Notícia
“Solos negros” fundamentais para a segurança alimentar e controle das mudanças climáticas
Professor da UFSM representa o Brasil na Rede Internacional de Black Soils e fala sobre a importância da preservação dessas áreas
Wikimedia Commons
Fonte
UFSM | Universidade Federal de Santa Maria
Data
segunda-feira, 19 dezembro 2022 16:50
Áreas
Agricultura. Agronomia. Ciências Agrárias. Sustentabilidade
Em meio às consequências das mudanças climáticas e da insegurança alimentar, pesquisadores do mundo todo se mobilizam para pensar estratégias de desenvolvimento sustentável para o futuro. A Rede Internacional de Solos Negros (INBS), órgão integrante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), é uma dessas iniciativas que reúne especialistas para discutir questões relacionadas à conservação e ao manejo dos chamados black soils.
Os solos negros são caracterizados pela cor escura e se destacam pelo alto potencial de armazenamento de carbono, característica fundamental na luta contra as mudanças climáticas. Isso porque, ao aumentar os estoques de carbono no solo, os níveis de dióxido de carbono (principal gás responsável pelo efeito estufa) são reduzidos na atmosfera. Além disso, a presença do carbono no solo traz melhorias em suas propriedades físicas, químicas e biológicas, tornando-o mais produtivo e fértil.
Mas, segundo a FAO, os solos negros estão sob ameaça. Atualmente, parte do solo preto é usada para produção agrícola de forma inadequada, o que contribui para a degradação severa de grandes extensões de terra.
O professor Dr. Ricardo Bergamo Schenato, coordenador do Núcleo de Estudos e Pequisas em Recuperação de Áreas Degradadas (Neprade) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), foi indicado pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) para ser o representante do Brasil na Rede que busca uma colaboração global para pensar o uso dos solos negros. A Revista Arco conversou com o professor Ricardo para entender mais sobre o assunto:
Arco: Poderia explicar sobre as principais pesquisas que você desenvolve atualmente?
Dr. Ricardo: As principais pesquisas que realizamos são para entender o solo dentro da sua variabilidade no espaço e no tempo. Nesse contexto, precisamos compreender o solo como um componente da natureza que é essencial para a vida como conhecemos no nosso planeta, por isso, (re)conhecer suas múltiplas funções, medir diversas variáveis, restaurar sua capacidade de suportar a vida são muito importantes não só como linha de pesquisa, mas para a nossa sobrevivência. No setor de Pedologia [ciência que estuda o solo] e junto ao Neprade, as minhas pesquisas são direcionadas a entender como o solo funciona na paisagem e na modelagem do carbono em diferentes contextos ambientais, e como preservá-lo.
Arco: O que são os “black soils” e onde se localizam?
Dr. Ricardo: Os black soils são um tipo especial de solo cujas características principais são ter uma camada superficial de cor preta e enriquecido com carbono até 25cm de profundidade. Esses solos são encontrados em diversas regiões do planeta, existe uma área de aproximadamente 725 milhões de hectares, o que compreende 7% dos solos do mundo. Cerca de metade desses solos estão no território da Rússia, seguido por Cazaquistão e China. Outros países em que eles ocorrem são Argentina, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Hungria, Indonésia, Polônia, Ucrânia, Estados Unidos, Brasil, entre outros.
Arco: Qual é a importância da preservação destes solos?
Dr. Ricardo: Os black soils têm uma importância muito grande na segurança alimentar e nas mudanças climáticas. Eles são essenciais para sustentar a produção de alimentos, a diversidade da vida e uma série de serviços ecossistêmicos. Em muitos países eles são considerados a “cesta de alimentos”, pois são os solos que sustentam a produção agrícola, garantem os alimentos à população e sustentam boa parte da economia. Para se ter uma dimensão da importância desses solos, podemos citar alguns dados: aproximadamente 66% da produção de sementes de girassol, 30% da produção de trigo e 26% da produção de batata no mundo provêm dos black soils. Milho, cevada, soja, pastagens e algodão são outros exemplos de culturas desenvolvidas sobre eles. Além disso, muitas comunidades vivem sobre esses solos, como é o caso de 93% da população da Moldávia e 52% da população da Ucrânia. Não é por acaso que dois terços desses solos são usados com a agricultura e parte dessa fração encontra-se ameaçada pela degradação do solo.
Arco: Pode explicar como se dá a relação desse tipo de solo com as mudanças climáticas e a segurança alimentar?
Dr. Ricardo: Devido a essa característica especial, de conseguir armazenar grande quantidade de carbono, os black soils são grandes reservas de carbono no nosso planeta. Na Europa, por exemplo, esses solos são responsáveis por metade do potencial de sequestro de carbono do continente. Em um planeta que já experimenta as consequências das mudanças climáticas, a capacidade de manter o carbono no solo é a diferença entre o planeta que conhecemos hoje e um planeta com grandes áreas em que a agricultura se inviabilize como resultado de mudanças nos padrões de chuva e temperatura. Por isso, conhecer, preservar e desenvolver processos tecnológicos para a agropecuária em áreas de black soils é vital.
Em relação à segurança alimentar, o fundamental é que esses solos são muito férteis e, consequentemente, muito produtivos. O próprio teor alto de carbono já garante uma boa capacidade de armazenar nutrientes e água, mas os black soils, em sua maioria, ainda são ricos em nutrientes essenciais às plantas, como o potássio e o fósforo. Essas características permitem aos agricultores boas colheitas com menor dependência de insumos externos.
Acesse a notícia completa na página da UFSM.
Fonte: Entrevista – Caroline de Souza. Luciane Treulieb – Edição Geral, Revista Arco. Imagem: Wikimedia Commons .
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