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Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A precisa de monitoramento urgente
De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado no início de junho pela Rede PENSSAN, 15,5% dos brasileiros vivem em insegurança alimentar grave, o equivalente à situação de fome. Os dados mostram um aumento vertiginoso comparado aos resultados da última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF-2017-2018) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou que 4,6% dos brasileiros viviam nessa circunstância. Isso, evidentemente, condiciona o país a uma situação alarmante em diversas avaliações nutricionais, e que pode ser exemplificado pelo alto número de pessoas com deficiência de vitamina A.
Segundo a POF-2017-2018, divulgada em outubro de 2019, mais de 80% dos homens (adultos, idosos e adolescentes) e 72% das mulheres (índices de, 80,1% em adultas, 78,9% em adolescentes e 72,3% em idosas) estavam com concentrações de vitamina A aquém do indicado no sangue. Isso pode acarretar, principalmente, em problemas na visão como, por exemplo, na penumbra, também conhecida como cegueira noturna; afetar o desenvolvimento do organismo (proliferação e diferenciação celular) e diminuir a imunidade. “Os índices são reflexo do momento econômico do país. Não tenho dúvidas de que a situação em 2022 está ainda mais grave”, afirmou a Dra. Silvia Franciscato Cozzolino, pesquisadora do Centro de Pesquisas em Alimentos (FoRC – Food Research Center) e docente da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP).
Crianças, maior risco – Embora os relatórios citados não tragam dados sobre a deficiência dessa vitamina em crianças, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de um terço das crianças entre seis meses e cinco anos no mundo sofrem dessa deficiência. Esse é o grupo em que o problema se torna mais urgente de ser resolvido. “Podemos dizer que as crianças são o principal grupo de risco. Nelas, a falta de vitamina A pode levar à cegueira total, além de afetar o crescimento e a imunidade do organismo”, apontou aDra. Cozzolino.
É essencial também que gestantes e lactantes estejam com as concentrações de vitamina A adequadas, pois sendo uma vitamina lipossolúvel ela pode ser acumulada no organismo, e assim, garante-se um suprimento adequado para a criança de até seis meses de idade, aproximadamente. “O leite materno é a principal forma para aquisição do nutriente para as crianças de até dois anos. Ele supre a maior parte das necessidades dessa vitamina na criança. Entretanto, se a mãe tem deficiência tanto durante a gestação como após o parto, a criança vai apresentar deficiência com graves consequências”, acrescentou a pesquisadora.
Programa sem avaliação – Além da melhora da situação socioeconômica do país para diminuir a insegurança alimentar, é necessária uma atenção maior ao Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A (PNSVA). O projeto criado pelo Ministério da Saúde em 2005 oferece, a cada quatro meses, suplementação com doses de 100.000 Unidades Internacionais (UI) e 200.000 UI para crianças de seis meses a cinco anos. Essa quantidade é suficiente para garantir as concentrações necessárias de vitamina A pelo período.
Segundo a Dr. Patrícia de Carvalho Rondó, professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP, o PNSVA atua nos locais de maior vulnerabilidade do país, como as Regiões Norte e Nordeste e alguns municípios do Centro-Oeste, Sul e Sudeste. “No entanto, não temos ferramentas para avaliar se o programa tem funcionado conforme o esperado. Infelizmente faltam avaliações periódicas que deveriam ser realizadas pelos governos federal e estaduais juntamente com pesquisadores, gestores e os municípios”, afirmou a professora.
Cautela na suplementação – A suplementação é uma medida emergencial, como nos casos cobertos pelo PNSVA, que deve ser adotada com muita precaução. A suplementação deve ser avaliada e acompanhada por profissionais da saúde, pois doses altas de vitamina A podem levar à toxicidade. Isso compromete o sistema nervoso, gerando náuseas, dores de cabeça, anorexia e problemas na coordenação motora; no fígado pode gerar um aumento acima do normal do órgão; nos ossos gera dores nas articulações, espessamento dos ossos longos; e na pele causa secura excessiva, escamação e rachaduras, descamação e alopecia.
“Como forma de prevenção, a indicação é que a vitamina seja suprida, fornecida ou obtida por meio da alimentação. Os suplementos são indicados quando existe deficiência comprovada por meio de exames clínicos e bioquímicos. No caso de idosos, deve-se ter ainda maior cuidado pois pode levar a toxicidade”, afirmou a Dra. Cozzolino. Caso a suplementação seja recomendada, é preciso estar atento ao tipo de suplemento adquirido bem como sua dosagem. É o profissional de saúde quem pode indicar o melhor produto individualizado para o paciente.
Fontes da Vitamina A – A vitamina A é um termo que abrange o conjunto de quatro compostos da classe dos retinoides: retinol todo-trans, ácido retinóico, retinal e éster de retinila. Esses compostos não são produzidos pelo organismo e precisam ser obtidos pelos alimentos. Para ajudar na sua absorção, é importante ingerir também os carotenoides, em especial os betacarotenos, que são pigmentos encontrados principalmente nos vegetais de cores verde escuras e amareladas, e frutos, como cenoura, batata-doce, manga, espinafre e brócolis. Eles são fontes precursoras de vitamina A, isto é, podem se transformar em vitamina A no organismo.
Já as fontes de vitamina A pré-formadas são de origem animal. As carnes de fígado (bifes de fígado de boi e frango, e óleo de fígado de peixe) contém as maiores concentrações de retinoides, que também se encontram em laticínios e ovos.
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Fonte: Alimentos Sem Mitos, FoRC.
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