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Agrotóxico: falso lucro que leva à incerteza de produção

Pesquisadores destacam que além do próprio mel que é um produto de destaque nas exportações de Santa Catarina, a morte das abelhas interfere também na produção de frutíferas

Wikimedia Commons

Fonte

IFSC | Instituto Federal de Santa Catarina

Data

sábado, 20 abril 2019 10:40

Áreas

Agricultura. Agronomia. Ciência e Tecnologia de Alimentos

Segundo dados revelados pela Secretaria de Estado de Agricultura e Pesca, foram perdidas cerca de 20 milhões de abelhas em 300 colmeias, nas cidades de Canoinhas, Monte Castelo, Rio Negrinho e Itaiópolis, todas no Planalto Norte. A mortalidade de abelhas, registrada desde janeiro passado em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, é atribuída ao uso de agrotóxicos. O parecer do Engenheiro Agrônomo Dr. Fernando Zinger, coordenador do curso superior de Tecnologia em Gestão do Agronegócio, de Lages, é de que: “A mortalidade desses insetos ocasiona de imediato uma redução na produção e na qualidade do alimento, além de um impacto negativo na cadeia produtiva de mel, da qual muitos agricultores dependem”. Assim, o uso desses produtos químicos pode, inicialmente parecer lucrativo, mas a longo prazo, passa a ser incerteza.

Para o Dr. Zinger, que atua também com fitoquímicos, manejo fitossanitário de pragas e doenças de importância agrícola, a mortandade crescente desses insetos gerará um efeito cascata para a agricultura e meio ambiente, que pode levar anos para que haja a recuperação total do processo de polinização.

“As abelhas desempenham um papel importantíssimo para a sobrevivência das espécies vegetais e principalmente a humanidade. Através do seu trabalho diário de coleta de néctar e pólen faz-se a polinização de espécies vegetais agrícolas e nos diversos ecossistemas naturais. As abelhas polinizam a maioria das espécies cultivadas pelo homem, e o resultado desse processo, chega a nossas mesas diariamente”, ressalta o Dr. Zinger.

Canoinhas, no Norte do estado, registrou inicialmente a perda de cerca de 80 a 150 colmeias, o que equivale a aproximadamente 8 milhões de abelhas mortas. A coordenadora do curso Técnico em Agroecologia de Canoinhas, Dra. Magali Regina, destaca que além do próprio mel que é um produto de destaque nas exportações de Santa Catarina, a morte das abelhas interfere também na produção de frutíferas, por exemplo, macieiras e ameixeiras, além de outras plantas nas quais elas são responsáveis pela polinização.

“Considerando a quantidade de colmeias e sua produção como mel, pólen e geleia real podemos estimar que cada produtor teve um prejuízo de cerca de R$ 20 a 40 mil. Além disso muitos produtores de mel alugam suas colmeias para os produtores de frutíferas o que gera uma renda extra”, conta ela.

Conforme dados da Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (Faasc), a média da produção de mel catarinense é de algo em torno de 6 mil toneladas por ano, já chegando a 8 mil toneladas na safra 2015/2016, um recorde que marcou SC com a melhor produtividade do país. A Federação salienta ainda que a apicultura está presente em 98% dos municípios catarinenses, com aproximadamente de 30 mil colmeias distribuídas entre mais de seis mil apicultores.

Água

Uma solicitação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) também revelou que 22 cidades catarinenses, de uma amostra de 100 municípios da Grande Florianópolis, Oeste, Sul, Vale do Itajaí, Norte e Serra, estão recebendo água com resquícios de agrotóxicos. São elas: Balneário Camboriú, Balneário Gaivota, Balneário Piçarras, Balneário Rincão, Coronel Freitas, Gravatal, Ibirama, Ilhota, Itapema, Ituporanga, Jaguaruna, Joinville, Mafra, Massaranduba, Orleans, Porto União, Rio do Sul, Schroeder, Itaiópolis, Rio Negrinho, Taió e Tubarão.

O professor e coordenador do curso superior de Tecnologia em Gestão Ambiental de Garopaba, Juliano Gomes, adverte que a água possui rotas, conforme seu uso, e que  alteram sua qualidade em cada etapa desse percurso. Ou seja, a água dos rios recebe matéria orgânica em decomposição das matas e florestas, enquanto que nas cidades e nos campos, ela recebe despejos de efluentes industriais, de drenagem e de esgoto urbano, assim como de agrotóxicos e de fertilizantes da agricultura.

Dessa forma, os agrotóxicos podem chegar aos rios pela chuva, pela pulverização aérea, ou pela absorção do solo, contaminando assim o lençol freático. O Dr. Zinger também citou essa contaminação dos mananciais hídricos superficiais e subterrâneos, como consequência do uso de agrotóxicos.

“Os inseticidas podem se acumular nos tecidos da flora e da fauna do ecossistema e serem transportados ao longo da teia alimentar, eliminando tanto os organismos alvos quanto os não alvos. Da mesma forma que podem se acumular no solo, nas águas subterrâneas e superficiais, e nos sedimentos, sendo potencialmente transportados pela água e pelo ar para áreas locais, regionais e até para países vizinhos. Isso pode representar ameaças a outros ambientes, que estão longe do ponto de contaminação”, alerta o professor Juliano Gomes, que já atuou em gestão de efluentes líquidos e atmosféricos, gestão de resíduos sólidos, licenciamento ambiental, e recuperação de áreas degradadas.

Controle

O professor Juliano destaca que dentre as medidas para amenizar os impactos decorrentes da aplicação de agrotóxicos estão a implementação de políticas públicas mais restritivas quanto ao uso, tendo como base aquelas realizadas em países desenvolvidos que já possuem o entendimento do prejuízo causado pelos agrotóxicos. Priorizar investimentos em pesquisa e produção de alimentos orgânicos e na agroecologia, visando uma mudança gradual de matriz produtiva; e recuperar, sob responsabilidade do poluidor, os ambientes afetados por agrotóxicos também estão entre ações de controle para atenuar a ação de agrotóxicos; da mesma maneira, como o  licenciamento ambiental obrigatório para todos os segmentos do agronegócio, incluindo o tratamento dos resíduos e efluentes gerados nos processos, e a penalização dos infratores de acordo com a legislação ambiental vigente.

Acesse a notícia completa na página do IFSC.

Fonte: Graziela Braga, Liane Dani, Débora Vargas, IFSC. Imagem: Wikimedia Commons.

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