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UFRGS: Estudo aborda a importância da revisão textual para a produção de trabalhos acadêmicos mais claros e compreensíveis
O trabalho de conclusão de curso (TCC) de Bianca Ractz, formanda de letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tem como tema a atividade do revisor de textos dentro da academia. A pesquisa de nome “Derrubando a Torre: o papel da revisão na acessibilidade de textos acadêmicos” aborda a importância de tornar a linguagem dos trabalhos acadêmicos mais acessível aos leitores e sugere como colocar essa teoria em prática. Quem lê o texto também é resultado de como ele é escrito.
A expressão “Torre de Marfim”, utilizada no título do trabalho, é um termo empregado para designar assuntos intelectuais amplamente desenvolvidos academicamente, mas que não interessam a população em geral. A expressão existe desde o século XVI na tradição judaico-cristã e é encontrada também na literatura do século XIX e presente até hoje em referências de livros e filmes. O bordão carrega uma conotação de elitismo acadêmico.
Bianca, hoje com 23 anos, atua como revisora e tradutora de textos freelancer. Durante sua graduação, trabalhou por dois anos como bolsista na gráfica da UFRGS e foi o tempo que permaneceu lá que lhe despertou o interesse pelo tema do seu TCC. Ela conta que a inacessibilidade dos textos que lia a deixava incomodada, uma vez que percebia que a linguagem utilizada não era a melhor para entender o conteúdo. “Um texto acadêmico deve ser o mais claro possível, já que faz parte do conhecimento produzido na universidade pública ser difundido para população em geral”, explica. Atualmente o trabalho do revisor de texto é focado em corrigir desvios gramaticais e seguir regras da Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT). Revisar a mensagem e avaliar se o conteúdo é compreensível não é visto como parte da função. Como expõe a estudante, “uma sintaxe correta não quer dizer que o texto esteja legível”.
No ponto de vista dela, o papel do revisor de texto é muito mais do que corrigir gramática; é uma forma de proporcionar um espaço de reflexão para quem escreve. O revisor assume um papel de leitor prévio, alguém que fornece antes da publicação a reação que o público terá ao texto. Bianca cita o viés cognitivo da “Maldição do Conhecimento”, que ocorre quando um indivíduo possui amplo domínio sobre determinado assunto, mas que, ao tentar se comunicar com outras pessoas, tem dificuldade de torná-lo simples e explicá-lo. É estar tão envolto com o próprio saber que não se consegue difundi-lo aos outros.
Um exemplo da preferência da academia por textos exageradamente rebuscados – e não necessariamente entendíveis – foi o “Caso Sokal”, de 1996. Alan Sokal, físico e professor da Universidade de Nova Iorque e da University College London, havia apresentado um artigo para a revista acadêmica de estudos culturais pós-modernos Social Text. O texto “Towards a transformative hermeneutics of quantum gravity” (Através de uma hermenêutica transformativa da gravidade quântica, na tradução para o português) foi aceito e publicado, mas o trabalho afirmava que a gravidade não passa de uma construção social. O físico queria testar o rigor intelectual da revista e provar que muitas vezes a academia perde o foco do conteúdo para a linguagem elaborada demais. No dia da publicação do artigo, Sokal revelou que era tudo uma experiência – e que se confirmou mais do que o esperado.
Um trabalho acadêmico é como um livro: só se comunica com o público e exerce sua função de instruir a sociedade quando é lido e – principalmente – entendido pelo público. Conforme afirma o professor Dr.Luiz Cláudio Martino, da disciplina de Teorias e Epistemologia da Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), no livro “Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências”, a atividade do leitor é imprescindível para a informação virar comunicação. E, para que isso ocorra, o enunciado precisa ser acessível a todos os leitores.
Acesse a notícia completa na página da UFRGS.
Fonte: Mariana Bier, UFRGS. Imagem: Rochele Zandavalli, UFRGS.
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