Notícia

Adolescentes de Campinas têm alimentação pobre em nutrientes, aponta estudo

Nutricionista constata excesso de sódio e falta dos principais minerais na mesa dos jovens

Antonio Scarpinetti

Fonte

Unicamp | Universidade Estadual de Campinas

Data

sexta-feira, 15 junho 2018 09:00

Áreas

Nutrição Clínica. Nutrição de Coletiviades. Saúde Pública

Ingerir na alimentação diária ingredientes mais saudáveis e adequados não é privilégio de adolescentes de famílias mais favorecidas economicamente como se poderia inicialmente supor. Imperativos da vida moderna, globalização do consumo, barateamento dos alimentos industrializados, principalmente quando de qualidade inferior, determinam igualmente que adolescentes de todos os estratos sociais desenvolvam hábitos alimentares inadequados, fortemente relacionados ao excesso de peso e desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão e diabetes.

Tese desenvolvida pela nutricionista Regina Esteves Jordão no curso de Pós-Graduação em Ciências, na área de concentração da Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e orientada pelo Prof. Dr. Antonio de Azevedo Barros Filho, propôs-se a estimar o consumo de nutrientes por adolescentes de 10 a 18 anos, residentes no município de Campinas, SP.  O trabalho analisa a inadequação da ingestão dietética dos minerais: cálcio, fósforo, ferro, zinco, selênio e sódio, e das vitaminas: B12, C, D, E, tiamina, retinol e folato, no perfil de consumo alimentar dos adolescentes, em relação às Recomendações Dietéticas de Ingestão, segundo sexo, idade e nível de escolaridade do chefe da família.

Os resultados mostraram a inadequação devido à falta de consumo dos principais minerais considerados importantes na alimentação diária, com exceção do sódio, que é consumido em excesso, o que é preocupante, segundo a pesquisadora: “Cerca de 80% dos adolescentes avaliados possuem uma ingestão insuficiente de cálcio, lembrando que o pico de formação de massa óssea ocorre até os 18 anos, e junto com o fósforo participa da mineralização óssea, tendo como fonte o leite e derivados. O ferro, presente nos produtos cárneos e nas verduras escuras, é particularmente importante para as meninas que chegam à fase de reprodução, embora os níveis de deficiências observadas entre os adolescentes não resultem em anemias, no geral. Selênio e zinco são importantes antioxidantes e este último tem atuação fundamental na maturação sexual. Já o consumo em excesso do sódio, com destaque para os meninos, pode levar à hipertensão que começa a ter alta prevalência entre os adolescentes no Brasil”.

Quanto às vitaminas, mais de 80% do universo de adolescentes pesquisado não ingere vitaminas A, D e E suficientes. As vitaminas E e C são potentes antioxidantes e atuam na prevenção de doenças crônicas e a D é estudada hoje como um pró-hormônio, e a sua deficiência estaria relacionada ao aumento de peso. A vitamina A (retinol), encontrada nos alimentos naturais alaranjados, ricos em carotenoides, e em produtos de origem animal, está particularmente relacionada com a acuidade visual, que se revela um problema de saúde pública em algumas regiões do país. Já vitaminas do complexo B, como B1, B9 e B12, são importantíssimas na produção de energia, no metabolismo de proteínas e lipídeos e regulação do funcionamento do organismo. A carência da B12, encontrada em alimentos de origem animal, pode levar à anemia por estar relacionada ao desenvolvimento das células.

Com base no que já se conhece e nos resultados referendados, a pesquisadora diz que hoje a renda da família não determina hábitos alimentares saudáveis, mas que tendem a ser melhores em função do nível de escolaridade. Os produtos industrializados estão mais baratos e são acessíveis também aos segmentos de baixa renda, que compram bolachas, salgadinhos, frituras, sucos e refrigerantes açucarados mais populares, fugindo das marcas de maior projeção. Ela enfatiza: “Na área da nutrição não se fala mais em renda em relação a hábitos alimentares inadequados, mas em nível de escolaridade e por isso minha análise teve como foco a escolaridade do chefe da família, que pode ser pai, mãe, avós, e constatei que, quando esta é maior, a tendência é uma melhor ingestão dos nutrientes”. Chega-se então a um ponto fundamental, a importância da educação, não apenas alimentar e nutricional, porque o indivíduo mais instruído consegue acessar informações mais qualificadas e passa a ter melhor discernimento e conscientização das suas escolhas alimentares, o que ajuda, embora nem sempre seja o suficiente.

Ao estimar a alta carência de nutrientes necessários à manutenção de um organismo saudável na população de adolescentes de Campinas, ela conclui que o consumo das vitaminas e dos minerais analisados é muito inadequado, sendo pior entre as meninas, por não estarem comendo os alimentos que contêm os nutrientes de que necessitam. Imagina-se que as meninas são mais influenciadas por estereótipos como, por exemplo, a necessidade de ser magra, principalmente depois dos 13 anos.

A pesquisadora Regina Esteves preconiza a volta ao varejão e à cozinha e defende a qualidade de vida sem abrir mão do prazer de comer: “Precisamos buscar estratégias para tornar mais saudável o que se gosta de comer, como associar ao churrasco preparos com verduras, legumes e saladas”. O desafio é como chegar ao adolescente para que adote hábitos alimentares sadios, porque ele é afetado pela puberdade, pela necessidade de firmar sua identidade, de se inserir em um grupo social, de afirmar sua opinião em relação aos familiares, fatores que têm como agravante a falta de visão de futuro sobre a saúde, que muitas vezes, mesmo no adulto, só se manifesta quando ele começa a ser acometido por certos males.

Imagine-se isso no adolescente, cuja perspectiva está no hoje e não no que pode vir a acontecer 30 anos depois, diz a autora, que completa: “Mas, esses bons hábitos devem ser cultivados desde criança, na própria família, com o prazer da mesa, porém não basta ingerir pontualmente alimentos com conteúdo nutricional adequado à idade, é preciso que eles sejam consumidos com regularidade e nas quantidades adequadas”.

Tendências

A alimentação diária dos adolescentes com alimentos deficientes em vários nutrientes, considerados de baixa qualidade nutricional, refletirá de como será o adulto e idoso de amanhã. É importante que o adolescente tenha uma reeducação alimentar para que não se manifestem problemas futuros. Para a pesquisadora, os maus hábitos alimentares decorrem, em grande parte, porque diante dos ditames da vida moderna, o adolescente não é levado a sentar à mesa para comer com a família o que é feito em casa.

Para ela, as principais fontes de nutrientes adequados são os alimentos coloridos, que estão nos vegetais: legumes, verduras e frutas, em equilíbrio com outros alimentos. “A gente não come nutrientes e sim alimentos, e se há deficiência alimentar é porque as escolhas são equivocadas”.

Fontes

Os dados utilizados pela pesquisadora provêm do projeto ISACamp-nutri – 2015 e 2016,  pesquisa que tem o propósito de investigar o padrão de consumo alimentar e o estado nutricional de adolescentes, adultos e idosos, que é desenvolvida pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e coordenado pelo médico pediatra  Prof. Dr. Antonio de Azevedo Barros Filho. Esse projeto é um desdobramento do ISACamp, coordenado pela médica Profa. Dra.  Marilisa Berti de Azevedo Barros, do Departamento de Saúde Coletiva da FCM/Unicamp .

A população de adolescentes da cidade Campinas está representada na pesquisa nesse inquérito de base populacional, que utiliza uma amostra probabilística, com método transversal, que coleta apenas uma vez as informações do indivíduo. Para determinar o consumo alimentar, utilizou-se um recordatório de 24 horas, ou seja, o levantamento do que a pessoa comeu no dia anterior, especificando quantidade, hora e local em que se encontrava. As entrevistas foram realizadas todos os dias da semana para que fossem diluídas informações decorrentes de situações esporádicas. Esse detalhamento permitiu que os dados fossem convertidos em composição nutricional utilizando um software adquirido pela Unicamp com recursos da Fapesp, chamado NDS-R – Nutrition Data System For Research, da Universidade de Minnesota.

Acesse a notícia completa na página da Unicamp.

Fonte: Carmo Gallo Netto, Unicamp.  Imagem: Antonio Scarpinetti, Unicamp.

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