Notícia
Processo 100% ecológico obtém corante natural a partir de resíduos da uva
Com o novo processo, os corantes naturais atingem uma pureza de 90%, garantindo uma cor viva e mais estável
Kai-Chieh Chan, via Pexels
Fonte
Unicamp | Universidade Estadual de Campinas
Data
terça-feira, 4 abril 2023 09:45
Áreas
Biotecnologia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Engenharia de Alimentos. Sustentabilidade
De vegetais, frutas e legumes, é possível extrair inovações da natureza: corantes orgânicos, que podem substituir versões sintéticas (artificiais) e que já contam com alta aplicabilidade, em diversas indústrias: da têxtil à alimentícia. Mas um corante natural pode ser instável a depender das condições de luz e temperatura do meio em que é aplicado, sendo um desafio estabilizar suas características – processos que, muitas vezes, exigem um gasto maior de energia e um maior uso de recursos orgânicos, o que provoca impactos negativos no meio ambiente.
Para resolver esse problema, pesquisadores da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), ambas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desenvolveram uma alternativa mais rápida e natural para a criação de corantes a partir da casca de uva, que contém o componente antocianina, responsável pela cor da fruta.
O Dr. Maurício Ariel Rostagno, professor da FCA e um dos inventores da tecnologia, destaca que a proposta é 100% ecológica, já que a resina aplicada na purificação pode ser reutilizada por oito ciclos diferentes sem que haja a perda de sua eficiência.
“Temos uma proposta que é muito mais sustentável para o meio ambiente e mais saudável para as pessoas. Afinal, corantes sintéticos provocam grande preocupação pelos riscos de alergia e impactos na saúde. E as empresas começam a ser cobradas sobre isso, o que nos leva a ter uma grande demanda de mercado. Procuramos formas mais eficientes e mais verdes para purificar esses compostos, com menor impacto ambiental e custo mais baixo”, comentou o pesquisador.
A nova tecnologia, que teve pedido de patente depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) com estratégia da Agência de Inovação Inova Unicamp, é um processo rápido que não utiliza solventes orgânicos de alta volatilidade e apresenta resultados muito mais estáveis do que os pigmentos obtidos com a extração por meio de etanol ou água.
Além disso, o processo não demanda equipamentos sofisticados e nem mão de obra especializada.
“Um ponto importante desse processo é a estabilidade. Conseguimos ter um alto rendimento e uma alta pureza, ao mesmo tempo em que aumentamos a estabilidade dos compostos, obtendo uma estabilidade maior do que a dos processos convencionais. Temos uma recuperação acima de 90% dos solventes”.
Desafios da indústria
O uso de corantes naturais é uma prática antiga da humanidade. No entanto, o uso foi perdendo força com o avanço dos corantes sintéticos, que ofereciam cores mais estáveis do que os produtos naturais.
Mas a pigmentação de alimentos e tecidos com corantes artificiais exige elevado gasto energético e a aplicação de solventes orgânicos e estabilizantes químicos com alta toxicidade e altos níveis de contaminação da água. Os solventes utilizados também não promovem um alto rendimento de extração ou seletividade no processo, o que demanda a aplicação de novas etapas subsequentes de purificação.
Só na indústria têxtil, cerca de 90% do consumo de água ocorre no processo de tinturaria e acabamento, encarecendo esse processo e produzindo resíduos em excesso. Além disso, são produtos que surgem a partir da extração de petróleo, uma fonte de energia não renovável.
Cores vivas e ecológicas
Com o novo processo, os corantes naturais atingem uma pureza de 90%, garantindo uma cor viva e mais estável. Os solventes também permitem o uso dos corantes em altas temperaturas, o que amplia as possibilidades do seu uso pela indústria.
O Dr. Maurício Rostagno destaca ainda como benefício da nova tecnologia o aproveitamento de resíduos da fruta que muitas vezes são descartados no setor agrícola e que, agora, podem ser aproveitados como matéria-prima para novos produtos, o que também contribui para um melhor aproveitamento dos recursos naturais.
“Recuperar esses compostos, que seriam descartados como adubo, gera muito mais valor agregado à produção da uva. Além de toda a reciclagem dos absorventes que permanece durante o processo desenvolvido na Unicamp”, explicou o pesquisador.
Além do Dr. Maurício Rostagno, participaram do desenvolvimento da tecnologia o Dr. Leonardo Mendes de Souza Mesquita, Dra. Juliane Viganó, a doutoranda Letícia Sanches Contieri e o doutorando Vitor Lacerda Sanches.
Acesse a notícia completa na página da Unicamp.
Fonte: Leonardo Scramin e Agnes Sofia Guimarães – Comunicação Inova – Unicamp. Imagem: Kai-Chieh Chan, via Pexels.
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