Consumo Consciente

Projeto Sabão Ecológico: uma estratégia educacional para a reciclagem do óleo de cozinha no município de Viçosa

O descarte inadequado de resíduos de óleo de cozinha usado pode causar danos ambientais no local onde é depositado

Pixabay

Fonte

ELO Diálogos em Extensão – UFV

Data

25 janeiro 2018

Áreas

Nutrição de Coletividades

Segundo o Artigo 225 do Capítulo VI da Constituição Brasileira de 1988, todos os brasileiros têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo responsabilidade tanto do Poder Público quanto da coletividade defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. No parágrafo 1º deste mesmo artigo, é mencionado que uma das formas de se assegurar a efetividade desse direito inalienável de qualquer cidadão é o Poder Público promover a educação ambiental, em todos os níveis de ensino, e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, é de responsabilidade do poder público, de iniciativas privadas e da coletividade a efetivação das ações asseguradas por este mesmo documento, que incluem, o estímulo à adoção de práticas sustentáveis, incentivo à indústria de reciclagem, redução do volume de resíduos gerados e capacitação contínua sobre os resíduos sólidos.

Segundo Nelson Mandela, a educação é o instrumento com maior potencial transformador da sociedade, consistindo, portanto, de uma ferramenta capaz de garantir a segurança ambiental para as futuras gerações, catalisando a mudança comportamental dos indivíduos e, por conseguinte, modificando a maneira como o ser humano se relaciona com o meio ambiente. Assim, a educação ambiental pode ser vista como um meio seguro de se implantar o ideal transformador nos indivíduos e, por conseguinte, promover a conscientização necessária para garantir esse direito assegurado pela própria Constituição do Brasil.

De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental – Lei n° 9795/1999, Artigo 1º:

Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Já as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental indicam uma definição um pouco distinta da anterior, permitindo uma visão um pouco mais ampla e complementar à oferecida pela Política Nacional de Educação Ambiental:

A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental.

Em razão disso e com a ideologia de que não cabe somente ao Poder Público e às empresas privadas trabalhar pela preservação do meio ambiente, sendo incumbência de todos trabalharem em prol do ambiente em que vivemos, a ONG Engenheiros Sem Fronteiras – Núcleo Viçosa, desenvolveu o Projeto Sabão Ecológico por meio de práticas sociais que prezem pela sustentabilidade. Esse projeto foi idealizado para propiciar um descarte correto para o óleo de cozinha usado, no município de Viçosa, Minas Gerais. Para isso, foram realizadas oficinas que ensinaram aos participantes a produção do sabão ecológico e informaram a eles os danos ao meio ambiente causados pelo descarte inadequado desse resíduo que também afeta a saúde humana.

A prática de fritura, comumente utilizada no preparo de alguns alimentos, é realizada diariamente em diversos lares brasileiros, gerando, anualmente, cerca de 9,0 bilhões de litros de óleo de cozinha, sendo que destes estima-se que apenas 2,5% são reciclados, havendo a possibilidade de o restante ser descartado, de maneira inadequada, no meio ambiente.

O óleo não reciclado, descartado indevidamente, provoca danos ambientais e sociais graves, tal como o entupimento de caixas de gordura e tubulações da rede de esgotos, o que produz uma pressão que contribuirá para a infiltração desse óleo no solo, podendo atingir lençóis freáticos ou gerar um refluxo do esgoto à superfície através da própria rede. A contaminação das águas próximas ao local de descarte de um litro de óleo pode infectar cerca de um milhão de litros de água, volume correspondente ao que um indivíduo consome durante, aproximadamente, quatorze anos de sua vida.

À vista disso, o Projeto Sabão Ecológico tem-se mostrado uma alternativa sustentável para o descarte de óleo usado, reduzindo o impacto ambiental que este pode trazer para o município de Viçosa e regiões vizinhas, além de ser uma ferramenta educacional capaz de melhorar a maneira como os envolvidos se relacionam com o ambiente à sua volta, garantindo uma maior segurança ambiental aos locais impactados e suas proximidades.

Resultados e Discussão Consumo e descarte de óleo de cozinha em Viçosa e região

O Projeto Sabão Ecológico aplicou um questionário on-line entre os dias 1 de maio de 2017 e 30 de junho de 2017 com o intuito de obter informações para mensurar o consumo de óleo e avaliar a maneira como este é descartado na cidade de Viçosa, conforme já foi explicitado.

Esse questionário foi respondido por indivíduos de 14 a 50 anos, dos quais 77,9% são estudantes de ensino médio ou superior (graduação e pós-graduação). Este dado reflete a realidade de Viçosa, cidade que possui uma população estimada de 78.381 de pessoas (IBGE, 2017), mas que se calcula que, desta parcela, cerca de 20 mil habitantes seja composto por uma população flutuante significativa formada por estudantes, tendo em vista que abriga duas universidades, a Universidade Federal de Viçosa e a Univiçosa.

Segundo a pesquisa, 62,3% dos indivíduos consomem menos de 1 litro de óleo de cozinha por mês, 23,6% consomem entre 1 e 2 litros de óleo e 14,1% consomem mais de 2 litros de óleo mensais, indicando um baixo consumo deste item. Este dado pode ter relação com a grande quantidade de estudantes que participaram da pesquisa, já que esta parcela populacional consome poucas refeições em casa, sendo estas, majoritariamente, compostas por café da manhã e lanches, que não utilizam o óleo como ingrediente.

Sobre o preparo de alimentos, foi constatado que 8,5% dos moradores não fazem frituras em casa, como consequência, eles não geram óleo para descarte. Além destes, 55,7% dos entrevistados raramente fazem fritura e 25,5% fazem fritura cerca de uma vez por semana, produzindo um pequeno volume de óleo para descarte. Por último, tem-se que 10,3% fazem fritura cerca de três vezes ou mais por semana. O óleo proveniente desse percentual da população pode impactar negativamente o ambiente que os cerca, caso os mesmos não possuam consciência ambiental.

Em relação ao descarte do óleo usado, os resultados indicaram que 23,6% dos indivíduos o descartam diretamente na pia, poluindo as águas de abastecimento da região e 28,3% o descartam no lixo, acondicionado em uma garrafa pet. Em longo prazo, este descarte pode poluir o solo, alcançando o lençol freático. Por fim, 0,9% o descartam, diretamente, no solo, poluindo o solo e o lençol freático. Esses dados representam 52,8% dos indivíduos entrevistados que praticam um descarte inadequado do óleo e prejudicam tanto as águas como o solo da região onde vivem, provavelmente devido à falta de conhecimento a cerca dos malefícios que essa prática pode proporcionar .

Apesar dos dados coletados, 100% dos entrevistados sugeriram um descarte ecologicamente correto, quando foram questionados sobre o melhor destino para o óleo usado. A sugestão mais frequente foi a produção de sabão, seguida pela produção de combustível, que são produtos que podem ser fabricados de maneira sustentável através do processo de reciclagem do óleo de cozinha. Isto permite inferir que mesmo a parcela que atualmente pratica um descarte inadequado, está disposta a aprender novas formas de lidar com o meio ambiente, promovendo, de fato, sua preservação.

Como o foco maior deste projeto é a produção de sabão a partir de óleo usado, buscou-se averiguar qual o conhecimento que os entrevistados possuíam desse método de reciclagem do óleo.

Foi verificado que 84,9% dos entrevistados conhecem pelo menos uma pessoa que sabe fazer sabão à base de óleo. Deste total, 29,2% conhecem mais de cinco pessoas que sabem fazer sabão. Ainda foi observado que 74,5% dos indivíduos já usaram sabão feito à base de óleo usado, sendo que destes, 70,9% gostaram do produto. Dos 25,5% que nunca usaram este tipo de sabão artesanal, 88,9% usariam o sabão para, em princípio, experimentar o produto. Estes dados demonstram a aceitação deste produto artesanal entre a população pesquisada, reforçando a utilização deste método de reciclagem como o ideal, que, além desses fatores, ainda mostra uma alternativa a ser empregada para a economia de água, devido a um menor índice de espuma que produz.

Objetivando verificar a importância das oficinas do projeto em questão, foi constatado que 52,8% dos indivíduos entrevistados afirmaram que gostariam de aprender a fazer o sabão. Dos indivíduos que não mostraram interesse neste aprendizado, 24,5% já sabem fazer o produto. Portanto, os dados indicam que o projeto ainda tem um público interessado nas oficinas, bem como no contato com a produção de sabão como medida de preservação ambiental.

Conclusões

A utilização da educação com ferramenta para garantir o direito inalienável de todo cidadão de usufruir de um meio ambiente equilibrado em termos ecológicos têm se mostrado de grande importância na obtenção de resultados promissores no que tange à conscientização ambiental da sociedade.

O Projeto Sabão Ecológico, baseado nos pilares da educação e sob a crença de que a preservação ambiental é um dever de todos, atuou na promoção do desenvolvimento socioambiental de Viçosa e suas ações, portanto, se mostraram essenciais em uma sociedade cujo comportamento frente ao meio ambiente tem se mostrado inadequado. Neste contexto, a educação ambiental como ferramenta transformadora, auxiliou a comunidade envolvida a modificar o seu comportamento na busca de uma maior segurança ambiental e propôs, também, uma forma de obter maior segurança financeira, com a economia no orçamento ou mesmo com a geração de receitas proporcionada pelo sabão produzido.

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Fonte: Diálogos em Extensão, UFV   Imagem: Pixabay

 

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