Notícia

Pesquisa identifica impacto da mineração em alimentos

Há espécies que, apesar da toxicidade dos metais pesados identificados no solo, conseguem se desenvolver com uma aparência robusta e saudável

Wikimedia Commons com adaptações

Fonte

UFSC | Universidade Federal de Santa Catarina

Data

segunda-feira, 4 setembro 2023 14:35

Áreas

Agricultura. Agronomia. Biotecnologia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Ciências Agrárias. Saúde Pública. Sustentabilidade

Plantas usadas como alimentos e chás podem estar contaminadas pelos chamados “elementos traço” em áreas da região carbonífera, no sul de Santa Catarina. A constatação foi divulgada em uma série de artigos e na tese da cientista Dra. Graziela Dias Blanco, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina. O impacto das atividades de mineração, além dos prejuízos ao meio ambiente, também pode chegar à saúde. O estudo ‘Soberania, segurança alimentar e ecotoxicidade de alimentos e plantas medicinais consumidos por comunidades locais em áreas de mineração‘ foi orientado pela professora Dra. Natalia Hanazaki, com co-orientação da professora Dra. Mari Lucia Campos.

Pelo menos 65% dos habitantes da região mapeada pela pesquisa relataram coletar plantas para uso medicinal e alimentar diretamente de áreas contaminadas pela atividade mineradora. “As pessoas que vivem nas proximidades de áreas contaminadas pela mineração usam e consomem plantas destes ambientes e as pessoas sabem pouco sobre o potencial perigo dessa contaminação em seus alimentos e o risco desses contaminantes para sua saúde”, assinalou a pesquisadora no estudo.

A Dra. Graziela Blanco se interessou pelo assunto quando foi visitar a região de Criciúma, Lauro Muller e Siderópolis em busca de dados para uma pesquisa sobre plantas medicinais. No entanto, ao chegar ao local, percebeu um mosaico de áreas impactadas pela atividade mineradora e mudou o objeto de investigação. “A gente vê, por exemplo, moradias na cidade de Criciúma muito próximas à área de mineração abandonada, sem avisos ou preocupação. É uma situação extremamente grave”, analisou a pesquisadora.

Ela fez 195 entrevistas com moradores de 14 áreas próximas a minas abandonadas nos principais municípios da região carbonífera catarinense. “Perguntamos a cada entrevistado sobre o tempo que morava na região, sua percepção da qualidade do ambiente, quais espécies de plantas eram utilizadas e com que finalidade”, contou a Dra. Graziela Blanco. Carqueja, goiabeira e erva-doce foram algumas das espécies citadas.

Nas entrevistas, ela também identificou que todos os homens e nenhuma das mulheres trabalhavam ou já haviam trabalhado em mineradoras. Em Santa Catarina, existe um plano de recuperação para essas áreas em razão de uma ação do Ministério Público Federal, que exigiu que as empresas e a União recuperassem as áreas degradadas pela mineração, áreas com depósitos de rejeitos e minas abandonadas. Os recursos hídricos das bacias dos rios Araranguá, Urussanga e Tubarão também foram indicados como foco da ação.

No estudo, a pesquisadora lembra que as atividades de mineração geram conflitos socioambientais no mundo todo. Em SC, há casos recentes de comunidades exigindo providências para recuperação de danos ambientais decorrentes da atividade. Entre os impactos mais evidentes, estão a remoção da vegetação local, intensificação na emissão de CO2 e contaminação do solo e recursos hídricos por elementos-traço.

A Dra. Graziela Blanco combinou informações de entrevistas e da coleta de plantas e do solo na região carbonífera e analisou se o consumo de uma espécie de carqueja (B. sagittales) representava um risco para a saúde humana. Entre os elementos analisados, o Cádmio (Cd) e o Chumbo (Pb) apresentaram níveis superiores aos recomendados por três agências globais de saúde. O cádmio, em exposições elevadas, pode ser prejudicial ao rim e ossos. Já o chumbo pode prejudicar uma série de funções, atingindo cérebro, sangue e sistemas digestivo e reprodutor.

Consumo

Na investigação, a pesquisadora também demonstra que Cd e Pb apresentaram níveis elevados nas projeções de ingestão diária do chá de carqueja, recomendadas por agências internacionais de saúde, sendo citada por 53,8% dos entrevistados que consomem esta plantas.

A carqueja é amplamente consumida na região, sendo utilizada no preparo de chás e no consumo do chimarrão. “Nosso estudo demonstra que o consumo de B. sagittalis contaminado com elementos-traço pode são um alerta para a saúde, pois esses elementos se acumulam no organismo humano”.

Segundo a pesquisadora, grande parte das áreas estão sob responsabilidade da União, mas não há cercas nem sinalização dos riscos que podem gerar. Para ela, esse é um dos principais problemas: a ausência de informações. “Nas entrevistas, eu perguntava se as pessoas sabiam que poderiam existir riscos, se alguém já tinha ido conversar sobre a presença de metais na área. 100% das respostas foi não”.

Segurança alimentar de Povos Indígenas e Comunidades Locais (PICLs)

O estudo da Dra. Graziela Blanco indica que a combinação de mineração, desigualdade social e políticas ambientais insuficientes causam um impacto negativo significativo na segurança alimentar da comunidade. “Buscamos entender quais fatores poderiam estar influenciando no uso desses recursos, mesmo em áreas visivelmente impactadas”, disse a pesquisadora.

Acesse a notícia completa na página da UFSC.

Fonte: Amanda Miranda, Agecom – UFSC.  Imagem: Wikimedia Commons com adaptações.

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