Notícia
Ação de bioinseticidas e a resistência por parte das pragas, problema que já afeta agrotóxicos tradicionais
Produtos biológicos criados a partir de microrganismos ou de moléculas deles derivadas são esperança para uma agricultura de menor impacto
Pixabay
Fonte
Jornal da UNESP
Data
quinta-feira, 20 abril 2023 14:25
Áreas
Agricultura. Agronomia. Biotecnologia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Ciências Agrárias. Nutrição Coletividades. Saúde Pública. Sustentabilidade
A necessidade de aumentar a produção de alimentos para atender ao crescimento da população humana, que deverá chegar perto dos 10 bilhões em 2050, e ao mesmo tempo diminuir o impacto dessas atividades sobre o ambiente, está levando empresas e pesquisadores a explorarem novas alternativas. Uma das vias mais promissoras envolve a substituição dos agrotóxicos pelos bioinseticidas, que são menos tóxicos e, por isso, menos danosos. Porém, um estudo que reúne pesquisadores da Unesp, do Reino Unido e da Suécia, liderado pela Universidade de Stirling, da Escócia, mostra que o uso destes produtos microbiológicos pode esbarrar em importantes obstáculos naturais, capazes de comprometer a sua funcionalidade.
Segundo artigo publicado por estes pesquisadores, será preciso começar a adotar estratégias para retardar o desenvolvimento, entre as populações das pragas, de resistência aos inseticidas, principalmente aqueles de origem microbiana. Esse problema afeta principalmente as plantas transgênicas e os agrotóxicos convencionais, mas pode ser evitado no caso dos inseticidas de base biológica, uma tecnologia emergente no setor agrícola que é vista como opção mais sustentável para a proteção das lavouras.
Resistência é observada em campo e no laboratório
Nos primórdios do uso dos bioinseticidas, acreditava-se que a resistência não seria um problema, fato refutado pelos autores com base em experiências em campo e em laboratório. Os pesquisadores mencionam, por exemplo, um bioinseticida adotado no início dos anos 1990, na Europa, para o combate de uma espécie de mariposa que ataca a macieira. Em meados dos anos 2000, observou-se a rápida evolução da resistência, ensejando a necessidade de troca do microorganismo em que o defensivo foi baseado, ou mesmo o desenvolvimento de outros produtos de base biológica para substituí-lo. Da mesma forma, tem-se observado o surgimento de resistência direcionada aquele que é provavelmente o bioinseticida bacteriano mais usado no mundo contra algumas espécies de insetos: o Bt, que é formulado a partir da bactéria Bacillus thuringiensis.
Bioinseticidas são produtos biológicos que combatem pragas que atacam a lavoura. Mas, diferentemente dos defensivos químicos, eles são formulados a partir de microrganismos ou de moléculas derivadas destes organismos, o que os torna menos agressivos ao meio ambiente do que os agrotóxicos convencionais. Essa classe de produtos microbiológicos é dividida basicamente em três grupos principais, com formulações baseadas em fungos, vírus, nematoides ou bactérias.
No Brasil, crescimento expressivo
O perfil mais sustentável dos bioinseticidas tem contribuído para que ganhem cada vez mais espaço no agronegócio, principalmente no Brasil. Especialistas apontam que, enquanto a fatia de produtos de origem biológica cresceu pouco mais de 10% no mundo nos últimos anos, no Brasil essa classe de insumos registrou um crescimento superior a 60% no período. Apesar do crescimento vertiginoso, cabe mencionar que todos os produtos biológicos (parasitoides, predadores e microrganismos) ainda representam apenas 4% de todo o mercado de defensivos agrícolas no país.
A proposta do artigo publicado na revista científica Trends in Ecology and Evolution é aproveitar o momento de aumento no emprego da tecnologia como uma janela de oportunidade para estimular certas práticas que os especialistas designam como manejo da resistência. De forma geral, o manejo da resistência é um conjunto de estratégias que visam reduzir a velocidade das mutações genéticas capazes de conferir aos organismos resistência aos defensivos aplicados no campo.
Um exemplo óbvio mencionado no artigo a ser adotado entre os produtores rurais – válido inclusive para os pesticidas convencionais – é promover uma rotação periódica entre diferentes princípios ativos de produtos que são usados na lavoura. O objetivo da medida é reduzir a intensidade da exposição das pragas a um mesmo princípio ativo e, assim, retardar a seleção a longo prazo dos indivíduos resistentes dentro da população.
Um dos autores do artigo é o agrônomo Dr. Ricardo Polanczyk, docente da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp. O Dr. Polanczyk aponta que, embora crescente, a indústria dos produtos biológicos ainda é relativamente pequena, o que pode dificultar a diversificação de produtos. “Acredito que esse problema deve se resolver à medida que as empresas ganhem mercado e diversifiquem o espectro de ação dos seus produtos. De qualquer forma, existe uma série de maneiras de manejar o combate às pragas. Quando não houver uma variabilidade entre cepas de um mesmo microrganismo, é possível variar entre os microrganismos, aplicando um bioinseticida à base de fungo, depois um a base de vírus, por exemplo”, explicou o docente, que conta com recursos da Fapesp e do Biotechnology and Biological Sciences Research Council (BBSRC), do Reino Unido, para o desenvolvimento do projeto de pesquisa ‘Aumentando a diversidade para superar a evolução da resistência‘.
Para além da diversificação dos princípios ativos presentes nos defensivos, os autores também sugerem como técnica de manejo da resistência a diversificação das culturas e, se possível, a rotação dos locais em que são cultivadas. Isso porque a expressão dos genes das pragas que atacam as culturas depende, entre outros fatores, da influência do ambiente em que o organismo está inserido, em um fenômeno chamado interação gene-ambiente. Isso ocorre, por exemplo, por meio da alimentação das pragas a partir das culturas que elas atacam. Os autores argumentam que a variação das paisagens e das suas áreas de cultivo ajudaria a impedir, portanto, que as mutações genéticas, ao longo de seguidas gerações, fossem selecionadas por uma única cultura. Em suma, ao mudar o habitat agrícola, mudam-se também os genes das pragas que são favorecidos pela seleção, e isso pode retardar o desenvolvimento da resistência.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página do Jornal da UNESP.
Fonte: Marcos do Amaral Jorge, Jornal da UNESP. Imagem: Pixabay.
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