Notícia

Alterações no metabolismo de gordura podem estar ligadas à progressão da Esclerose Lateral Amiotrófica

Pesquisadores do Instituto de Química da USP são pioneiros na análise do conjunto de lipídios do sistema nervoso, conhecimento que pode ajudar a desenvolver novos tratamentos

Arte,  Jornal da USP

Fonte

Jornal da USP

Data

terça-feira, 20 agosto 2019 09:30

Áreas

Nutrição Clínica. Nutrição Coletividades. Saúde Pública

Um estudo observacional, realizado por pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da USP e do Cepid Redoxoma, trouxe achados importantes relacionados à Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença neurodegenerativa que afeta os movimentos e a respiração. O grupo investigou todos os lipídios presentes em tecidos do sistema nervoso central de ratos portadores de ELA e mostrou que há um acúmulo de ésteres de colesterol e uma diminuição dos níveis de cardiolipina na medula espinhal desses animais. Os resultados estão no artigo publicado na revista científica Scientific Reports.

Os lipídios – ou moléculas de gordura – são encontrados em grande quantidade e variedade no SNC e desempenham funções importantes: controlam a fluidez das membranas celulares e formam uma espécie de capa chamada bainha de mielina, que envolve os axônios nos neurônios e facilita a transmissão de impulsos elétricos. Alterações no metabolismo lipídico em neurônios estão associadas ao envelhecimento e ao aparecimento de doenças neurodegenerativas. “Essas alterações poderiam ser consequência do estresse oxidativo e do aumento de radicais livres”, explica o Dr. Adriano Britto, primeiro autor do estudo. “O nosso objetivo foi entender a relevância dessas moléculas na progressão da ELA.” O estresse oxidativo é o desequilíbrio entre a produção de radicais livres, prejudiciais às células, e de antioxidantes, que as protegem destes danos.

Estudos anteriores já haviam descrito a presença e o aumento desses compostos no sistema nervoso. O que o grupo fez de novo foi, por meio de uma técnica chamada espectrometria de massa, caracterizar e quantificar todas as moléculas de gordura no cérebro, dando um passo adiante na busca por novos tratamentos.

Experimentos e resultados
Os cientistas usaram um modelo animal que apresenta os sintomas da doença somente na fase adulta. Os ratos SOD1-G93A expressam uma quantidade elevada da proteína superóxido dismutase, que tem um papel antioxidante e combate a formação de radicais livres. “Expressão” é o termo usado para dizer que um gene está ativo, codificando proteína. “A SOD-1, quando mutada, deixa de combater o estresse oxidativo, se agrega e produz um aglomerado que causa danos às células”, enfatiza o Dr. Adriano Britto. Para efeitos de comparação, animais selvagens (wild type), isto é, sem a mutação, foram utilizados como controle.

Tecidos do córtex motor e da medula espinhal – regiões mais afetadas nesse modelo – dos ratos foram retirados para análise em duas fases: aos 70 dias de vida, quando ainda não demonstram sintomas, e aos 120 dias de vida, quando a doença já está instalada. “Nesse estágio, os animais apresentam todos os sintomas da doença e várias paralisias”, relata a Dra. Sayuri Miyamoto, professora associada do IQ e coordenadora do estudo.

Os resultados mais interessantes foram observados na medula espinhal. “Entre as 406 espécies de lipídios quantificados, encontramos um aumento significativo dos ésteres de colesterol, também conhecidos como lipídios de armazenamento, e uma redução dos níveis de cardiolipina”, diz Marcos Yukio Yoshinaga, biólogo responsável pela análise lipidômica no estudo. “Encontramos ésteres de colesterol na circulação sanguínea, em outros órgãos, mas no cérebro não é comum a presença desses compostos.”

Ésteres de colesterol estão presentes no plasma humano (líquido amarelado que compõe o sangue) e no fígado, por exemplo, e uma de suas funções é o transporte de colesterol para o corpo. Uma parte do colesterol humano existe esterificado, ou seja, ligado a um ácido graxo. No entanto, o estresse oxidativo e a disfunção mitocondrial são fatores que acabam induzindo os neurônios a produzir mais colesterol. Mecanismos similares já foram descritos na doença de Alzheimer, porém os que estão envolvidos nesse processo ainda não estão claros. “Nossos dados mostram não só o aumento desses ésteres de colesterol, como também a diminuição de um lipídio da mitocôndria, chamado cardiolipina”, complementa a Dra.Sayuri.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa no Jornal da USP.

Fonte:  Fabiana Mariz, Jornal da USP. Imagem: Arte,  Jornal da USP

Em suas publicações, o Canal Nutrição da Rede T4H tem o único objetivo de divulgação científica, tecnológica ou de informações comerciais para disseminar conhecimento. Nenhuma publicação do Canal Nutrição tem o objetivo de aconselhamento, diagnóstico, tratamento médico ou de substituição de qualquer profissional da área da saúde. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para a devida orientação, medicação ou tratamento, que seja compatível com suas necessidades específicas.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que  cadastrados no Canal Nutrição e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Nutrição, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2024 nutrição t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional nas áreas de Alimentos, Alimentação, Saúde e Tecnologias

Entre em Contato

Enviando
ou

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

ou

Create Account