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Arroz e feijão estão entre os alimentos mais desperdiçados no Brasil

A dupla arroz e feijão, símbolo da culinária brasileira, representa aproximadamente 38% do montante de alimentos jogado fora no Brasil

Pixabay

Fonte

Embrapa | Empesa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Data

quinta-feira, 20 setembro 2018 12:20

Áreas

Agricultura. Educação Nutricional. Nutrição Coletividades. Pecuária

A dupla arroz e feijão, símbolo da culinária brasileira, representa aproximadamente 38% do montante de alimentos jogado fora no Brasil. O achado faz parte de uma pesquisa que ouviu 1.764 famílias de diferentes classes sociais e de todas as regiões brasileiras, demandada pelos Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil, em projeto liderado pela Embrapa e apoiado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O ranking dos alimentos mais desperdiçados mostra arroz (22%), carne bovina (20%), feijão (16%) e frango (15%) com os maiores percentuais relativos ao total desperdiçado pela amostra pesquisada. Os dados detalhados da pesquisa serão apresentados no “Seminário internacional perdas e desperdício de alimentos em cadeias agroalimentares: oportunidades para políticas públicas”, quinta-feira (20), na sede da Embrapa, em Brasília (DF).

“A família brasileira desperdiça, em quantidade relativamente grande, até mesmo alimentos mais caros e proteícos, tais como carne bovina e frango, um dado que nos surpreendeu”, comenta o Dr. Carlos Eduardo Lourenço, professor de marketing da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), da FGV.

Entre os motivos do desperdício apontados pelos pesquisadores está a busca pelo sabor e a preferência pela abundância dos consumidores brasileiros. O não aproveitamento das sobras das refeições é o principal fator para o descarte de arroz e feijão, de acordo com a análise dos especialistas.

Compra grande, desperdício maior

Outra descoberta relevante da pesquisa é que 43% das pessoas concordam que “os conhecidos jogam comida fora regularmente”, mas nas questões que abordam comportamento da própria família o problema não aparece tanto. Os resultados mostraram que 61% das famílias priorizam uma grande compra mensal de alimentos, o que aumenta a propensão de comprar itens desnecessários.

Pesquisas anteriores realizadas pela Embrapa já apontavam que o hábito do brasileiro de fazer uma grande compra mensal leva ao desperdício de alimentos, especialmente quando a compra farta é combinada com o baixo planejamento das refeições. “Observamos algumas contradições no comportamento do consumidor. Enquanto 94% afirmam ser importante evitar o desperdício de comida, 59% não dão importância se houver comida demais na mesa ou na despensa”, conta o Dr. Gustavo Porpino, analista da Embrapa e líder do projeto nos Diálogos Setoriais.

O Dr. Porpino revela que a maioria das famílias (68%) valoriza muito ter uma despensa e geladeira cheias de alimento. “Ter uma despensa sempre abastecida é um traço cultural muito presente nas famílias brasileiras e principalmente no contexto da classe média baixa, essa necessidade ocorre em função de a compra dos alimentos ser a prioridade do orçamento familiar. Essa nova pesquisa reforça achados anteriores de que a preferência pela fartura é um promotor de desperdício de alimentos”, salienta.

Soluções

“Os dados das pesquisas evidenciam que o Brasil precisa atuar em diferentes elos da cadeia para evitar perdas e desperdícios de alimentos. Ações de comunicação e educação nutricional são fundamentais para conscientizar e conectar o consumidor com o alimento, assim como tecnologias e capacitações técnicas para redução de perdas de alimentos no campo”, recomenda o Dr. Porpino.

O analista da Embrapa explica que a Estratégia Nacional de Combate às Perdas e ao Desperdício de Alimentos, aprovada recentemente pela Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan), trabalha nessa perspectiva mais ampla, envolvendo quatro eixos: pesquisa e inovação; comunicação e capacitação; políticas públicas; e legislação. “Há uma forte premissa de que também é preciso atuar diretamente com o consumidor final,” conta Porpino que acredita que a pesquisa traz subsídios para essa e outras iniciativas brasileiras.

A cultura da fartura

A pesquisa iniciou com uma fase qualitativa, na qual 62 consumidores foram entrevistados em supermercados, lojas de conveniência e feiras livres. A coleta de dados envolveu um grupo de pós-graduandos europeus das Universidades de Bocconi (Itália), St Gallen (Suíça), Viena (Suíça) e Groningen (Holanda). O objetivo foi avaliar hábitos de compra e consumo de alimentos dos brasileiros, a partir do olhar dos europeus.

“Os europeus ficaram impressionados com a quantidade dos alimentos adquiridos pelos brasileiros. As compras informadas como semanais, alimentariam a família por cerca de um mês. Nas lojas de conveniência, onde normalmente se adquire poucos volumes, os carrinhos utilizados eram enormes e enchiam-se com facilidade. Essa preferência pela mesa farta contribui fortemente para o aumento do desperdício de alimentos”, reforça o Dr. Lourenço, da FGV.

Na segunda fase da pesquisa, foi utilizado um painel com mais de 600 mil consumidores brasileiros. Depois de uma triagem, foram selecionadas três mil pessoas de todo o País e, dessas, 1.764 participaram efetivamente da primeira fase quantitativa da pesquisa. Das respondentes, 638 famílias participaram também do preenchimento de um diário alimentar, que incluiu dados sobre quantidades desperdiçadas e fotos dos alimentos descartados.

Nessa etapa, foi observado que o brasileiro está mais preocupado com sabor e aparência dos alimentos, do que em consumir alimentos saudáveis ou pouco calóricos. “Temos uma culinária diversa e saborosa, que deve ser valorizada; mas essa exaltação gastronômica é preocupante, pois promove o desperdício”, afirma o professor.

Os consumidores enviaram fotos de seus hábitos alimentares durante até sete dias, informando dados sobre desperdício na preparação e no consumo de alimentos, principalmente no almoço e jantar. Essa metodologia foi adaptada de um estudo realizado na Holanda pela pesquisadora Erica van Herpen, da Universidade de Wageningen.

“Selecionamos pessoas que, além de consumir, realizassem também a compra e a preparação de suas refeições em casa. Tudo foi auditado por fotografia. Ficamos surpresos em ver que as famílias jogam muita comida fora. É relativamente comum ir para o lixo metade de uma panela de arroz, entre uma refeição e outra”, destaca o professor da FGV.

Por fim, na terceira fase da pesquisa, foi realizado um web scraping com o auxílio de robô, ou seja, um minucioso levantamento de dados em blogs e redes sociais como Facebook e Twitter, com o objetivo de avaliar como o tema desperdício de alimentos foi propagado na internet nos últimos meses.

Os resultados indicaram que 75% desse assunto é tratado por instituições públicas e privadas; há pouco envolvimento das pessoas nesse tema. “O desperdício de alimentos é ainda um assunto tabu, que não chegou às pessoas. É preciso pensar em estratégias de comunicação para sensibilizar e engajar o público nessa causa”, destaca Lourenço.

Engajamento da União Europeia

“Combater os desperdícios alimentares significa trabalhar em conjunto com todos os principais atores dos setores público e privado, a fim de melhor identificar, medir, compreender e encontrar soluções para o problema. Não existe uma única causa com uma solução, porque a cadeia alimentar é um sistema complexo e dinâmico. Todos os atores da cadeia alimentar precisam trabalhar juntos para encontrar soluções”, afirma o embaixador da União Europeia no Brasil, João Gomes Cravinho.

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