos com adição de açúcar. A maioria dos indivíduos (85%) que reportou o consumo de sucos e refrescos referiu utilizar açúcar para adoçar as bebidas consumidas.
Quanto aos refrigerantes, apesar de a frequência de consumo ter sido inferior à dos sucos e refrescos, a porção média é 17% maior do que a do grupo do suco quando escolhida para consumo. Esse dado mostra a importância não apenas da escolha da bebida, mas também da quantidade consumida por ocasião de consumo.
A preocupação com o consumo de refrigerantes e sucos e refrescos adoçados é que o consumo de bebidas adicionadas de açúcar associa-se de forma positiva ao ganho de peso corporal em crianças e adultos. Além disso, possui relação direta com o aumento dos triglicerídeos, tecido adiposo visceral, gordura subcutânea e gordura no fígado.
Este estudo tem como ponto forte a análise de uma característica do consumo alimentar pouco avaliada em estudos nacionais, que é o tamanho da porção de bebidas consumidas, e que pode afetar de forma importante o consumo excessivo de calorias, contribuindo para o ganho excessivo de peso corporal.
No Brasil, não existem políticas voltadas para a redução no tamanho das porções. Este estudo contribui para reforçar o olhar para uma temática importante que pode favorecer a redução na ingestão calórica total com efeito na manutenção de um peso saudável. Entretanto, os resultados devem ser vistos com cautela, uma vez que a estimativa da quantidade dos alimentos consumidos constitui importante fonte de erro em inquéritos dietéticos.
Em conclusão, o tamanho da porção de refrigerante e bebida alcóolica mostrou associação positiva com o excesso de peso. Apesar de opções consideradas mais saudáveis, como os sucos, terem apresentando maior frequência de consumo do que os refrigerantes, o tamanho da porção destes últimos é maior quando escolhidos para consumo. Uma vez que o aumento no tamanho da porção pode contribuir para a ingestão excessiva de calorias e consequentemente para o excesso de peso, intervenções de saúde pública devem desencorajar o consumo de grandes porções, principalmente das bebidas adicionadas de açúcar e de baixo teor nutricional.
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Fonte: Revista de Saúde Pública Image: Pixabay
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